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Artigo

Suíno seguro

Josete Garcia Bersano apresenta, em artigo, o desafio de se criar suínos com sanidade. Ela foca os suinocultores familiares.

Suíno seguro

A saúde da população, o meio ambiente e, sobretudo o bem estar animal deve ser respeitado quando o objetivo é produzir suínos com qualidade. Na prática, nem sempre esses princípios são observados originando verdadeiras concentrações de animais manejados inadequadamente. O bom senso deve prevalecer sobre quaisquer que sejam as razões que motivam o cidadão a iniciar uma criação de suínos, quer para “consumo próprio” ou para comercialização. O suinocultor deve estar sempre atento para fatores importantes como manejo sanitário e manejo zootécnico, pois deles também dependem o sucesso do empreendimento, ou seja, do negócio agrícola. Isto porque, criar suínos adequadamente também é um negócio, e como tal, deve ser encarado.

A seguir, enfatizamos alguns tópicos que visam auxiliar aos suinocultores familiares na simples, mas laboriosa tarefa de criar suínos saudáveis.  

•                    Cuidados com o tratador:

A boa aparência pessoal faz parte do negócio. O uso de trajes limpos e adequados dentro das instalações (botas, luvas e macacões), além de proteger o tratador, evita a disseminação de doenças dentro da própria criação e estimula os negócios, portanto, o uso da mesma roupa fora das instalações deve ser evitado.

Cortesia e atenção, também fazem parte do negócio: atitudes bruscas estressam os suínos, afastam familiares e atrapalham os negócios.

•                    Cuidados com o entorno:

O entorno das instalações também faz parte do “cartão de visitas”.

Propriedades que não praticam “um lugar para cada coisa e cada coisa em seu lugar” são de difícil administração.

Lixo deve ser jogado no lixo. O hábito de separar o lixo para reciclagem deve ser explorado.

Evitar a promiscuidade de animais. Galinhas devem estar no galinheiro, cães no canil, gatos bem longe e ratos não podem existir. Ele são fonte de disseminação de doenças em uma propriedade.

•                    Cuidados com as instalações:

As instalações devem ser caiadas periodicamente por fora e por dentro. Essa medida, além de conservar a construção, higieniza o ambiente.

A utilização de um pedilúvio na entrada das instalações ajuda na prevenção de doenças.

Visitas de amigos e pessoas estranhas devem acontecer fora das instalações dos animais

A utilização de cortinas na maternidade protege os animais, principalmente nos dias frios.

Fezes e urina acumuladas, além de odor proporcionam o aparecimento de insetos e roedores.

Teia de aranha só interessa às aranhas. Para combatê-las é aconselhável o uso periódico de vassoura de fogo.

•                    Cuidados com os animais:

Os animais devem ser tratados com respeito, mesmo sendo para produção. Eles são a fonte de seu sustento e de sua família.

Não utilizar restos de alimentação de humanos.

Ruído excessivo estressa os animais prejudicando o seu desempenho.

Suíno sujo depõe contra o tratador, dificulta o manejo e pode ser fonte de transmissão de doenças.

Devem receber água limpa, fresca e à vontade.

Os suínos devem ser alimentados com ração formulada conforme a idade, observando que existem rações apropriadas para reprodutores. A comida deve ser oferecida de acordo com o manejo da criação. Nunca em quantidades inferiores às necessidades dos animais.

Observar atentamente o prazo de validade dos medicamentos/vacinas a serem utilizados nos animais.

•                    Dados básicos de manejo zootécnico na suinocultura

Peso ao nascer: entre 1,2 a 1,4 quilogramas .

Terminação: 22 quilos.

abate com cerca de 80 a 120 kg de peso vivo aos 5 a 6 meses de idade.

Os leitões machos são castrados entre 7 a 10 dias de vida para que sua carne, quando abatido, seja de boa qualidade quanto ao sabor e ao aroma.

As fêmeas (isto é, as leitoas) são preferencialmente aproveitadas no rebanho como reprodutoras ou então são vendidas como reprodutoras. Aquelas que não são aproveitadas como matrizes também são engordadas e sem necessidade de castração.

Os animais mantidos para reprodução, chegam a pesar mais de 300 quilogramas na fase adulta, aos 2 a 3 anos de idade.

O cachaço, ou varrão ou varrasco, como é chamado o reprodutor suíno macho, é o animal com idade mínima entre 7 a 8 meses de idade e pesando entre 120 e 140kg que tem a capacidade de cobrir as matrizes e de fertilizá-las.

 Tipicamente, um cachaço pode cobrir desde 15 matrizes (quando tem cerca de um ano de idade) até 30 a 40 matrizes (quando têm 2 ou mais anos de idade), por ano.

A fêmea reprodutora suína é chamada de “matriz”. Quando já produziu mais de uma gestação, ela é conhecida como “matriz multípara”.

A fêmea reprodutora suína que não pariu nenhuma vez é chamada de matriz nulípara ou marrã.

A marrã em idade para realizar sua primeira gestação deve ser coberta aos 7 a 8 meses, quando estiver pesando entre 100 à 120 kg.

