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Sanidade

Cientistas alertam para riscos da gripe aviária em áreas urbanas

Especialistas ressaltam que contágio de humanos acontece por meio do contato com animais mortos ou doentes e, mesmo assim, é raro até o momento

Cientistas alertam para riscos da gripe aviária em áreas urbanas

Dois casos de gripe aviária foram identificados na região metropolitana do Rio de Janeiro (RJ). Um trinta-réis-de-bando foi encontrado na Ilha do Governador, próximo ao Aeroporto Internacional do Galeão, e testou positivo para o vírus. Outro caso suspeito envolve um biguá em estado crítico, apresentando sintomas neurológicos característicos da doença, encontrado em Campos Elísios, Duque de Caxias, que foi encaminhado ao Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) do Ibama, em Seropédica. Os casos acendem alerta devido à grande população de aves marinhas na Baía de Guanabara e sua proximidade com áreas densamente povoadas, onde vivem cerca de 8,5 milhões de pessoas.

Autoridades de saúde e especialistas enfatizam que, no momento, não há risco para a população. No entanto, é importante que as pessoas evitem tocar em aves mortas ou doentes e relatem imediatamente aos agentes de saúde. O vírus H5N1 da gripe aviária possui potencial pandêmico e, por isso, a Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda um monitoramento rigoroso.

Relação gripe aviária x humanos

Até o momento, o vírus não consegue se transmitir de pessoa para pessoa. A infecção em humanos ocorre por meio do contato com animais mortos ou doentes, embora seja rara. No entanto, devido ao potencial de mutação do vírus e sua possível maior transmissibilidade, os governos federal, estadual e municipal estão monitorando a doença em regime de emergência.

Ministérios e órgãos governamentais têm realizado reuniões regulares, intensificado a vigilância sanitária e preparado medidas para conter o risco de epidemia em humanos e aves de criação. Foi elaborado o “Plano de Contingência para Influenza Aviária Altamente Patogênica (IAAP) no Estado do Rio de Janeiro” no âmbito estadual.

Como medida preventiva, todas as pessoas que tiveram contato com aves mortas estão sendo monitoradas, e o Cetas foi temporariamente fechado até que o risco de contaminação seja descartado.

De acordo com o Ministério da Agricultura e Pecuária, foram confirmados 13 casos do vírus H5N1 em aves silvestres no Brasil, sendo nove no estado do Espírito Santo, três no estado do Rio de Janeiro (na capital, Cabo Frio e São João da Barra) e um no sul do Rio Grande do Sul.

Os casos na Baía de Guanabara ressaltam a preocupação com a saúde humana, embora até o momento não haja transmissão do vírus entre pessoas, afirma Marilda Siqueira, chefe do Laboratório de Vírus Respiratórios, Exantemáticos, Enterovírus e Emergências Virais do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz).

Marilda destaca que o laboratório está de prontidão para testar casos suspeitos em humanos, e até agora todos os cerca de 40 casos examinados foram descartados. Existe uma coordenação entre os ministérios e outras instituições de saúde humana e animal para conter o risco de epidemia em humanos e animais de criação no Brasil.

Ela observa que a ameaça às aves silvestres é maior, e milhões delas já morreram em todo o mundo.A principal preocupação é com a saúde animal, tanto das aves selvagens quanto das de criação. Embora o Rio de Janeiro não tenha uma indústria avícola significativa, a doença se propaga facilmente.

A Baía de Guanabara abriga grupos de centenas de biguás e outras aves marinhas, e o Rio de Janeiro possui uma das avifaunas mais diversas do Brasil. O vírus H5N1 é altamente transmissível entre as aves.

Paulo Brandão, virologista da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de São Paulo (USP), afirma que existe um risco real de epidemia entre as aves, e uma vez que o vírus se estabelece em uma área, ele não desaparece. No cenário atual, o vírus não representa uma grande ameaça à saúde humana, pois são casos isolados e autolimitados. No entanto, para as aves, a situação é preocupante e trágica, representando uma grande ameaça à vida selvagem.

O H5N1 causa devastação em aves e já foi detectado em mais de cem espécies em todo o mundo. No Brasil, até o momento, foram identificadas seis espécies afetadas, incluindo trinta-réis-de-bando, atobá-pardo, trinta-réis-real, trinta-réis-boreal, corujinha-do-mato e cisne-de-pescoço-preto.

Ricardo Moratelli, especialista em saúde animal e zoonoses da Fiocruz Mata Atlântica, alerta para o risco de extinção das populações locais de cisne-de-pescoço-preto.

No momento, a situação demanda atenção e prevenção para a saúde humana, mas representa um alerta máximo e alto risco para a avicultura e a vida selvagem, destacam especialistas. O virologista Fernando Spilki, da Universidade Feevale, no Rio Grande do Sul, ressalta que é muito difícil prever o que vai acontecer.