A descoberta de um foco da Doença de Newcastle em uma granja de aves de corte no Rio Grande do Sul está causando prejuízos às empresas de frango brasileiras, devido ao autoembargo das exportações de produtos avícolas. No pequeno município de Anta Gorda, onde o foco foi encontrado, a notícia gerou confusão e medo, alterando a rotina da população desde a divulgação na quarta-feira (17).
Com uma população de pouco mais de 5.900 habitantes, a cidade, localizada a 185 km de Porto Alegre, viu seus moradores, especialmente os produtores rurais, se preocuparem com as consequências da doença. “Ninguém sabia o que iria acontecer. A entrega de ração para os aviários iria continuar? Todos dentro dos raios de 3 km ou 10 km a partir do foco teriam as aves abatidas?”, lembra Joelmo Balestrin, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Anta Gorda.
Nos primeiros dias após o anúncio, a doença era o principal assunto na cidade. “Nos grupos de WhatsApp, nos bares, em qualquer local, todo mundo só falava disso. Até começaram a circular informações erradas, uns questionavam a veracidade, outros diziam que não se poderia mais carregar suínos”, comenta Balestrin.
Na comunidade de Linha Paredão, onde a granja afetada está localizada, a rotina das cerca de 30 famílias locais mudou completamente. Equipes de vigilância sanitária passaram a circular constantemente, atuando tanto na propriedade afetada quanto em uma barreira que funciona 24 horas por dia para aspergir desinfetante nos veículos que passam, visando evitar a disseminação do vírus.
“Foi um baque para todo mundo, a maioria de nós nunca tinha nem ouvido falar dessa doença”, afirma Sedinei Cappellari, morador local que produz erva-mate e cria galinhas e vacas de leite. A reportagem não conseguiu contato com o proprietário da granja afetada, mas vizinhos destacaram que ele sempre manteve altos padrões de higiene.
Carlos Sordi, avicultor que aloja 70 mil aves em sua granja na comunidade de Capela São Braz, inicialmente teve dificuldade de acreditar na notícia. “É uma doença que já era um pouco esquecida pelo setor, fazia quase 20 anos que não havia um caso”, explica. A primeira reação na comunidade foi de pânico, especialmente com a presença das equipes de vigilância e barreiras nas estradas.
O governo do Rio Grande do Sul declarou estado de emergência em saúde animal para controlar o foco da Doença de Newcastle dentro de um raio de 10 quilômetros da granja afetada. Atualmente, 60 servidores, entre veterinários e técnicos agrícolas, estão visitando as 870 propriedades dentro dessa área, que incluem 47 granjas de aves de corte e duas de reprodução. Além disso, 40 policiais da Brigada Militar ajudam na desinfecção de veículos que transitam na região.
Carlos Sordi elogiou a resposta organizada e rápida das autoridades para evitar a disseminação da doença. Os criadores de aves dentro do perímetro de vigilância criaram um grupo de WhatsApp para trocar informações sobre a saúde e mortalidade dos animais. “Até agora não registramos nenhum problema. Os frangos estão com boa saúde, e esperamos que o caso seja solucionado em breve”, diz Sordi. Ele destaca que os avicultores já adotam muitas medidas sanitárias e agora deverão aumentar ainda mais essa atenção. “O produtor está agindo como tem de agir”, conclui.