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Aminoácido combate doença avícola

Coccidiose aviária, que causa prejuízo de US$ 60 milhões, pode ser curada com nova técnica.

Redação AI 05/06/2003 – A avicultura comercial brasileira acaba de ganhar uma alternativa para o combate da coccidiose aviária, doença que causa prejuízos anuais de US$ 60 milhões no Brasil, segundo estimativas de pesquisadores. A inovação traz importantes ganhos para o setor. A seqüência de 12 aminoácidos descobertos pelos pesquisadores, agrupamento chamado de peptídeo – capaz de destruir esporozoítos de Eimeria, a primeira forma do parasita gerador da doença -, torna o controle da patologia mais simples e permite a venda de uma carne de frango livre de resíduos químicos, deixados por remédios usados no combate à doença.

Este tem sido um dos problemas para o controle da patologia, com medicamentos anti-coccidiose sobre planteis destinados à exportação. Além do efeito parcial e em alguns casos nulo, o remédio deixa resíduos na carne, o que eleva as barreiras ao acesso a mercados europeu e asiático, o que não ocorre com o peptídeo. No organismo, a seqüência de aminoácido é absorvida pelo organismo do frango, se transforma em proteína. Segundo o pesquisador, Arnaldo da Silva Júnior, o peptídeo incorpora ainda duas proteínas fornecidas hoje como complemento alimentar, a lisina e o triptofano.

A patologia produz fortes perdas econômicas, seja na incapacidade de o plantel ganhar peso (entre 1,5 e 2 quilos) para abate em 45 dias, seja no custo de vacinas ou antibióticos administrados para o controle da doença. A patologia proporciona perdas mundiais estimadas de US$ 1,5 bilhão por ano.

O desafio dos pesquisadores agora é a produção em escala da seqüência de aminoácidos e o teste final em frangos. Indústrias internacionais já tentam obter a licença da tecnologia para a produção. A alternativa mais considerada é expressar o peptídeo, invenção que ganhou o batismo científico de PW2, no DNA do milho, base da alimentação dos frangos. A idéia é a de criar uma ração funcional.

Mas as restrições existentes para o desenvolvimento de organismos geneticamente modificados deverão forçar o licenciamento da tecnologia a uma empresa internacional. A reportagem apurou que as exigências para o desenvolvimento de milho transgênico com estas características no País geram limitações em recursos para a execução. Pelo menos a patente para a invenção já foi depositada nos EUA, Europa e Brasil. A patente assegura os direitos sobre o peptídeo descoberto, suas variáveis e o método usado para identificá-lo.

O uso da tecnologia poderia acelerar os ganhos de produção obtidos nos últimos anos. Em 2001, a produção total, segundo a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil-CNA, foi de 6,7 milhões de toneladas e subiu para 7,5 milhões de toneladas em 2002 e pode bater as 7,89 milhões de toneladas neste ano. O Valor Bruto da Produção é estimado em R$ 12,6 bilhões.

A novidade desenvolvida por pesquisadores do Centro de Biologia Molecular e Engenharia Genética (DBMEG), do Departamento de Parasitologia, do Instituto de Biologia, ambos da Unicamp, e do Centro de Ressonância Magnética Nuclear da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), consegue atacar as formas mais comuns do parasita nas granjas brasileiras: E. acervulina; E. máxima; e E. tenella. Na pesquisa “in vitro”, o peptídeo mostrou-se eficaz na destruição da membrana do parasita, na primeira forma do protozoário antes deste iniciar o ataque às células intestinais do frango.

Nova molécula
Os pesquisadores, coordenados pelo professor Adilson Leite, falecido no início do ano, conseguiram desenhar nova molécula. Eles elaboraram depois de fazer uma varredura numa grande biblioteca de peptídeos, que foram geradas com a utilização de um bacteriófago M13 – um vírus capaz de infectar bactérias, no caso, a bactéria Escherichia coli. A varredura da biblioteca conseguiu identificar aquelas seqüências com maior capacidade de “encaixe” sobre o invólucro da Eimeria.

Eram proteínas que poderiam não apenas aderir à membrana do parasita como destruí-la. Com isso, o ataque aos esporozoítos de Eimeria (primeira fase do parasita), depois desta cruzar o aparelho digestivo do frango e se liberar da proteção, pode evitar a instalação desta no núcleo das células intestinais. Com isso se evitaria os danos de vasos sangüíneos, evitando a hemorragia, e a capacidade de retenção dos nutrientes da ração, fundamental para o organismo ganhar peso.

Esta foi a primeira vez que a técnica de “phage display” (exposição em fagos) – usada para esta varredura – foi aplicada para a obtenção das seqüências de aminoácidos e jamais havia sido usada para o desenho de um agente antimicrobiano. “Descobrimos algo que abre um leque enorme de possibilidades”, diz Arnaldo da Silva Júnior, pesquisador do CBMEG que elaborou o trabalho como tese de doutoramento.