Redação AI 14/01/2002 – O rendimento em carne dos animais de abate oscila entre 34% e 52% de seu peso total. Isto significa que o abate comercial de animais para a produção de carne gera uma grande quantidade de subprodutos e de resíduos. E foi sobre isto que a professora titular da Universidade de Girona, na Espanha, Carmen Carretero, falou no Congresso Internacional, promovido pelo Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital), em São Pedro (SP), no mês de outubro de 2001. Carretero disse que o aproveitamento, reciclagem e reutilização desses subprodutos são de grande interesse à indústria, uma vez que se trata de produtos ricos, sob o ponto de vista nutritivo e funcional, dadas as condições de sua obtenção e tratamento. “Por outro lado, a gestão adequada dessas matérias ajuda a minimizar o impacto das indústrias cárneas sobre o meio ambiente”, destacou.
De acordo com a professora, até os dias de hoje o principal objetivo da transformação de subprodutos e de resíduos da indústria cárnea tem sido para a obtenção de alimentos para os próprios animais. O surgimento de enfermidades como a Encefalopatia Espongiforme, ou vaca louca, tem limitado as possibilidades de utilização desses produtos na alimentação animal. “Hoje, na Europa, está proibida a utilização de farinhas de origem animal na formulação de rações”, disse Carmen. “Esta situação representa para a indústria uma questão a ser estudada: como reciclar e aproveitar os subprodutos de maneira segura e economicamente rentável?”.
Entre as possíveis soluções, a professora destacou a utilização desses materiais para a obtenção de produtos destinados ao consumo humano. “Com exceção dos materiais classificados como de risco, cuja destruição é obrigatória nos países da União Européia, não há nenhuma restrição para o uso de subprodutos animais, que sejam considerados aptos para o consumo humano, como ingredientes na alimentação humana”, relatou. “Outro trabalho consiste em buscar aplicações alternativas ou tratamentos de segurança para aqueles subprodutos ou resíduos que não interessam à indústria alimentícia, como ossos, penas e pêlos”.
De bovinos, os materiais considerados proibidos são os seguintes tecidos e órgãos: encéfalo e medula espinhal, amídalas, íleon, retina, cólon proximal e cólon distal. “Estes produtos devem ser destruídos por incineração ou tratados em condições que garantam a inativação dos príons (mínimo de 130C por uma hora)”, revelou. De aves, a restrição mais comentada no Brasil tem sido sobre a reutilização da cama para formulação de ração. O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), proibiu, ainda por tempo indeterminado, o uso da cama como alternativa para a alimentação bovina, suína e da própria criação avícola.
“A utilização dos subprodutos, em geral, representa o problema da contaminação microbiológica”, explicou Carmen Carretero. “Dessa forma, é preciso encontrar sistemas de higienização que não prejudiquem as propriedades nutricionais e funcionais dos subprodutos que possam ser destinados à indústria alimentícia”, disse. “Uma das técnicas ensaiadas em nosso laboratório, na Espanha, é a aplicação de alta pressão hidrostática sobre as frações de sangue animal. Os resultados obtidos mostram que esta tecnologia pode ser útil para melhorar a qualidade higiênica dos subprodutos sem prejudicar a sua funcionalidade”.