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Artigo Técnico

Surtos de Influenza Aviária: evolução, controle e seus reflexos no mercado avícola.

Redação AI 13/06/2002 – O Brasil é o terceiro maior produtor de frangos do mundo, superado apenas pelos Estados Unidos e muito próximo à China. O PIB gerado pelos produtos avícolas supera os 12 bilhões de Reais. A explicação para o sucesso da avicultura industrial no Brasil passa por diversos fatores:

– O País possui uma vasta área de solos agricultáveis, ainda não totalmente explorados.

– O clima tropical e subtropical permite duas safras anuais, em alguns casos até três.

– O Brasil produz quase 5% da safra mundial de milho e quase 19% da safra mundial de soja.

– O regime de chuvas é adequado ao plantio sem irrigação em grande parte do território.

– Em zonas mais áridas existe água de subsolo em abundância para irrigação.

– A mão de obra disponível na agricultura é de baixo custo em relação mercado internacional.

– O pais possui uma grande malha de energia elétrica, de transporte rodoviário e de telecomunicações.

– O custo de produção de frangos (carcaça) no Brasil é o menor do mundo.

– O custo de produção de ovos de mesa é um dos menores do mundo.

– Mesmo contando com o maior rebanho bovino do mundo, com mais de 170 milhões de cabeças, o mercado interno ainda é capaz de consumir 30 quilos de carne de frango per capita, e 5,5 quilos ovos per capita, para uma população estimada de quase 170 milhões de habitantes.

– Mesmo não contando com subsídios para exportação de frangos o Brasil é o segundo maior exportador de frangos do mundo.

Por tudo isso o país, mais que um importante “player” do mercado internacional de agronegócios, o Brasil é uma constante ameaça a todos os grandes produtores internacionais de grãos e proteína animal. Por isso é alvo de contínuos ataques de concorrentes das diferentes áreas produtivas.

Segundo o Ministro Pratini de Moraes (Conjuntura Econômica, vol.54, no 12, Dezembro de 2000) os países ricos “colocam” 1 bilhão de dólares por dia em subsídios na área de commodities. Mesmo assim as projeções do agronegócio no Brasil para o futuro são bastante otimistas. Até 2.002 as exportações dos produtos avícolas brasileiros devem atingir a cifra de US$ 1,2 bilhão de receita.

Entretanto, se não contarmos com uma sólida estrutura de controle da saúde animal, poderemos, a qualquer momento, ser surpreendidos por enfermidades exóticas ou o até mesmo assistir o recrudescimento de enfermidades que hoje se encontram sob controle.

Pelo exposto pode se avaliar a importância da produção avícola nacional tanto como fonte de proteína animal (frangos e ovos), acessível para toda a população, como um importante produto na pauta de exportações, colaborando com a balança comercial. Não podemos esquecer que o setor avícola brasileiro gera, aproximadamente, ao redor de 2 milhões de empregos.

Introdução

A Influenza Aviária (IA) é uma enfermidade epizoótica das aves causada por vírus da influenza do tipo A, da família Orthomyxoviridae, semelhante a gripe dos humanos. A IA tem distribuição mundial e é isolada com freqüência de muitas espécies de aves, de suínos e até de humanos. Apenas os vírus do tipo A podem ser patogênicos para as aves. Existe uma grande variação de virulência entre os subtipos. Algumas amostras causam apenas uma discreta sintomatologia respiratória e ou digestiva. Já outros subtipos podem causar severos quadros respiratórios, digestivos e nervosos, chegando a 100% de mortalidade em pouco espaço de tempo. A influenza aviária e a Doença de Newcastle são as duas únicas enfermidades avícolas da Lista A da OIE (Office International des Epizooties) de notificação obrigatória aos órgãos oficiais.

