Redação SI (Edição 158 – 2002) – Redução de custos. Essas três palavras soam como uma singela melodia aos ouvidos de qualquer criador de suínos. Na suinocultura moderna, marcada pela alta competitividade e pelas baixas margens de lucro, não há mais espaço para amadorismo ou improviso. O produtor que não estiver atento às tecnologias que despontam nas mais diversas áreas da criação de suínos está fadado a perder sua rentabilidade, além de correr o sério risco de ser expurgado da atividade.
Um bom exemplo desse novo perfil do suinocultor é o produtor paranaense Manfred Michael Majowski (à esquerda da foto), proprietário das granjas Masteke e Nova Estância, instaladas na cidade de Guarapuava (PR). Há cerca de seis anos, Majowski conheceu e adotou a técnica da silagem de grão úmido de milho para alimentar os animais de sua granja. Desde então, a tecnologia vem se apresentando como uma importante alternativa para a redução dos custos e melhoria da qualidade da alimentação de seus animais, alavancando significativamente os resultados de sua propriedade. “Na suinocultura, o gasto com a alimentação dos animais é, sem a menor sombra de dúvida, um dos fatores que mais preocupam o produtor”, avalia. “Tomei conhecimento da silagem de grão úmido por meio da equipe da Pioneer e depois de conferir a experiência de vários produtores de outras regiões decidi apostar na idéia”. O produtor começou a trabalhar com o grão úmido em 1997, com 180 toneladas. Em 2002, Majowski pretende chegar à autosuficiência de silagem de milho, atingindo o volume de 1900 toneladas.
Uma técnica que já começa a despontar em quase todas as regiões produtoras de suínos no País, a silagem de grão úmido de milho pode representar reduções de custos na alimentação de suínos em até 20%. Aliando redução de custos a um melhor desempenho zootécnico dos animais, a tecnologia vem conquistando os suinocultores brasileiros rapidamente. Mas o que vem a ser a silagem de grão úmido? “A silagem de grão úmido é um processo de ensilagem, em que são armazenados somente os grãos da planta de milho”, explica Majowski. “A técnica consiste na colheita do milho com uma umidade alta, entre 30% e 40%, no ponto de sua maturação fisiológica, ou seja, no ponto máximo de sua sanidade e valor nutritivo. O produto é resultado da fermentação anaeróbica da massa do milho moído e compactado”.
Vantagens – Produtor de grãos, Majowski iniciou suas atividades na suinocultura há oito anos, motivado pelo Projeto de Diversificação de Atividades oferecido pela Cooperativa Agrária Mista Entre Rios Ltda., de Guarapuava,que disponibiliza todo o apoio técnico e financeiro a seus cooperados. Hoje, o suinocultor administra duas granjas: a Masteke, unidade produtora de leitões e a Nova Estância, unidade de recria e terminação.
Em 1996, Majowski introduziu o sistema de silagem de grão úmido na
granja Nova Estância e impressionou-se com os resultados. Desde o ano passado, adotou o consumo de ração à base de grão úmido também na unidade produtora de leitões. “A suinocultura é uma atividade muito interessante, porém requer muito trabalho e dedicação”, ressalta o suinocultor. “Acredito que uma grande parte dos bons resultados que venho obtendo na suinocultura é consequência da utilização da técnica de silagem de grão úmido”.
Para ele, várias são as vantagens que a técnica pode trazer ao produtor. A principal delas diz respeito à redução de custos na alimentação dos animais. De acordo com Majowski, desde que passou a utilizar a técnica de silagem de grão úmido deixou de se preocupar com o transporte do milho na safra para a Cooperativa e posterior retorno para a granja (o chamado passeio do milho). Também ficou livre dos descontos de umidade, impurezas e grãos ardidos, custos com o processo de secagem do milho, taxas e impostos de armazenagem, um vez que estoca todo o milho necessário para a criação de suínos em sua propriedade. Outra grande vantagem que a técnica proporciona ao suinocultor é a estabilidade do preço do milho. Seu preço/custo não está vinculado ao preço de grãos no mercado, que costuma sofrer grandes variações de uma safra para outra.
Outro benefício, é que no caso do grão úmido, a colheita é antecipada em três a quatro semanas, permitindo ao produtor um melhor aproveitamento da área com plantios posteriores com outras culturas. “É bastante proveitoso retirar o milho mais cedo da lavoura, pois assim é possível distribui melhor a época da colheita e melhor aproveitar os maquinários existentes na propriedade”, afirma. E as vantagens não páram por aí. Se armazenado adequadamente, o milho úmido sofre menores perdas ocasionadas por ataques de fungos, traças, ratos, carunchos etc., além de manter sua qualidade nutricional ao longo do tempo. Outro item importante é que os custos para a construção da estrutura de armazenagem do grão úmido são sensivelmente inferiores aos do sistema tradicional de armazenamento.
Qualidade nutricional – Mas não é somente na área de redução de custos que a utilização de grãos úmidos gera ganhos ao produtor. Segundo Majowski, no campo nutricional os ganhos também são bastante significativos. De acordo com ele, por oferecer maior digestibilidade e palatibilidade, a ração à base de grão úmido proporciona a melhora do desempenho zootécnico dos animais. Contribui também para uma melhora da sanidade, causando menos diarréias nos leitões, menor taxa de mortalidade, além de antecipar o abate de animais com melhor aproveitamento. Por tratar-se de um ingrediente de alta qualidade, o grão úmido na ração melhora a conversão alimentar dos suínos ao mesmo tempo em que ajuda a diminuir a emissão de dejetos pelos animais.
