Redação (01/04/2009) – O período que é tradicionalmente o mais vantajoso em termos de preços para as usinas de álcool está próximo de se encerrar registrando uma queda de 27,8% na cotação do produto hidratado, em apenas dois meses. O valor atual desse tipo de etanol na produção é o menor dos últimos cinco anos, no mês de março. A pressão é fruto do maior volume ofertado por usinas, diante da necessidade de caixa e da proximidade do início efetivo da safra 2009/2010. A perspectiva para as próximas semanas também não é animadora. Segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), as distribuidoras seguem com baixo interesse de compra, aguardando novas quedas de preço.
De acordo com o Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool de Minas Gerais (Siamig/Sindaçúcar-MG), muitas usinas não encerraram a safra em novembro e permaneceram moendo, para fazer capital de giro, em função da crise financeira. Além de algumas usinas estarem adiantando a safra 2009/2010 pelo mesmo motivo. O excesso de oferta já estaria levando muitos produtores a comercializarem o produto mais barato, muitas vezes abaixo do custo de produção.
A Açúcar Guarani iniciou oficialmente essa semana a safra 2009/2010. A companhia está entre as empresas que mais cresceram em produção de etanol nas duas últimas safras, com um processamento de 14,4 milhões de toneladas de cana-de-açúcar na temporada passada.
Apesar da forte retração dos preços o consumidor não está sendo beneficiado. "As quedas não estão ocorrendo em toda a cadeia produtiva", afirma Luiz Custódio Cotta Martins, presidente do Siamig/Sindaçúcar-MG. Segundo estimativa de Cotta Martins, caso a queda fosse repassada para a bomba, estima-se que o preço médio do etanol hidratado em Minas Gerais poderia situar-se em R$ 1,54 (R$ 0,64 na produção, mais impostos, logística e margens de lucro da distribuidora e postos).
Em Ribeirão Preto, maior polo sucroalcooleiro do País, situado no Estado de São Paulo, a estimativa é a de que o preço do álcool hidratado tenha sido reajustado em cerca de 30% no último mês, , para R$ 1,30 o litro.
A trading de açúcar Czarnikow Group afirmou à Bloomberg esta semana que o Brasil provavelmente vai processar menos cana-de-açúcar no ano-safra a encerrar-se em março de 2011, em um momento em que a falta de financiamento suspende a expansão das usinas e compromete o capital de giro das empresas. "Tudo indica que o financiamento continuará restrito enquanto as perspectivas de lucro não apenas melhorarem, mas se estabilizarem em patamares mais elevados", disse a Czarnikow. "Não há dúvida de que isso vai desencadear uma desaceleração do crescimento e, neste momento, prevemos assistir à queda do volume de cana processado pelo setor no ano-safra 2010/2011."
Para Arnaldo Corrêa, especialista em gestão de risco em commodities agrícolas e diretor da Archer Consulting, os preços de etanol deverão aumentar a dificuldade para a exportação do excedente de produção, em função dos baixos preços praticados nos Estados Unidos, maior importador do etanol brasileiro. "O encontro de Lula e Obama não rendeu nada para o etanol. No entanto o setor não deve ficar tão impressionado assim. Afinal, o foco deve ser no mercado interno – realmente a fatia do bolo que sustenta o etanol e deverá continuar durante muito tempo."
Açúcar
O Conselho dos Produtores de Cana-de-Açúcar, Açúcar e Álcool do Estado de São Paulo (Consecana), informou que o preço médio do quilo do açúcar total recuperável, o ATR da matéria-prima processada pelas usinas e destilarias paulistas fechou março em alta. O preço do ATR de março de 2009 ficou em R$ 0,3211, enquanto o acumulado ficou em R$ 0,2782. O preço sugerido para os contratos de parceria baseados no índice de cana campo foi R$ 30,38, já a cana esteira fechou o mês a R$ 33,93.
O preço da saca de açúcar cristal, negociado em São Paulo, encerrou o mês de março recuando 0,32%, fechando a última terça-feira a R$ 47,77, segundo o indicador Cepea/Esalq.