Etiologia

Os vírus da influenza pertencem a família Orthomyxoviridae. Existem três tipos de vírus: A, B e C. Os tipos B e C são encontrados somente em humanos. Todos os vírus da influenza aviária (VIA) são do tipo A que também podem ser encontrados em vários mamíferos, domésticos ou selvagens, terrestres ou aquáticos, inclusive no homem. Os vírus de influenza são RNA vírus de cadeia simples. Os vírus de influenza são tipificados através da análise das nucleoproteínas e proteínas da matriz viral. As partículas viras possuem envelope de onde saem projeções glicoproteicas: hemaglutinina (HA) e neuraminidase (NA). Existem 15 diferentes proteínas HA e 9 diferentes proteínas NA. Teoricamente são possíveis 15 x 9 combinações ou subtipos. A confirmação dos subtipos está baseada na sorologia.

A HA é a responsável pela ligação do vírus na célula receptora e também pela capacidade hemaglutinante do vírus. Os anticorpos contra HA são muito importantes na neutralização do vírus e na proteção contra a infecção.

A NA é a responsável pela liberação de novos vírus das células do hospedeiro através de sua ação sobre o ácido neuramínico na célula. Anticorpos contra a NA também são importantes na proteção, provavelmente restringindo a liberação do vírus das células infectadas.

A infecção ocorre primordialmente em células de rápida multiplicação como as do trato respiratório e digestivo.

Classificação dos vírus da influenza aviária

1. Antígenos HA (Hemaglutininas) e NA (Neuraminidases): até o presente momento 15 subtipos HA (H1 a H15) e 9 subtipos NA (N1 a N9) são reconhecidos. Os surtos de influenza aviária de alta patogenicidade (IAAP) que causam doença clínica aguda em galinhas e perus estão associados com os subtipos H5 e H7. Apesar disto muitos vírus dos subtipos H5 e H7, isolados de aves, apresentam baixa virulência. Por este motivo outras formas de classificação foram necessárias.

2. Índice de Patogenicidade: A OIE (sigla em francês de Escritório Internacional de Epizootia), órgão ligado a Organização Mundial de Sanidade Animal, adotou o seguinte critério para classificar um VIA como um vírus de influenza aviária de alta patogenicidade (VIAAP):

a. Qualquer VIA que seja letal para no mínimo seis galinhas entre 8 susceptíveis, de 4 a 8 semanas de idade, observadas durante 10 dias, após inoculação intravenosa de 0,2 ml de uma diluição de 1:10 de líquido alantóide livre de bactérias.

b. Qualquer amostra de VIA que não seja dos subtipos H5 ou H7 mas que mate de 1 a 5 galinhas quando inoculados e que cresça em cultivo celular com efeito citopático ou formação de placas na ausência de tripsina. Se nenhum crescimento for observado, a amostra isolada é considerada como não sendo VIAAP.

c. Qualquer amostra de VIA ou amostras dos subtipos H5 ou H7 de baixa patogenicidade, que cresça em cultivo celular na ausência de tripsina, com a seqüência de aminoácidos do sítio de clivagem da hemaglutinina compatível com VIAAP.

3. Índice de patogenicidade Intravenoso (IPI): A União Européia (UA) adotou um critério de classificação baseado na inoculação intravenosa de 0,1 ml de uma diluição de 1:10 de líquido alantóide em 10 pintos SPF de 6 semanas de idade. As aves são examinadas em intervalos de 24 horas por 10 dias e classificadas de acordo com a sintomatologia: 0 = normal, 1 = com alguma sintomatologia, 2 = com sintomatologia severa, 3 = morta. O IPI é calculado baseando-se na pontuação média por ave, por observação. Um índice de 3,0 significa que todas as aves morreram dentro das primeiras 24 horas pós inoculação. Um índice de 0,0 significa que nenhuma ave apresentou qualquer sinal clínico nos 10 dias do período de observação. De acordo com este sistema a UE classifica uma amostra de VIA como sendo de alta patogenicidade se o IPI for > 1,2.

Resistência do vírus

Os VIA são envelopados e por este motivo sensíveis aos solventes orgânicos e detergentes, os quais destroem a integridade da membrana com uma redução de sua infectividade. Os VIA são sensíveis aos desinfetantes normalmente utilizados na avicultura industrial: iodados, quaternários de amônia, hipoclorito de sódio, formol. São inativados pelo calor, luz ultra violeta, radiações gama, pH extremos, condições não isotônicas e ambientes extremamente secos.