É importante destacar que a utilização do grão úmido requer o preparo diário da dieta dos animais, uma vez que a mistura do núcleo pode gerar um aquecimento (fermentação) e provocar diarréia. Nas granjas Masteke e Nova Estância a retirada do milho armazenado é feita diariamente (uma camada mínima de 20 centímetros), sendo em seguida misturada ao concentrado específico para cada fase de criação. Toda ração é consumida em, no máximo, 24 horas. Na unidade de recria e terminação a ração é líquida. O grão úmido é depositado num silo que o envia para um equipamento que realiza automaticamente a mistura (2,5 litros de água para cada quilo de ração que é composta por 70% de milho e 30% de concentrado) antes de fornecê-la aos animais.
Etapas – As etapas que envolvem a produção do grão úmido (colheita, moagem, ensilagem, compactação e fechamento do silo) são de fundamental importância para o sucesso do processo e para a qualidade final do produto. Segundo Majowski, após a colheita, o milho tem que ser transportado rapidamente do campo até a sede, onde está a estrutura de recepção e armazenagem para que o grão não perca sua umidade. No caso da alimentação de suínos, após sua colheita, o milho deve ser triturado a uma granulometria bem fina (fubá) e receber inoculante específico para grão úmido. Todos os processos de colheita, moagem e compactação são feitos no mesmo dia para evitar aquecimento e eventual contaminação por micotoxinas. A adição do inoculante tem como objetivo evitar perdas e melhorar a fermentação. “O uso do inoculante é importante para evitar perdas durante o processo de fermentação, evita a formação de ácidos indesejáveis, aumenta a participação de ácidos lácteos, evita a refermentação e aumenta a estabilidade após a abertura do silo”, explica.
Depois de triturado, o milho é transportado por meio de caçambas até os silos trincheira (silos horizontais – opção da granja), que se encontram em frente aos galpões. No caso das granjas Masteke e Nova Estância, os silos trincheira são de alvenaria e foram construídos em galpões pré-moldados, cobertos com telha de amianto para facilitar a operação no momento de sua compactação, armazenagem e retirada do produto, principalmente em dias chuvosos.
A compactação dos grãos é feita por tratores e a vedação dos silos por lonas plásticas dupla face. Para retirar o ar que fica sob a lona é colocada uma camada de areia sobre ela. “O tempo de armazenagem do grão úmido para o consumo pode ser de até um ano, se o silo for compactado e fechado adequadamente”, diz Majowski.
Majowski explica ainda, que além dos cuidados que cada etapa exige uma silagem de grão úmido de alto padrão e qualidade depende de híbridos com adaptação regionalizada, produtividade e alto valor nutricional. “Os híbridos plantados em minha propriedade para silagem são todos da empresa Pioneer, escolhidos conforme o potencial, adaptação, estabilidade e ciclo de cada um”, revela.
Marca própria – Com 420 matrizes alojadas, as granjas Masteke e Nova Estância produzem uma média de 800 terminados/mês. Cerca de 50% da carne é comercializada via cooperativa, por meio de parceria com frigoríficos. Os outros 50% são comercializados na própria região de Guarapuava. O negócio está caminhando tão bem que Majowski prepara-se para lançar sua marca no mercado. Para isso, está concluindo uma parceria com um frigorífico local. “Ainda não está totalmente regularizado, mas acreditamos que nos próximos meses, todo esse processo já esteja pronto”, prevê. De acordo com o produtor, a carne abatida pelo frigorífico abasteceria toda a região de Guarapuava. “A idéia inicial é abastecer o varejo da região, como açougues e supermercados, com a marca da granja”, diz Majowski.
Todos os dados referentes ao desempenho das propriedades são gerenciados pelo software Suinosis. As informações são recolhidas semanalmente e levadas até a granja Masteke para serem processadas. Visitar as duas granjas é tarefa árdua. Não é à toa que ambas possuem o certificado de GSMS (Granja Suína com Mínimo de Doença) Os cuidados com a biosseguridade são tão rigorosos que beiram o obsessivo. Para adentrar às instalações é necessário seguir um rigoroso esquema de segurança. Vazio sanitário, banhos, trocas de roupas, são alguns dos cuidados tomados pelo proprietário. Os carros e caminhões também são desinfectados antes da entrada. Ambas as granjas contam com a orientação e assistência técnica contínua efetuada por uma médica veterinária da Cooperativa Agrária, que realiza visitas mensais às propriedades. A Cooperativa também fornece o sêmen para a inseminação artificial das fêmeas suínas.
O planejamento sanitário é complementado pelos esquemas de vacinação. É realizada vacinação preventiva contra Parvovirose e Erisipela nas fêmeas. As matrizes gestantes recebem uma vacina reforço, entre 80 a 90 dias da gestação, contra Parvovirose e Erisipela, acompanhada de uma dose de desverminante. As matrizes lactantes recebem uma dose contra Parvovirose após três dias do parto. Já os leitões, com cinco dias de idade, recebem a aplicação de 2 ml de ferro e são castrados. Anualmente é realizada a sorologia do plantel para conferir o status sanitário das granjas.
No que se refere ao o meio ambiente, os cuidados dispensados são igualmente rigorosos. A granja conta com o respaldo de uma empresa de consultoria em gestão ambiental, que presta serviços a todos os associados da Cooperativa Agrária. As granjas utilizam o sistema de bioesterqueira e armazenagem os dejetos por um período de seis meses para posterior distribuição em lavouras.