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Sanidade

PEDV avança na Colômbia, EUA discute contaminação via ração e Brasil continua sem plano de contingência

A preocupação no Brasil aumentou a partir da presença do vírus em países vizinhos, contaminando suínos na Colômbia e no Peru.

PEDV avança na Colômbia, EUA discute contaminação via ração e Brasil continua sem plano de contingência

A pouco mais de um ano a sigla PEDV não tinha nenhum significado especial para a maioria das pessoas que trabalham com produção de suínos ao redor do planeta. Análises econômicas, de produção e produtividade ignoravam qualquer mudança de cenário que fosse além da variação de preços das commodities, de embargos recorrentes no leste europeu, de surtos de doenças conhecidas na Ásia e das aquisições e fusões na indústria frigorífica.

Mas com o início das grandes ondas de mortalidade de leitões ocorridas nas granjas americanas, canadenses e mexicanas a palavra PEDV se tornou, com o perdão do trocadilho, um verdadeiro “viral” na internet. Não há seminário, reunião ou roda de conversa de profissionais ligados à suinocultura onde deixe de se comentar ou especular a respeito da doença. A preocupação no Brasil aumentou a partir da presença do vírus em países vizinhos, contaminando suínos na Colômbia e no Peru.

Na Colômbia a doença segue avançando, com a registro de mais de 100 casos suspeitos e mais de 50 confirmados. O isolamento florestal e a distância dos centros de produção de suínos do Brasil fazem da Colômbia e do Peru vizinhos de menor risco, no entanto se a doença chegar à Bolívia ou Paraguai nosso risco aumenta tremendamente, pela extensa fronteira seca com o Brasil, pelos inúmeros pontos de acesso nesta fronteira e pela proximidade com a produção de suínos do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Paraná.

Uma nova preocupação em relação à disseminação do vírus diz respeito ao papel das matérias-primas para ração e mesmo ração pronta, até mesmo granulada, como veículo de contaminação de granjas. Há um grande debate nos Estados Unidos sobre este assunto, sobretudo pelo fato de granjas com alto grau de biossegurança terem sido contaminadas. As granjas americanas fizeram grandes investimentos em segurança sanitária em razão da epidemia de PRRS (Síndrome Reprodutiva e Respiratória dos Suínos) que atingiu o país na década de 1990. Agora, granjas com avançados sistemas de prevenção de doenças, que conseguiram ficar livres da PRRS, acabaram contaminadas com PEDV, o que aumentou a discussão a respeito da importância da ração e matérias-primas na epidemiologia da doença.

Para a cadeia da carne suína brasileira, pelo menos até o momento, o fato do país não ter sido infectado é um alívio. No entanto, deve ficar o alerta de como situações que parecem sob controle podem deflagrar um ciclo de perdas em toda uma economia, e cabe-nos o dever de ampliar a prevenção e aumentar a informação. Há mais de um ano cobra-se do Ministério da Agricultura (MAPA) um plano de contingência para a doença. Por definição um plano de contingência, também chamado de planejamento de riscos, tem o objetivo de descrever as medidas a serem tomadas em uma situação anormal, como é o caso de uma epidemia, evitando-se maiores prejuízos.

Não é nenhuma novidade para nossa defesa sanitária, e podemos citar como exemplo o Plano de Contingência para Influenza Aviária e Doença de Newcastle, documento com mais de 50 páginas de informações sobre todos os procedimentos operacionais para casos suspeitos ou confirmados destas doenças, e que integra o Programa Nacional de Sanidade Avícola (PNSA) do MAPA. Alguém sabe qual é o desinfetante de eleição para granjas contaminadas com diarreia epidêmica, a quem recorrer caso haja uma suspeita na granja, quais laboratórios brasileiros estão preparados para fazer um diagnóstico da doença, as medidas legais cabíveis em caso de introdução da doença no país, em um estado ou numa propriedade? São estas e outras questões que estarão devidamente descritas em um plano de contingência, e o documento servirá de norte para qualquer emergência sanitária.

Mas há também medidas que a própria cadeia produtiva pode tomar para aumentar a informação a respeito do assunto. Como exemplo temos o material preparado pelo fundo americano da cadeia de suínos (Pork Checkoff), com extensa quantidade de informação a respeito do vírus da diarreia epidêmica suína, métodos diagnósticos, medidas de eliminação da doença em diversos sistemas de produção de suínos e protocolos de biossegurança para os principais fatores de risco. Outra medida interessante foi adotada pelo Asociación Colombiana de Porcicultures (Porcicol) que disponibilizou em seu site uma grande quantidade de informação de maneira clara e acessível sobre todos os aspectos da doença.

Que os graves eventos ocorridos na américa do norte e a presença da doença em países vizinhos ao Brasil sirvam para chamar a atenção da suinocultura brasileira para a necessidade de ações conjuntas entre governo e setor produtivo, não só para a doença do momento, mas para situação de toda defesa sanitária em nosso país.