Nos surtos de IA o vírus está protegido pela matéria orgânica: secreções nasais e oculares, fezes. É possível o seu isolamento em lagos habitados por aves aquáticas. Entretanto após a migração das aves fica mais difícil a sua recuperação, mostrando que eles podem não resistir por longos períodos ao meio ambiente.

Suscetibilidade e incidência

A infecção pelo VIA pode ocorrer na maioria, senão em todas as espécies avícolas. Entretanto algumas amostras virais causam severos quadros patológicos ou morte, principalmente em galinhas e perus.

O vírus da IA estão presentes em muitas áreas de criação avícola, infectando várias espécie de aves. As aves selvagens, principalmente as aquáticas migratórias, parecem ser um dos principais agentes da disseminação da enfermidade. Geralmente as aves aquáticas não apresentam sintomas da infecção e durante a migração infectam novas áreas. Outra fonte de infecção a ser considerada se constitui das aves domésticas confinadas ou não, tais como: aves caipiras, de pequenas granjas ou mercados urbanos, aves recreacionais. Nestes grupos se incluem: pato, ganso, peru, codorna, galinha de angola, faisão, avestruz, emas e outros tipos de aves “exóticas”. Todas são susceptíveis à infecção natural, podendo se constituir em reservatório do vírus, sem mostrar sintomas clínicos.

Os VIAAP dos subtipos H5 e H7 tem sido isolados de aves migratórias em vários continentes. Existe evidência que os vírus H5 de baixa patogenicidade podem sofrer mutações e se tornar altamente patogênicos.

Os surtos da última década ocorreram em vários continentes (Figura 1). Nem sempre houve relação entre os subtipos que infectaram estes países. Este fato mostra que, além da contaminação horizontal, as mudanças genéticas tem um papel importante no aparecimento de um novo surto e sua severidade. O surto na Itália mostrou claramente que a variação genética do vírus da IA pode produzir verdadeiros desastres econômicos.

 

Transmissão

A principal via de transmissão do vírus da IA é, sem dúvida, a via horizontal representada também pelas aves migrantes. Até o momento não houveram evidências de transmissão vertical verdadeira. Entretanto a contaminação superficial dos ovos de lotes infectados pode representar um problema. Também a contaminação dos veículos, equipamentos e pessoal de transporte é possível. Outro ponto importante de contaminação são os mercados de aves vivas, comum nos em todo o mundo. A transmissão pelo ar é limitada a poucos quilômetros. A transmissão pela água é possível, daí a importância da cloração da água de bebida das aves.

Aves infectadas espalham os vírus em suas fezes e secreções respiratórias durante 10 a 14 dias após a infecção. A capacidade do VIA em sobreviver fora do hospedeiro é altamente dependente da temperatura ambiente. Os vírus disseminados nas fezes (protegidos por matéria orgânica) podem não sobreviver por mais de 2 dias a uma temperatura de 37o C, mas podem permanecer infectantes por várias semanas a 4o C.

Patogenicidade

O fato de algumas cepas, pertencentes ao mesmo subtipos, apresentarem patogenicidade distintas cepas “quentes” ou não está relacionado com a proteína da superfície viral HA. Para se multiplicar num determinado hospedeiro a glicoproteína HA tem que ser cortada (clivada) num determinado ponto, conhecido como ponto de clivagem, pelas enzimas do hospedeiro. A HA de alguns vírus pode ser clivada apenas por enzimas do trato respiratório e intestinal do hospedeiro. Estes vírus podem causar leves sintomas ou até não produzirem nenhum sinal clínico. A HA de outros vírus pode ser clivadas por enzimas localizadas nos principais órgãos internos do hospedeiro. Estes são os vírus ditos “quentes” ou de elevada patogenicidade (VIAAP). A capacidade de clivagem pelas enzimas é dependente da composição de aminoácidos do sítio de clivagem da HA. O ganho ou a perda de alguns aminoácidos neste ponto pode ser, portanto, um dos responsáveis pelos níveis de patogenicidade.

Sinais clínicos

Devido aos diferentes graus de patogenicidade das amostras: leve, moderada e alta, os sinais clínicos da doença podem variar desde leves sinais respiratórios, corrimento nasal e ocular, edema da cabeça e barbelas, sintomas digestivos, queda de postura, até mortalidade aguda sem tempo para o desenvolvimento de alterações patológicas macroscópicas.