Isto faz com que, geralmente, seja econômico substituir as mais velhas após terceiro parto, entretanto a vida útil permite que elas atinjam 6 crias O tempo de gestação das porcas é de 3 meses, 3 semanas e 3 dias (isto é, 114 dias). Após este período se dá o parto (ou parição), evento que marca o início da amamentação ou lactação.

As porcas devem ter no mínimo 14 mamilos (7 de cada lado da parte inferior do corpo, na região abdominal e torácica) para amamentar seus leitões.

Uma boa porca produz até 300 litros de leite para cada leitegada (ninhada de leitões provenientes de um parto de uma matriz). Assim, ela é mais exigente em termos de nutrição, que uma porca em gestação.

Uma porca amamentando 10 leitões produz cerca de 10 litros de leite por dia de maneira que o desmame dos leitões se dá entre aos 28 dias (desmame precoce) e 56 dias (desmame tradicional), pesando entre 8 e 22 kg, respectivamente.

A nova cobertura (ou inseminação artificial) se dá cerca de 4 a 8 dias após o desmame. Assim, é possível obter desde 2,0 até 2,2 partos por matriz por ano.

As matrizes de raças melhoradas podem produzir entre 14 a 17 leitões por parto em condições ambientais e nutricionais adequadas. Também nessas condições, a taxa de mortalidade dos leitões até o desmame é de cerca de 9,1%. Desta maneira, porcas de sistemas industriais podem desmamar até 30 leitões por ano.

Como os suínos são abatidos com cerca de 100 kg, as crias que uma fêmea produz em um ano de sua vida reprodutiva podem produzir cerca de 3.000 kg de peso vivo. Para se ter uma idéia comparativa, uma vaca produz apenas um bezerro por ano o qual alimentado sob condições de pastagem pode levar de 18 a 24 meses para atingir peso de abate de 450 a 500 kg de peso vivo.

•                    Medidas para evitar o aparecimento de doenças

Cercar a propriedade para impedir a entrada de animais estranhos

Manter rigorosa higiene nas instalações:

O sistema de manejo “todos dentro, todos fora”, possibilita a limpeza e desinfecção completa das salas e a realização do vazio sanitário. Nas fases de cobertura e gestação, normalmente utiliza-se o sistema contínuo, sem realização de vazio sanitário. Por esta razão, para reduzir a contaminação do ambiente, deve-se lavar e desinfetar as baias ou boxes sempre que um lote de fêmeas for retirado. Iniciar a limpeza úmida no máximo 3 horas após a saída dos animais.

Não adquirir animais de procedência duvidosa (eles podem introduzir enfermidades na criação)

Realizar quarentena antes de introduzir animais no plantel. O animal deve ficar separado do restante e sob observação diária. Qualquer alteração de comportamento deve ser comunicada ao médico veterinário

Evitar excesso de animais em cada baia. A superlotação estressa os suínos, dificulta a limpeza e predispõem as doenças respiratórias.

Separar os lotes por idade. Esta prática facilita principalmente o manejo.

Conhecer o estado sanitário do plantel. O controle das enfermidades reprodutivas (Doença de Aujeszky, parvovirose, brucelose, leptospirose), deve ser realizado através de exame de sangue periódico (duas vezes ao ano).

Pesquisar a causa das mortes no plantel. Mortalidade acima de 10%, principalmente em leitões, deve ser investigada. As enfermidades reprodutivas podem estar envolvidas e são fatores que limitam a produção de suínos. Nessas ocasiões o laboratório deve ser consultado.

Enterrar ou incinerar restos de alimentos, detritos e cadáveres de animais.

Providenciar o destino adequado dos dejetos (caixas de decantação/biodigestor). Dejetos a céu aberto podem ser fontes de infecção para os animais e para o homem.

Evitar o uso indiscrinado de antibióticos. Os antibióticos devem ser utilizados estritamente quando necessário e sob recomendação do médico veterinário. O envio de material ao laboratório evita o uso abusivo deste medicamento. Convém salientar que os antibióticos não curam doenças provocadas por agentes virais.

Vacinação

As vacinas são utilizadas para prevenir doenças. Não fazem efeito e milagres quando a enfermidade já está ocorrendo nos animais. Existem muitas vacinas disponíveis no mercado para atender as necessidades da suinocultura. A decisão de quais vacinas utilizar depende de uma avaliação da criação. Não se deve introduzir uma vacina sem prévio estudo do custo x benefício. Um programa básico de vacinação inclui as seguintes vacinas: parvovirose, leptospirose, colibacilose, rinite atrófica, pneumonia enzoótica.

O Instituto Biológico em parceria com o Instituto de Zootecnia, Instituto de Economia Agrícola, CODEAGRO, CATI e Defesa Sanitária do Estado, desenvolve pesquisa voltada ao segmento da suinocultura familiar, sendo responsável pelo suporte à sanidade suína.

O Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Sanidade Animal possui diversos laboratórios que atuam em pesquisa e prestação de serviços, entre os quais, exames laboratoriais e orientação técnica aos suinocultores familiares estando apto a emitir laudos sobre o diagnóstico das principais enfermidades que afetam a suinocultura deste e de outros Estados.

Josete Garcia Bersano, Diretor Técnico do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Sanidade Animal – Instituto Biológico-São Paulo