A FACTA promoveu na quinta-feira (15/09) o Simpósio de vacinas autógenas para os sistemas de produção de aves, suínos e peixes, mais especificamente tilápias. As vacinas autógenas, as chamadas ‘auto vacinas’, são produzidas com antígenos inativados, sem risco de disseminar qualquer tipo de patógeno ao plantel.
O Médico Veterinário do Ministério da Agricultura, Marcos Vinícius Santana Leandro, abriu o evento com a palestra “Legislação Brasileira para Vacinas Autógenas em Saúde Animal”.
Segundo ele, o MAPA tem a função de disponibilizar o maior número possível de ferramentas para o diagnóstico, prevenção e tratamento de doenças dos animais, incluindo as zoonoses. “A redução das doenças traz o aumento de produtividade e bem-estar animal”, afirmou.
Ele abordou sobre a necessidade de atualização do regulamento de fiscalização de produtos de uso veterinário e dos estabelecimentos que os fabriquem ou comercializem e a atualização do regulamento técnico para produção, controle e emprego de vacinas autógenas.
Na sequência, o Professor Luiz Felipe Caron, da Universidade Federal do Paraná, destacou os princípios aplicados da vacinologia, vacinas não replicantes autógenas. Ele disse que as vacinas autógenas por definição devem atender alguns pré-requisitos para serem classificadas como tal. “E do ponto de vista produtivo, significa dizer ter identidade total com o local de uso, sendo desenvolvida a partir de seu desafio próprio, e aí a legislação regula os passos”, afirmou.
Uma vantagem das vacinas autógenas apontada por Caron para os veterinários é que não há necessidade de um processo de registro de longo prazo antes do uso das vacinas autógenas. “A desvantagem é que as vacinas autógenas não são testadas quanto à eficácia nem à segurança”, ressaltou.
Logo após, o Professor Fabio Augusto Vannucci falou sobre o “Porque vacinas autógenas em doenças bacterianas – Suínos”. De acordo com ele, há um significante impacto produtivo na atividade com o uso dessa ferramenta, alta variabilidade genética e antigênica e um amplo suporte técnico, com diagnóstico e escolha da amostra e implementação. “Há a expectativa de sucesso pela confiabilidade e precisão do diagnóstico e as estratégias diferentes de vacinas comerciais”, disse.
Na continuação, André Fonseca, da Simbios Biotecnologia detalhou “Porque vacinas autógenas para doenças virais”. Ele disse que no Brasil, o controle de infecções dos Reovírus aviários (ARV) pela imunização de matrizes e pintos jovens com cepas de vacinas vivas comerciais clássicas têm demonstrado baixa eficiência, como ocorre em outras partes do mundo ocidental. “E são as variações genéticas e antigênicas dos isolados de campo que têm comprometido a proteção, de modo que vacinas autógenas inativadas vêm sendo crescentemente oferecidas, tornando os reovírus aviários um exemplo emblemático, que bem ilustra e justifica o uso destas ferramentas”, apontou.
Henrique Figueiredo abriu logo após com o tema “Porque vacinas autógenas em doenças bacterianas em Tilápia”. Ele apontou os desafios, as perspectivas e benefícios do uso das vacinas autógenas na cadeia produtiva da tilápia. “Há uma elaboração de formulações vacinais otimizadas para a tilápia, com a viabilidade de vacinas tri ou tetravalentes. O desenvolvimento de formulações com vias alternativas de imunização, com vacina de imersão e vacina oral”, destacou.
Fechando a parte da manhã, o tema “Porque vacinas autógenas em doenças bacterianas em Aves” foi o tópico da Professora Terezinha Knöbl, da Universidade de São Paulo. De acordo com ela, as vacinas autógenas representam uma alternativa mais rápida para resposta a surtos, pois o tempo de execução é reduzido pela extinção de algumas etapas de ensaios pré-clínicos e clínicos, e a emissão de uma autorização para uso imediato. “São normalmente empregadas para garantir o bem-estar dos animais e reduzir os riscos de doenças e de perdas econômicas em situações em que não há uma vacina comercial disponível para aquele patógeno. Podem ser produzidas em um tempo de até 60 dias”, disse.
Abrindo o período da tarde, Larissa Pickler, da BRF apresentou um estudo de caso sobre matrizes pesadas. Ela contou que os sinais clínicos começaram a aparecer em matrizes, por volta de 7-10 a dias de idade. Eram observados na necropsia fígado edemaciado, aumento de tamanho, de coloração amarelada, com presença de focos de hemorragia e necrose difusos. A mortalidade inicial até 14 dias de idade chegava à 10%. Amostras de diversos órgãos (fígado, coração, baço, intestino, pulmão, traqueia) foram coletadas e enviadas para análises de histopatologia e bacteriológico.