Além disso os sintomas dependem de vários fatores tais como: idade, espécie afetada, doenças concorrentes ou imunossupressoras. A mesma amostra viral pode ser fatal para as galinhas e assintomática para aves aquáticas.

Por estes motivos a morbidade e mortalidade apresenta enorme variação. Algumas amostras não produzem nenhum quadro clínico, enquanto outras chegam a dizimar um plantel em menos de 48 horas.

Em geral os sinais clínicos podem ser confundidos com a Doença de Newcastle, Bronquite Infecciosa da Galinhas, Laringotraqueíte, Pneumovirus, Cólera Aviária, Coriza infecciosa.

Alterações macroscópicas

As lesões variam de acordo com a patogenicidade do vírus e com a espécie afetada. De modo geral os animais apresentam graus variados de congestão e hemorragia, com produção de transudatos, exudatos, e lesões fibrino-necróticas nos órgãos.

As lesões clássicas dos VIAAP nas galinhas e perus são:

– Desidratação

– Descarga nasal e oral

– Congestão severa da musculatura

– Edema subcutâneo da cabeça e pescoço

– Severa congestão das conjuntivas e até petéquias

– Exudato mucoso excessivo no lúmem da traquéia ou traqueíte hemorrágica

– Petéquias no lado interno da cartilagem do externo, na serosa dos órgãos, na gordura abdominal e superfície peritonial

– Congestão renal com depósito de uratos

– Hemorragias na superfície mucosa do pró-ventrículo, particularmente na junção com a moela

– Hemorragias e erosão na moela

– Focos hemorrágicos no tecido linfóide da mucosa intestinal

– Hemorragia e degeneração ovariana

– Em caso de morte súbita as aves podem não mostrar lesões à necrópsia

As lesões em perus podem não ser tão severas como nas galinhas. Os patos e gansos infectados podem excretar o vírus e não mostrar nenhum sinal clínico. O diagnóstico à necropsia é apenas sugestivo, requerendo exames laboratoriais complementares.

Alterações microscópicas

As lesões histopatológicas não são patognomônicas. Os achados histológicos incluem: necrose linfóide multifocal, necrose pancreática e miocardite. Além disso diversos órgãos ou tecidos apresentam infiltrados linfóides: baço, miocárdio, cérebro, globo ocular, crista, barbela e músculos esqueléticos. Em alguns casos ocorre a encefalite com formação de manguitos perivasculares constituído por células mononucleares, necrose de células neuronais, edema e hemorragia.

Diagnóstico

O período de incubação da doença é de 3 a 5 dias. Os sintomas, principalmente nos casos de infecção pelo VIAAP podem levar a um diagnóstico presuntivo:

– Depressão severa

– Inapetência

– Edema facial com crista e barbela inchada e cianótica

– Dificuldade respiratória com descarga nasal

– Severa queda de postura

– Morte súbita que pode chegar até 100%

O diagnóstico deve ser sempre feito através do isolamento, identificação e tipificação do agente. Provas de identificação direta do agente como imunofluorescência, imunohistoquímica e Elisa de captura podem também ser utilizadas.

Isolamento e identificação do vírus

A técnica de isolamento do agente é semelhante à técnica para o isolamento do vírus da Doença de Newcastle. O material de eleição para isolamento são amostras de: órgãos respiratórios, digestivos, além de cérebro e sangue. Assim como na Doença de Newcastle, “swabs” oro-nasais e de cloaca também são utilizados para isolamento do VIA.

