Depois de nove anos sem registro de casos de febre aftosa, o Rio Grande do Sul começou nesta terça, dia 29, a discutir a retirada da vacinação contra a doença. Esse é o primeiro passo para que o Estado solicite à Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) o reconhecimento como zona livre de febre aftosa sem vacinação.
Governo, indústrias e pecuaristas não têm dúvida de que é hora do Rio Grande do Sul retomar a discussão sobre a retirada da vacina contra a febre aftosa. Mas ainda há dúvidas se o Estado está pronto para isso.
“Eu acho que o Estado está pronto para começar a dar os primeiros passos, mas são passos cautelosos”, disse o secretário de Agricultura do RS, Gilmar Tietböhl.
“Nós temos consciência que nós queremos isso, mas ainda não estamos preparados”, acrescentou o diretor executivo do Sindicato da Indústria da Carne e Derivados no Estado (Sicadergs), Zilmar Moussali.
“A Farsul entende que a retirada da vacina deve ser um meta que só poderá ser atingida quando nós ganharmos condições para retirar, porque a única coisa certa é que a aftosa sempre volta e quando voltar nós temos que ter toda a estrutura e condições para eliminar esse vírus rapidamente”, avaliou o assessor de pecuária da Farsul, Fernando Adauto Loureiro da Silva.
A última vez que o Rio Grande do Sul parou de vacinar o rebanho contra a febre aftosa foi em abril do ano 2000. Na época, o Estado estava há sete anos sem registros de casos da doença. Porém, em agosto daquele mesmo ano, no município de Jóia, no norte do Rio Grande do Sul, foi identificado um foco da doença. O vírus rapidamente se espalhou pela região obrigando os pecuaristas a sacrificarem mais de onze mil animais.
O Ministério da Agricultura reconhece que as mudanças são um primeiro passo para um controle sanitário mais eficiente e recomenda que outras medidas sejam adotadas.
“O nosso negócio hoje é impedir que esse vírus ingresse. Para impedir que o vírus ingresse e para isso necessariamente temos que melhorar a vigilância de fronteiras, de divisas e especialmente ter um sistema reativo a qualquer incursão. Nós temos muitos exemplos de países que retiraram a vacina e que tem eventos de febre aftosa e rapidamente conseguem recuperar status, porque tem sistemas reativos rápidos suficientes que permitem abafar, acabar com aquele foco e trazer a estabilidade novamente”, disse o chefe do serviço de saúde animal, Bernardo Todeschini.
A secretaria Estadual da Agricultura informatizou o sistema de vigilância e capacitou os técnicos, mas é preciso fazer mais.
“Basicamente, uma mudança de consciência é necessária. O produtor participa mais dessa ação de controle da febre aftosa nessa fase e alguns pontos estruturais como postos de divisas, algumas formalidades com países e Estados vizinhos, que essas ações sejam dirigidas nesse contexto de retirada de vacina e também bastante gestão pessoal, questão de emergência, manter o pessoal atualizado para que tenha uma resposta efetiva as ameaças externas hoje”, disse o gerente do Programa Febre Aftosa do RS, Fernando Groff.
As indústrias de carnes suínas acreditam que um novo status sanitário para o Rio Grande do Sul vai permitir que os gaúchos sonhem com mercados atualmente restritos a quem não aplica mais a vacina contra a febre aftosa.
“Hoje o Estado de Santa Catarina está chegando a diversos mercados como Estados Unidos, Canadá, Coreia e Japão, que são países que tem na sua legislação a prerrogativa de não vacinar, mesmo que seja outra espécie animal. Então o RS teria uma facilidade maior para acessar esses mercados que são mercados importantes para a carne suína”, defendeu o diretor de mercado externo da Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs), Rui Vargas.
Na sua propriedade em charqueadas, a 60 quilômetros de Porto Alegre, o pecuarista Henrique Orlandi aprova a retirada da vacina e defende um sistema sanitário mais eficiente inclusive com a participação dos países do Mercosul. Com um rebanho de 1,8 mil animais da raça angus, ele também acredita que o fim da vacina vai ampliar as exportações.
“Isso abre um mercado que hoje está fechado em alguns países, justamente por sermos uma zona livre de aftosa com obrigatoriedade de vacinação”, disse o pecuarista Henrique Orlandi.