Quando você dá partida no seu carro e anda despreocupadamente por aí, o alternador aproveita parte da força do motor para manter sua bateria carregada e, assim, alimentar todas as necessidades elétricas do veículo: os sistemas eletroeletrônicos básicos, as luzes do painel e faróis, vidros elétricos, ar condicionado, e a porta de 12 volts que você usa para carregar o celular. Aproveitar o movimento do carro para suprir essa demanda elétrica é uma excelente ideia, mas a energia é produzida pela queima do combustível, o que gera emissão de poluentes na atmosfera. Este ponto porém, está na mira de pesquisadores do Centro de Inovação da FCA em Betim, MG.
A equipe, liderada pelo engenheiro Toshizaemom Noce, pesquisa o uso de células fotovoltaicas no próprio veículo para converter a luz solar em energia elétrica seguindo o princípio dos painéis solares que você já conhece – e armazená-la também na bateria do veículo. Isso diminui o consumo de combustível e, em consequência, a emissão de poluentes, reduzindo o impacto ambiental e gerando economia tanto para os motoristas (por causa do menor consumo de combustível) quanto para a FCA e o Brasil (pelos créditos de carbono conseguidos).
As pesquisas começaram há um ano com uma parceria entre a FCA e a CSEM Brasil, empresa que produz as células fotovoltaicas, que são filmes plásticos transparentes de 20 centímetros de largura com um composto fotovoltaico orgânico impresso na superfície. Essas películas podem ser aplicadas diretamente na lataria do veículo, ou até mesmo dos vidros, com a vantagem de fazer também a função de película solar, reduzindo a temperatura interna do carro. Esse tipo de tecnologia já é usado nos Estados Unidos, Europa e Japão, mas é a primeira vez que começa a ser pesquisada no Brasil, onde, curiosamente, a incidência de raios solares é maior.
Como a pesquisa é muito nova ainda, Noce não arrisca uma previsão de quando poderá aplicá-la na produção, mas os números são animadores. “Na Europa, a referência de energia produzida por metro quadrado de célula fotovoltaica é de 120W. Nossas pesquisas mostram que no Brasil essa referência supera os 200W”, comemora. “Isso significa que o potencial de aplicação da tecnologia por aqui é maior, e também que poderemos negociar mais créditos de carbono”.
Conhecida como “Projeto Girassol”, a pesquisa coleta e analisa dados através da instalação das células fotovoltaicas em 25 veículos que rodam pelas ruas de Belo Horizonte. São os mesmos veículos camuflados que pilotos de teste como a Vanessa dirigem por aí, exceto o da foto no alto da página: um Fiat UNO que conta também com um laboratório de emissões portátil – o único do tipo em uso na América Latina – para medir as emissões do escapamento em condições reais de uso e avaliar a eficiência energética das células.
Embora a célula fotovoltaica em geral ainda seja cara para o setor automotivo (o retorno do investimento vem em cerca de três anos, de uma vida-útil média de 10-15 anos, segundo Noce), ela é promissora, pois os estudos pretendem aumentar sua eficiência energética o suficiente para que se torne viável comercialmente. O fato de a tecnologia produzida pelo CSEM ser cerca de cinco vezes mais barata que a tradicional (como a usada no UNO Ecology, por exemplo, lançado em 2010) já é um grande passo nessa direção. No ano passado, a descoberta de que um material antes considerado inútil – a perovskita – tem um imenso potencial fotovoltaico gerou furor entre os cientistas da área, pois pode superar em muito a eficiência do silício (material usado nas placas atuais), com uma fração do custo, o que pode ser a revolução que o mercado de energia limpa precisa.
Descobertas como essa e pesquisas como o Projeto Girassol podem, num futuro próximo, resultar num novo significado para o termo “teto solar”.