Uma pesquisa inovadora conduzida pela Embrapa Agropecuária Oeste, em Dourados (MS), busca aumentar a eficiência das rações utilizadas na criação de tilápias, com o objetivo de reduzir sobras, o volume de fezes e carcaças na água. Esses fatores estão diretamente ligados à emissão de gases de efeito estufa, como o metano, e à pegada ambiental da atividade, que representa 65% da produção da aquicultura no Brasil, conforme dados da Peixe BR.
Tarcila Souza de Castro Silva, zootecnista e pesquisadora da Embrapa, destaca que a equipe estuda há anos o manejo e a nutrição de peixes e agora trabalha para identificar a composição ideal de nutrientes que maximizem o aproveitamento pelos peixes. “Quanto mais sobras e fezes na água, maior a emissão de gases. O desafio é otimizar a alimentação com nutrientes adequados que melhorem o desempenho dos peixes e minimizem os resíduos”, explica Tarcila.
O agrônomo Luis Antonio Inoue, também da Embrapa, ressalta que cada quilo de ração fornecida aos peixes gera cerca de 240 gramas de fezes, contribuindo para a poluição da água. A pesquisa visa desenvolver uma ração mais eficiente, que possa ser sugerida às indústrias e produtores, mesmo que isso signifique um aumento de preço, considerando o benefício para a sustentabilidade da aquicultura.
A redução da pegada ambiental é vista como crucial para o futuro da exportação de tilápias, especialmente para mercados exigentes como o europeu e o norte-americano. “Sem sustentabilidade, não há futuro para o setor”, afirma Tarcila, destacando a importância de se antecipar às possíveis exigências internacionais.
Além da eficiência da ração, a equipe também estuda o aproveitamento dos resíduos dos peixes em sistemas de produção mais densos, como tanques elevados, para a produção de bioinsumos ou biogás. Esse conceito já é explorado na criação de suínos no Brasil e em projetos na Noruega e Alemanha, mas ainda é inexplorado na piscicultura brasileira.
Mato Grosso do Sul, que foi pioneiro na piscicultura com peixes nativos, hoje se destaca pela produção intensiva de tilápias em sistemas integrados. Contudo, o cultivo de peixes nativos, de maior valor de mercado e menor tecnologia, continua sendo uma prática entre agricultores familiares da região.