Pesquisadores da Embrapa Pantanal (MS) participam de uma parceria entre instituições públicas e privadas que desenvolveu uma versão brasileira dos módulos coletores GPS (Sistema de Posicionamento Global) – conhecidos também como colares GPS −, usados para registrar informações sobre a localização de animais silvestres em estudos de monitoramento de fauna. Fabricados pela primeira vez no País, os aparelhos custam aproximadamente metade do valor médio pago pelos importados, ressalta o pesquisador Walfrido Tomás, da Embrapa Pantanal.
Os colares estão na fase de testes a campo. No momento, a equipe de pesquisa avalia questões como a durabilidade do aparelho, sua eficácia na coleta dos dados e a adequação do equipamento a diferentes animais. Previsto para ser concluído no final de 2017, o projeto monitora dez indivíduos na Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Cisalpina, uma área mantida pela Companhia Energética de São Paulo (Cesp) de aproximadamente quatro mil hectares em Brasilândia (MS). Além de cervos-do-Pantanal, o comportamento de jacarés, queixadas (um tipo de porco selvagem) e veados-campeiros também é avaliado pela iniciativa.
O pesquisador explica que a diminuição dos custos favorece os estudos em grupos maiores de indivíduos pelo País, aumentando a precisão da pesquisa, que se beneficia com o monitoramento de um número maior de animais e uma base de dados mais completa, representando melhor a espécie: “Nossa meta é monitorar pelo menos 30 animais até a metade deste ano. Para que os brasileiros tenham condições de trabalhar com o mínimo de animais necessários à elaboração de um trabalho consistente, é fundamental que existam alternativas viáveis economicamente. Isso passa pelo desenvolvimento tecnológico desses equipamentos aqui no Brasil”.
O equipamento
Segundo Marcos, a periodicidade com que as informações são coletadas e as datas em que poderão ser recolhidas são definidas pela equipe de pesquisa. “Programamos o aparelho para determinar quando a frequência vai ficar aberta para o download das informações, de modo a economizar bateria. O pesquisador chega a uma determinada distância, capta as informações e pode transmitir novas programações, se necessário”, afirma. O empresário explica, ainda, que o módulo envia as informações via UHF, uma frequência de rádio, e essa faixa de frequência permite que um pacote de dados seja transmitido por até mil metros, atravessando a mata e pequenas barreiras.
Os módulos podem armazenar até oito mil localizações na memória e a bateria pode ser usada para marcar um ponto de localização por hora durante um ano, de acordo com o biólogo. “Hoje em dia, existem dados muito mais precisos, menos erros e um volume de informações maior”, diz. O biólogo afirma que, embora o público só deva ter acesso ao modelo final do colar quando o projeto for concluído, outras versões estão disponíveis: “Como estamos desenvolvendo algumas variações, nem tudo o que montamos já está à venda. O modelo final precisa passar por testes de campo e ajustes finos”.
Marcos ressalta, ainda, que o ineditismo do equipamento não está na tecnologia, mas na fabricação brasileira: “Um colar para monitorar cervos-do-pantanal, por exemplo, custa em torno de três mil reais se for produzido aqui. Se importássemos um colar com as mesmas especificações técnicas [dos equipamentos produzidos no Brasil], ele não sairia por menos de seis mil reais”.
Aplicações dos dados
De acordo com Walfrido, espécies monitoradas pelo projeto deverão ser usadas como indicadoras de qualidade ambiental: “O que elas fazem nos informa sobre como está o ambiente. A área em que estamos trabalhando é uma reserva que passou por um processo de recuperação ambiental. Com esses dados, podemos entender qual é o tempo necessário para que uma floresta recuperada seja adequada e utilizada por determinada espécie animal. No caso das espécies conhecidas como ‘guarda-chuva’, se o ambiente está favorável a elas, milhares de outras também são favorecidas. Isso, em espécies ameaçadas, é mais relevante ainda”.
Em três meses de monitoramento de queixadas, por exemplo, foi possível recolher mais de quatro mil localizações, conta o pesquisador. “Olhando essa nuvem de pontos, podemos determinar para onde os animais estão indo. A partir daí, fazemos análises estatísticas de movimentação e modelagem de modo a entender como esses indivíduos se locomovem, como tomam decisões dentro da paisagem, áreas preferidas e lugares que evitam”.
Os queixadas, segundo Walfrido, percorreram uma área de cinco a seis mil hectares nesse intervalo de tempo. “Saber o que esses animais fazem nos ajuda a entender como deveria ser feita a recuperação ambiental, obedecendo o Código Florestal e favorecendo a biodiversidade”, completa. Para o pesquisador, conhecer os hábitos das espécies é uma forma de compreender o próprio ecossistema, subsidiando a tomada de decisões e favorecendo a conciliação entre a ação humana no ambiente e a manutenção dos recursos naturais.