A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) encerrou 2024 com um déficit orçamentário de cerca de R$ 200 milhões e perspectivas pouco animadoras para 2025. A proposta inicial do governo, ainda em análise no Congresso Nacional, destina apenas R$ 137,4 milhões para custeio de pesquisas, desenvolvimento e transferência de tecnologia — valor muito inferior à demanda estimada de R$ 510 milhões para manter os projetos em curso.
Apesar de negociações, o orçamento previsto para 2025 deve alcançar no máximo R$ 190,6 milhões, somando emendas individuais e ajustes no Congresso. Este montante já é insuficiente para cobrir os custos operacionais da estatal, que conta com 43 unidades descentralizadas e 1.056 projetos em andamento.
Impactos na pesquisa e estrutura
Em 2024, cortes no orçamento comprometeram pagamentos básicos, como água, luz e segurança, além de inviabilizarem novos projetos de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I). Segundo relatos de pesquisadores, muitos projetos foram paralisados, e a busca por recursos externos tornou-se a única alternativa viável para dar continuidade às iniciativas.
A destinação de R$ 169,6 milhões pelo Novo PAC para modernização de laboratórios trouxe investimentos necessários, mas sem custeio associado, gerando novas dificuldades. “Todo investimento precisa de custeio para funcionar. Sem isso, equipamentos e veículos tornam-se um peso financeiro adicional”, afirmou um pesquisador.
Gestão e financiamento em foco
Desde 2023, propostas elaboradas por um grupo de trabalho do Ministério da Agricultura para reestruturar a gestão e o financiamento da Embrapa permanecem em grande parte inativas. Iniciativas como o aumento na arrecadação de royalties enfrentam resistência e são vistas como insuficientes para resolver o déficit estrutural.
A Embrapa também tem buscado ampliar a eficiência operacional por meio de medidas como instalação de usinas fotovoltaicas, compras coletivas e negociações para isenção de tributos estaduais e federais. No entanto, tais ações não suprem o déficit financeiro acumulado.
Parcerias como alternativa
Atualmente, 73% dos projetos de PD&I da Embrapa são viabilizados com recursos captados externamente. A empresa está investindo no Núcleo de Inovação Tecnológica (NIT) para facilitar a formação de parcerias e melhorar a gestão de projetos.
Apesar dos esforços, a redução de 80% no orçamento discricionário ao longo da última década deixa claro que o financiamento público continua sendo a base para garantir a sustentabilidade da pesquisa agropecuária no Brasil. Sem recursos suficientes, a capacidade de atender demandas do setor produtivo e enfrentar desafios emergentes permanece em risco.