“O Adenovírus, causador da Hepatite por corpúsculo de inclusão em aves, é um desafio presente na avicultura brasileira e resulta em alta mortalidade nas primeiras semanas de vida”, explicou. “A sorologia é uma ferramenta importante para o monitoramento e controle da doença”, detalhou.
Ainda segundo Larissa, hoje no Brasil, não existem vacinas comerciais disponíveis e as vacinas autógenas mostram-se promissoras no controle da doença, porém não há evidência proteção cruzada e há necessidade de monitoramento constante dos planteis, seja sorológico ou por isolamento e sequenciamento viral, de forma a buscar a atualização constante das vacinas autógenas.
Dando sequência, os fatores predisponentes e medidas de controle de Actinobacillus pleuropneumoniae foram abordados pelo médico-veterinário, Yuso Henrique Tutida, que explicou que o Actinobacillus pleuropneumoniae (App) é um dos agentes bacterianos mais relevantes para a suinocultura mundial, dada a sua presença em grande parte dos rebanhos e as importantes perdas econômicas associadas ao aumento da mortalidade, quedas de desempenho, custos com medicamentos e vacinas, e condenações de carcaças ao abate. “Para que os métodos efetivos de controle já utilizados e os fatores predisponentes à pleuropneumonia sejam discutidos no presente documento, é necessário compreender algumas particularidades do agente”, afirmou.
As vacinas autógenas na tilapicultura: experiência da piscicultura Itaparica, em Glória, na Bahia, foi o tema de Bruno Santos, da Piscicultura Itaparica/Raguife. Ele afirmou que o crescimento acelerado da criação de tilápias, inevitavelmente, proporciona o surgimento de desafios sanitários variados que, a cada ano, têm proporcionado prejuízos a todo o setor, especialmente pela ocorrência de mortalidades, bem como pelo aumento dos custos de produção, além da necessidade de uso de antimicrobianos. “Desta forma, a cada novo patógeno que emerge na criação de tilápia faz com que os produtores se adaptem às novas realidades sanitárias, demandando adequações em seu manejo de produção para proteger o seu plantel e zelar para que sua atividade seja um negócio rentável durante os 12 meses do ano”, disse.
A médica-veterinária Cristiane Cantelli, do Grupo Mantiqueira apresentou logo após o seu estudo de caso de uso de vacinas autógenas na postura comercial. Segundo ela, esta ferramenta é utilizada em postura comercial para a prevenção de colibacilose, salmoneloses, coriza e outras enfermidades. “Ela é importante quando bem adequada ao programa vacinal, dentro de uma gestão sanitária”, disse. Cristiane apontou que as vacinas autógenas são uma ferramenta importante a serem consideradas pela avicultura de postura em um ajuste específico do programa vacinal.
Na sequência, o médico veterinário G. Donald Ritter, da Poultry Business Solutions LLC, trouxe o estudo de caso sobre as estratégias de vacina autógena IBDV na produção de frangos de corte. Ele destacou que a otimização da proteção passiva do IBDV é um processo contínuo nos Estados Unidos. “As variantes de IBDV que causam imunossupressão comumente surgem em regiões densas de frangos de corte. A triagem estratégica para o surgimento de variantes de IBDV é importante para ficar à frente desse desafio da doença em evolução”, disse.
E fechando o evento, foi a vez do professor Guilherme Arruda Cezar, da Iowa State University College trazer o tema “Uso de sequenciamento genômico no monitoramento e vacinação contra Influenza A virus (IAV) – um estudo de caso”.
O estudo demonstrou que é vital isolar e sequenciar consistentemente o IAV de casos clínicos. “Existem muitos agrupamentos dentro dos agrupamentos H1 e H3, exigindo sequenciamento e comparação de homologia de sequência e análise de dendrograma para determinar quando as vacinas autógenas são necessárias e quando precisam ser atualizadas”, disse.
Uma lição importante aprendida é monitorar as manchas que circulam dentro de um sistema de produção é fundamental para controlar os surtos de IAV. “A atualização da vacina utilizada manterá o rebanho com imunidade homóloga ao vírus atual. Produtores e empresas devem verificar o produto vacinal final que o laboratório de vacinas autógenas produz e é crucial garantir que os isolados corretos estejam contidos na vacina”, ressaltou. As vacinas autógenas, segundo ele apontou, são ferramentas importantes para controlar patógenos endêmicos também em granjas suinícolas.