O setor de suinícola já sofreu problemas nos Estados Unidos devido à falsa percepção de que o consumo de carne suína pode causar gripe A (H1N1). E agora os criadores estão se preparando para o primeiro caso confirmado de transmissão do vírus a um suíno no país, afirmam os especialistas.
Para além do impacto econômico do problema, os especialistas alertam que, caso transmitida aos suínos, a gripe A poderia passar por rápida mutação e adquirir forma mais mortífera, dadas as condições de superlotação que prevalecem em muitas das criações comerciais de suínos. Oficialmente conhecido como H1N1, o novo vírus da gripe A, ao que parece, foi formado com base em outras variantes presentes emsuínos. Sua presença já foi detectada em animais do Canadá, Argentina e Austrália, e agora, Estados Unidos.
“Sabemos que a carne suína não transmite o vírus da gripe, mas a percepção pública e a mídia noticiosa realmente transformaram esse assunto em um circo”, disse Baker. “E por isso estamos bem paranóicos com a possibilidade de destruição do nosso setor suinícola por conta do vírus, ainda que a preocupação quanto a isso não tenha base real”.
Gripe A é mais amena nos suínos?
Os germes da gripe são transmitidos de seres humanos para os suínos e de um animal para outro da mesma forma que germes são transmitidos entre seres humanos – tosses, espirros e corrimentos nasais. “Os suínos tossem e espirram bastante, quando infectados com a maioria dos vírus”, apontou Baker, que também é presidente da Associação Americana de Veterinários Suínos.
Mas comparados aos seres humanos, os suínos parecem menos prejudicados pelo vírus que porta seu nome, ele afirmou. Suínos aos quais foi administrado o vírus da gripe A (H1N1) por pesquisadores do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos passaram 48 horas tossindo, dormindo e sem vontade de comer, disse Baker. “Depois disso, se recuperaram rapidamente. Na verdade, os animais parecem se recuperar da gripe mais rápido que os seres humanos”.
Mutação da gripe A (H1N1)
Mas quando se instala nos suínos, o vírus da gripe A pode se combinar a outros vírus e ressurgir na população humana em variante mais agressiva, afirmam cientistas e observadores setoriais preocupados com essa possibilidade. “Os suínos servem como ótimo tubo de ensaio para novas mutações de vírus da gripe”, diz Robert Martin, um dos principais dirigentes do Pew Environment Group, de Washington, que em 2008 conduziu um estudo sobre operações industriais de criação de animais.
A maioria dos animais criados comercialmente hoje em dia são produtos de operações de alimentação confinada, nas quais milhares de animais ficam confinados em áreas restritas, onde são engordados para o mercado. “A preocupação é que, dada a presença de tantos animais, o vírus possa passar por diversas gerações de mutação ao longo de um período relativamente curto”, disse Martin.
Baker, o veterinário especializado em suínos, diz que vírus humanos e vírus de pássaros foram transmitidos aos animais em diversas ocasiões, na metade e no final dos anos 90, e se recombinaram a vírus porcinos para se tornar os novos vírus dominantes na atual população suína. Mas “jamais tivemos um caso de vírus que se recombinasse em suínos e viesse a se tornar o novo vírus humano, pelo menos até agora, a menos que no caso atual o vírus tenha sido transmitido de forma direta de um suíno a um ser humano”.
Em determinado momento, o novo surto de gripe A que está varrendo o globo pode ter se incubado em suínos, talvez formado por vírus originários de pássaros ou seres humanos. “Os ancestrais desse vírus foram localizados nos suínos, de modo que é provável que ele se tenha originado dos animais, em algum momento”, disse Raul Rabadan, biólogo da Universidade Colúmbia, em Nova York, que estudou as origens dessa variante.
Ainda que Rabadan e outros pesquisadores tenham sugerido que o atual vírus tem origem suína, o setor suinícola continua a não estar convencido. Baker diz que “a maior parte de nós, que trabalhamos no lado de criação de animais, está ainda em dúvida – imaginamos que o vírus possa ter surgido nos perus ou algo assim”.
Protegendo os suínos contra a gripe A (H1N1)
Para prevenir a transmissão do novo vírus H1N1 da gripe suína de pessoas para suínos, o Conselho Nacional de Criadores de Suínos dos Estados Unidos está recomendando que os criadores concedam licenças aos seus funcionários doentes e que, quando eles estiverem trabalhando, se lavem frequentemente e utilizem trajes protetores, em seu contato com os animais.
Outras sugestões incluem limitar o número de visitantes permitidos nas fazendas, monitoração de trabalhadores que tenham viajado ao exterior, observação estreita dos suínos em busca de sinais de infecção e, quando possível, encorajar os trabalhadores a se vacinarem contra a gripe suína, assim que a vacina estiver disponível.
O Departamento da Agricultura norte-americano produziu um chamado “vírus-base”, que diversas companhias farmacêuticas estão empregando para a fabricação de vacinas para suínos, ainda que elas não devam estar disponíveis antes de novembro, segundo Baker. Quando a vacina estiver disponível, seu uso não será obrigatório para os suinocultores, já que o consumo de carne de animais infectados com a gripe suína é seguro.
“Determinar se será necessário vacinar os animais contra o novo H1N1 dependerá diretamente da severidade que a doença atingir na população humana e de começarmos ou não a registrar casos na população suína”, disse John Clifford, diretor de veterinária do departamento, em conversa com jornalistas em setembro.
Os criadores podem optar por vacinar os animais contra gripe, de qualquer forma – uma prática comum já que animais doentes comem menos, crescem mais devagar e obtêm preços de venda menores, disseram funcionários do departamento à National Geographic.
Dada a percepção sobre a associação entre gripe suína e suínos, os produtores podem optar por vacinar seus animais a fim de manter sua imagem de marca, afirmou Baker.
Setor já prejudicado pela gripe suína
O setor suinícola já perdeu centenas de milhões de dólares desde que o vírus primeiro surgiu entre os seres humanos, em abril, diz Jennifer Greiner, diretora de ciência e tecnologia do Conselho Nacional de Criadores de Suínos, em Washington.
Ela disse, por exemplo, que “este ano não tivemos a alta usual nos preços da carne de porco durante o verão”, causada pelo maior número de churrascos. O setor de suinocultura promoveu uma campanha de marketing agressiva quanto à segurança da carne suína, mas teme que a mensagem não esteja chegando ao público.
Um surto muito alardeado de gripe suína entre os suínos poderia agravar ainda mais a situação, disse Greiner.