Redação (11/10/06) – Santa Catarina convive com uma situação exasperante e injusta: detentor de excelência sanitária, o Estado se vê privado de exportar carne suína para alguns dos mais importantes mercados mundiais, como o russo, em razão de o governo federal ter descurado sua lição de casa ao deixar de vacinar os rebanhos nacionais. Como conseqüência, no ano passado surgiram focos de febre aftosa no Centro-Oeste do país, o que levou a Federação Russa a suspender, em dezembro, as importações de carne suína, imposição que perdura até hoje.
Se a economia ajudar, Santa Catarina quando muito poderá lograr a exportação este ano de 300 mil toneladas de carne suína, quando no ano passado chegamos a comercializar com o exterior 400 mil toneladas. Exatamente por isso é de suma importância que o governo brasileiro e as autoridades estaduais conduzam com o máximo de zelo e responsabilidade os trâmites para a recuperação, junto à Organização Internacional de Epizootias (OIE), do status de ”área livre de aftosa sem vacinação”, um privilégio catarinense no conjunto de unidades federadas e só compartilhado com o Chile em toda a América do Sul.
A reunião em que a OIE avaliará o pleito catarinense deverá ocorrer em março próximo, e até lá o Estado e o país deverão se ater, principalmente, a questões soroepidemiológicas. Tem sido árduo o trabalho desenvolvido nos últimos anos por produtores rurais e toda a cadeia agroindustrial catarinense. Não obstante sua qualificação, o Estado tem amargado perdas em razão de equívocos os mais diversos perpetrados pelo Executivo central.
Câmbio francamente adverso, embargo russo, redução de investimentos federais em sanidade animal, crônica deficiência nos setores de transporte e portuário, lentidão governamental na resolução das questões relativas às dívidas dos produtores, timidez oficial na condução dos interesses comerciais brasileiros no exterior e vários outros problemas, entre os quais os climáticos e a persistência da gripe aviária em outros países, fizeram que tanto a agroindústria como a agropecuária em geral tivessem, nos primeiros seis meses de 2006, um desempenho que, na média, apenas repetiu o do ano passado, se tanto. A agroindústria brasileira cresceu tão-só 1,1% no primeiro semestre, muito abaixo da média histórica.
O pior é que, para infortúnio dos que labutam de sol a sol e pagam suas contas infladas com os juros mais altos do planeta, o governo federal parece não ter conquistado sabedoria com os erros até aqui cometidos.
O próprio Tribunal de Contas da União (TCU), em agosto, denunciou em relatório que Brasília não está agindo a contento para a resolução de falhas graves no sistema de vigilância sanitária nacional, o que é péssimo para a imagem do país junto à comunidade internacional. Em portos, aeroportos, postos de fronteira, laboratórios e salas de análises as deficiências estruturais e de pessoal são gritantes. Alerta o TCU que a ocorrência de novos problemas sanitários e fitossanitários será questão de tempo. Torçamos pois para que o governo federal recupere o bom senso e comece a atuar como de fato precisa neste setor vital para nosso comércio exterior. Torçamos e cobremos.