Tecnologias que auxiliam os pequenos agricultores familiares a reduzir os custos da criação de galinhas poedeiras por meio da substituição dos ingredientes utilizados na ração, sem que isso comprometa a qualidade e volume na produção de ovos. Este é o principal objetivo dos estudos desenvolvidos por um grupo de pesquisadores do Brasil e da África, por meio da plataforma Market Place.
Em 2012 os pesquisadores da Embrapa Pantanal Raquel Juliano e Frederico Lisita, juntamente com o professor Christian Keambou Tiambo , da Universidade de Buea – localizada em Camarões/ África, desenvolveram e aprovaram o projeto “Development and sustainable breeding of local chicken for improved productivity under local alternative feed management system and health control”. O projeto propõe a aplicação dos resultados de pesquisas brasileiras sobre nutrição, sanidade e produção animal em pequenas propriedades rurais na África.
Atualmente um grupo formado por 300 pequenos produtores africanos, sob a coordenação e orientação do professor Christian e sua equipe, foram capacitados para aplicar boas práticas agropecuárias na produção de ovos. Primeiramente os produtores receberam as aves poedeiras para a criação e, em breve, serão iniciados os testes com as fontes de alimentos alternativas, tendo como base a mandioca e a moringa.
Segundo Frederico Lisita, que juntamente com Raquel Juliano coolideram as pesquisas no Brasil, a ideia do projeto surgiu da observação das dificuldade que os pequenos produtores de assentamentos da região Pantaneira tinham em fornecer alimento nutricionalmente adequados para a criação de galinhas: ” vimos que o alto custo das rações existentes no mercado e a impossibilidade de produção milho e soja na região, ingredientes que compõe a base dessas rações, inviabilizavam a criação desses animais”, explica Frederico.
“Após algumas análises de literatura e da experiência de campo com o uso de alimentos alternativos para outras espécies animais, percebemos que seria possível substituir esses principais itens da dieta das galinhas poedeiras. De início estamos trabalhando com as raízes de mandioca e também com as folhas da moringa, já utilizadas junto a suplementação da alimentação do gado devido ao alto poder de proteína e a qualidade de aminoácidos que encontramos nessas plantas”, relatou Frederico.
Segundo os pesquisadores, a proposta de aplicar esta ideia em uma pesquisa na África agregou pontos positivos para o projeto, uma vez que, a segurança alimentar é um tema latente no pais e o milho e a soja são grãos nobres utilizados prioritariamente para a alimentação humana – o alimento para a produção animal compete com a nutrição da população africana.
Intercâmbio entre pesquisadores
Recentemente, o professor Christian realizou uma visita ao Brasil e durante sua passagem pela Embrapa Pantanal apresentou aos pesquisadores brasileiros as informações e resultados já obtidos com o experimento. Segundo o professor, as atividades do projeto já sinalizam positivamente vem mostrando bons resultados. Juntamente a equipe brasileira foram traçadas as novas metas e desafios para os próximos anos
Segundo Raquel Juliano, o projeto conta ainda com uma etapa de identificação e caracterização genética das raças nativas que estão sendo trabalhadas em Camarões. “Provavelmente as ações serão realizadas em conjunto com a Universidade de Córdoba, na Espanha, com quem a Embrapa já tem parceria em outros projetos, e que fornecerá o apoio necessário ao laboratório de genética da Embrapa Pantanal, que ainda está em fase de implantação de estruturação.
Versão brasileira
A iniciativa deu tão certo, que os pesquisadores brasileiros aprovaram, em 2013, no CNPq um projeto semelhante para ser desenvolvido inteiramente no Brasil.
Com o apoio da Fundação Bradesco, representada pela parceria com a Unidade de ensino Bodoquena, localizada a 50km do município de Miranda – MS, a equipe da Embrapa Pantanal implantará um experimento para testar o desempenho de aves poedeiras utilizando dieta a base de mandioca, moringa e bocaiuva em diferentes níveis de substituição ao milho e soja.
Além desses parceiros, Raquel revela que conta com o suporte da UFMS nas análises de qualidade dos ovos produzidos e da saúde dos animais, entre outras ações. “Os desdobramentos das ações que serão realizadas nesta nova etapa nacional do projeto envolve diferentes instituições. Pretendemos realizar a capacitação de alunos do curso técnico e pós graduandos, além de interagir com as comunidades que produzirão os ingredientes da ração que será testada”, concluiu a pesquisadora.
Market Place
O Market Place é uma Iniciativa de parceiros brasileiros, africanos, latino americanos e da região do caribe de reunir instituições e pesquisadores com a finalidade de desenvolver projetos de pesquisa em cooperação. Segundo a pesquisadora Raquel Juliano a ideia é desenvolver projetos que atendam a agricultura familiar que beneficiem estes países. “O suporte para financiamento de projetos é feito por diversas instituições, incluindo Fundação Bill e Melinda Gates, e deve obrigatoriamente possuir liderança compartilhada entre instituições de ambos países envolvidos”.