Da Redação 14/03/2005 – A suinocultura e a avicultura brasileira ampliam seus mercados no exterior graças ao reconhecimento internacional da qualidade da carne produzida no País. A obediência a rígidas normas de biosseguridade é favorecida pela consolidação do sistema integrado de produção que hoje caracteriza as duas atividades no País. O modelo racionaliza a implantação de medidas sanitárias pautadas na prevenção de doenças e na oferta de condições ambientais e manejo capazes de promover a saúde animal, com visíveis ganhos para a cadeia produtiva e para o consumidor final, estrangeiro ou brasileiro.
O trabalho desenvolvido pelos órgãos de defesa agropecuária no acompanhamento do status sanitário das granjas, e pela pesquisa no desenvolvimento de novas tecnologias e estudo das principais patologias que afetam a produção em nível mundial conferem sustentabilidade às atividades. As chamadas doenças da produção e as que possam representar risco à saúde humana e barreiras ao comércio externo são alvo constante de atenção, mesmo as inexistentes no País, como a influenza aviária, também chamada de gripe do frango.
Doença nova
A circovirose suína é um exemplo típico de doença da produção. Sua notificação, conforme o Código Zoossanitário Internacional, não é obrigatória como outras patologias, mas nem por isso é deixada em segundo plano. Sua importância se deve ao impacto econômico que causa à atividade, por interagir com outros males e fragilizar o sistema imunológico dos animais, deixando-os suscetíveis a contrair outros males.
Trata-se de uma doença nova no Brasil e considerada emergente pela rapidez com que se difundiu. “No ano de 2000 fizemos apenas alguns diagnósticos em nosso laboratório, mas em 2003 e 2004 a doença se alastrou e ocorreu uma epidemia no Sul do País,” compara Janice Zanella, pesquisadora da Embrapa Suínos e Aves.
Não há casos de circovirose nos Estados do Centro-Oeste, mas ela já foi identificada em São Paulo e Minas Gerais. A doença está ligada ao estresse, ao controle da origem dos animais e às condições ambientais, com destaque para a aeração das instalações e irradiação solar da região.
Controle
Embora não afete o homem, a circovirose preocupa pesquisadores e produtores pelo fato de ainda não existir uma vacina comercial, recurso que vários laboratórios em todo o mundo tentam desenvolver. Enquanto isso não acontece, medidas de acompanhamento e controle vêm sendo adotadas para reduzir os prejuízos nas granjas.
No Brasil, pesquisas sobre a circovirose suína são desenvolvidas no Centro Nacional de Pesquisa de Suínos e Aves da Embrapa, em Concórdia (SC) e coordenadas pela pesquisadora Janice Zanella. O circovírus ela, infecta células do sistema imune do suíno na fase de desmama. Geralmente causa a inflamação dos rins (nefrite) e pneumonias de difícil controle, em razão da debilidade do organismo. O sinal mais característico da doença é a acentuada perda de peso.
Os pesquisadores também dão suporte técnico-científico na implementação de estratégias de prevenção e controle. Entre as mais eficazes destacam-se a limpeza adequada das instalações com desinfetantes e a realização de vazios sanitários, guardando intervalo entre um lote e outro para que não haja a persistência do vírus no ambiente.
O porcentual de mortalidade considerado aceitável nesta fase é de 1% a 2%, mas com a presença da circovirose numa granja dificilmente ela é menor do que 5%. Em alguns casos chega a 25%, o que depende diretamente do rigor adotado nas medidas de controle. Para eliminar o vírus é necessário que os animais sejam todos abatidos e realizado uma vazio sanitário de 30 dias.
A pesquisa no Brasil tem centrado seu foco no seqüenciamento do código genético do microorganismo e no desenvolvimento de métodos de diagnóstico. Também estuda o modo como a doença se manifesta no País e a infecção concomitante com outros patógenos. Apenas no Estado de Santa Catarina pesquisadores da Embrapa já identificaram 12 variantes do vírus. A dificuldade em obter uma vacina eficiente se deve à fase em que o animal é atingido: após o desmame, quando deixa de receber anticorpos da mãe, a leitegada pode se infectar rapidamente, não havendo tempo suficiente para que seja criada a resposta imunológica.