Redação SI (Edição 171/2003) – Na primeira semana de junho o baixo preço pago pela arroba do suíno vivo desapontou a totalidade dos suinocultores brasileiros. Apesar da expectativa de melhora, decorrente da redução do estoque de carne suína dos frigoríficos e da chegada do inverno, que sempre representa um aumento de consumo, a cotação de preços no mês de junho continuou insatisfatória. Céticos, dirigentes de entidades suinícolas e produtores justificam com a queda do poder de compra da população brasileira à derrocada da demanda.
Mês de julho, esperança renovada. Mas nova decepção. A demanda não reagiu e o preço de mercado permaneceu nos mesmos níveis. O desequilíbrio entre os custos de produção e os preços praticados pelo suíno vivo, a dificuldade na aquisição de milho e o achatamento salarial da população são alguns dos fatores que tornam a suinocultura uma atividade quase impraticável no Brasil.
Não prezado leitor, não estamos falando da situação da suinocultura brasileira em 2003. Os problemas supracitados, apesar de bastante atuais, eram enfrentados pelos suinocultores nacionais há 16 anos. Em 1987, a revista Suinocultura Industrial veiculava em suas páginas uma matéria que falava sobre a alarmante situação vivida pelo setor suinícola naquele ano. Com o título “Situação quase insustentável”, o texto trazia a íntegra de um documento entregue por Werner Meinke, então presidente da Associação dos Criadores de Suínos do Rio Grande do Sul (Acsurs) ao ministro da Agricultura da época, Íris Rezende, e que chama a atenção pela atualidade de seu conteúdo. “O suinocultor está enfrentando um período de grandes dificuldades em função do forte desequilíbrio que se verifica entre os custos de produção e os preços praticados em nível de frigoríficos pelo suíno vivo, não obstante os preços dos produtos industrializados e da carne permitem à indústria remunerar melhor os produtos. Tal situação está proporcionando um grande desestímulo aos produtores, que estão reagindo com o abate de matrizes que de 1,5% passou para 6%”, dizia o documento.
Num paralelo sobre a crise de 1987 e a crise de 2002/2003, Meincke ressalta que esta última foi agravada pela falta de planejamento do setor de insumos, dos estoques reguladores e da própria produção da carne suína. Algo muito semelhante ao ocorrido há 16 anos. Para ele, a suinocultura brasileira, historicamente, é caracterizada por altos e baixos. “A falta de organização da cadeia, a falta de estatísticas precisas sobre o setor e a falta de programação na produção são os principais fatores que contribuem para períodos de crise, como este que vivemos agora”, avalia o atual vice-presidente da associação gaúcha e diretor executivo de uma das mais conhecidas empresas da suinocultura brasileira.
Apesar das coincidências, a suinocultura brasileira vive na virada deste semestre uma situação de grande expectativa. Depois de dois longos anos enfrentando esta que é considerada a pior crise de sua história, o setor pelo menos tem alguns motivos para começar a acreditar que a atual situação pode mudar. A liberação, por parte do governo, da linha de crédito de R$100 milhões com prazo de pagamento de 24 meses e taxa de juros de 8,75% ao ano para os produtores suinícolas, a tendência de queda do preço do milho decorrente da maior oferta e a inclusão da carne suína na merenda escolar no município catarinense de Xanxerê, que pode servir de modelo (e estímulo) para outras cidades do País, têm dado novo ânimo e esperança para os suinocultores brasileiros.
LegendaS:
Em 1987, a revista Suinocultura Industrial veiculava uma matéria com Werner Meinke (presidente da ACSURS na época), que abordava a alarmante situação vivida pelo setor suinícola naquele ano.
Edição de Agosto de 1987
Revista Suinocultura Industrial, no. 06`2003, edição 171, ano 25.