Da Redação 30/03/2005 – A ciência superou a ficção e se transforma em realidade nas pesquisas que o departamento de Engenharia Rural da Escola está promovendo, há cinco anos, para se fazer zootecnia de precisão.
Trabalhando com informações precisas para se obter um melhor rendimento das técnicas de produção e manejo, os pesquisadores colhem seus experimentos através de imagens captadas por equipamentos de filmagem que registram o comportamento dos animais em seu próprio habitat.
O professor Iran José Oliveira da Silva, do Depto. de Engenharia Rural, é o coordenador do trabalho utilizado nas áreas de avicultura e suinocultura, onde as pesquisas realizadas seguem as exigências da União Européia (UE), que determina que o animal tenha uma vida mais saudável, visando seu bem-estar. “Dados e informações técnicas sobre o comportamento dos animais são obtidos durante 24 horas de filmagens. A partir disso, usando técnicas de geoestatística e lógica Fuzzy, estabelecemos os principais pontos que influenciam o dia-a-dia de aves e porcos, refletindo uma condição melhor de vida”, explica.
Ao filmar os porcos através de micro-câmeras nas baias coletivas, onde não há o chamado comportamento social entre os animais, passou a ser possível entendê-los através de seus gestos e ações. “Avaliamos a conduta monótona e o desconforto pelo qual o animal é submetido quando aprisionado e registramos que seus movimentos passam a ser obsessivos e repetitivos”, esclarece o aluno de pós-graduação Héliton Pandorfi, preocupado em satisfazer os compradores internacionais com o suíno brasileiro.
Cético, o professor diz que muitas das exigências mundiais não se sobrepõem pelo lado tecnológico, mas sim por barreiras comerciais. “Aplicamos aquilo que convém ao produtor e adaptados as nossas condições tropicais. Pretendemos com isso obter informações para confrontar algumas normas, pois trabalhamos embasados em dados científicos”.
Porém, a reivindicação internacional para importação de produtos de origem animal supera a sensação de bem-estar dos animais. As exigências estão além da questão de segurança alimentar, principalmente, porque o consumidor quer saber não só sobre a qualidade da carne que está comendo, mas de que maneira foram criados e sacrificados antes de se tornar alimento. “Isso pode parecer estranho, mas já existe uma normativa da UE que proíbe, a partir de 2012, a importação de animais criados em sistemas que não permitam seu bem-estar”.
De olho nesse mercado, o Brasil deve se preparar para atender essas normas e continuar entre os maiores produtores mundiais de carnes avícola, suína e ovos, onde há também uma grande exigência relacionada à mudança no sistema de produção das aves poedeiras, que deve abolir o sistema de criação em gaiolas, provocando um grande empecilho para a adaptação de novas linhagens e gerando uma revolução na avicultura mundial, pois para o mercado internacional o estresse do animal é mais importante do que a qualidade do ovo, apesar do tempo desprendido para sua coleta.
Pensando nestas alterações na forma de manejo, os departamentos de Engenharia Rural e Zootecnia, por meio do Núcleo de Pesquisa em Ambiente (Nupea), da USP/ESALQ, têm feito simulações onde se propicia conforto para as aves ciscar e botar os ovos no ninho, como acontece na natureza, expressando seus comportamentos ditos naturais. “Estamos testando alternativas utilizando camas e ninhos, ao invés de gaiolas, e acompanhamos as aves através do vídeo, evitando a interferência do homem em seu desempenho ou inibindo algum comportamento selvagem”, explica a pós-graduanda Sulivan Pereira Alves, doutoranda do programa de Física Ambiente-agrícola, que também participa dos estudos.
Como o objetivo das pesquisas é atingir um sistema de produção com menores perdas e maior rendimento, a Escola estuda mudanças relacionadas com as exigências de mercado “Quando falo em produção animal, digo o seguinte: é muito importante que essas pesquisas sejam mais realistas com relação ao produtor”, afirma o professor.
Iran informa ainda que as pesquisas seguem adiante do que vem sendo ordenado, justamente porque as barreiras técnicas alfandegárias tendem a aumentar. “Quando sanarmos a questão do bem-estar animal vamos começar a entrar na qualidade e origem dos alimentos para os animais e quando resolvermos esta surgirão outras novas exigências. Não podemos esquecer que isso é uma competição mundial e o papel do cientista é caminhar junto para atender essa demanda”.
Os resultados práticos também já começam a surgir, como na região de Salto, interior de São Paulo, onde após acompanhar o comportamento da porca e dos filhotes, durante os primeiros dias de vida dos leitões na maternidade, os produtores verificaram que o melhor sistema de aquecimento, principalmente em épocas frias, era com lâmpadas e piso térmico. Uma vez adotado este procedimento, verificou-se a importância da resistência elétrica e de lâmpadas fluorescentes, que resultaram na economia da energia.