A maneira mais difundida para o isolamento viral é a inoculação de ovos embrionados SPF de 09 a 11 dias, via saco alantóide, com 0,2 ml de uma suspensão da amostra tratada com antibióticos. Os ovos devem ser incubados entre 35o e 37o C e observados por até 7 dias. A mortalidade nas primeiras 24 horas não deve ser considerada (contaminação). Amostras de VIAAP podem matar o embrião entre 24 e 48 horas. Após as 72 horas o líquido cório-alantóide e ou amniótico deve ser coletado para provas de hemaglutinação. Caso a prova de hemaglutinação seja negativa são necessárias outras passagens em ovos embrionados. Se a amostra isolada mostrar atividade hemaglutinante é necessário diferenciá-la de outros vírus hemaglutinantes, principalmente descartar os paramixovirus (atenção: amostras contaminadas por bactérias podem também mostrar atividade hemaglutinante). Até o momento são reconhecidos 9 sorotipos de paramixovirus. Por ser a Doença de Newcastle (paramixovirus tipo 1) a mais comum das paramixoviroses que acometem os planteis avícolas, os laboratórios utilizam o antisoro contra Newcastle para verificar se amostra hemaglutinante isolada não é de vírus de Newcastle.

A confirmação e ou identificação viral é feita através de provas de imunodifusão em gel de agar (AGP) entre o vírus suspeito concentrado e um antisoro preparado a partir do antígeno do nucleocapsídeo ou da matriz do vírus, ambos comuns a todos os vírus de influenza do tipo A.

A subtipagem é geralmente é feita nos laboratórios internacionais de referência através da prova de imunodifusão com soros monoespecíficos para cada um dos 15 subtipos H (H1 H15) e para cada um dos 9 subtipos N (N1 N9). Alternativamente os novos isolados podem ser classificados por provas de inibição da hemaglutinação e da neuraminidase contra a bateria de antisoros que cobrem todos os subtipos.

Os laboratórios de referência para a IA são importantes no auxílio:

– da identificação do vírus

– da sub-tipificação do VIA

– dos levantamentos epidemiológicos

Além disto auxiliam na padronização:

– dos métodos de diagnóstico

– da produção de antígenos

– das provas laboratoriais

– dos métodos de controle de vacinas

Provas sorológicas

Antes da eleição da prova sorológica, temos que saber o que queremos identificar: o tipo de vírus ou subtipo? Presença de qual anticorpo? O assunto é complexo e mereceria toda uma apresentação separadamente. Toda uma farta informação sobre a IA, incluindo a sorologia, pode ser encontrada nas páginas da internet (home pages, sites) dos órgãos internacionais:

– OIE: http://www.oie.int/eng/maladies/fiches/A_A150.HTM

– UE: http://europa.eu.int/comm/food/fs/sc/scah/out45_en.pdf

– USDA: http://www.aphis.usda.gov/vs/ceah/cei/avinfita.html

Os testes mais utilizados para o diagnóstico e monitoria sorológica: imunodifusão (AGP) e inibição da hemaglutinação com soros monoespecíficos. Também se pode utilizar a vírus neutralização, fixação de complemento, Elisa e outros. Amostras pareadas de soro de aves com início de sintomas e convalescentes podem também ser de auxílio no diagnóstico.

Modernas provas de Elisa indiretas, desenvolvidas para pesquisa de anticorpos contra VIA (não o subtipo) em galinhas e perus, mostram que a sua sensibilidade é maior que a tradicional prova de imunodifusão. Além disto a detecção precoce da infecção é muito importante para o estabelecimento de programas de controle e erradicação da enfermidade. É uma prova rápida e mais padronizada que a prova de AGP.

Controle da enfermidade

Como outras infecções virais o tratamento não é possível, sobretudo em animais de produção. A introdução de medidas gerais de biossegurança, incluindo restrição do trânsito de veículos, animais, pessoas e equipamentos, associadas com estratégias de sacrifício e eliminação de planteis contaminados, acompanhados ou não de vacinação, podem ser úteis no controle da difusão da doença.

Medidas gerais de biossegurança

Entende-se por biossegurança avícola os programas e medidas aplicados na avicultura industrial, visando reduzir os riscos de transmissão das infecções, melhorar o controle sanitário dos planteis, assim como evitar a contaminação do ecossistema e resguardar a saúde do consumidor final. Nunca se afasta a possibilidade dos padrões atuais cederem espaço ao progresso e ao avanço da ciência, tornando-se imprescindíveis as necessárias adaptações aos novos tempos e exigências (Martins, 1995). Como está claro nesta definição, a biossegurança visa REDUZIR os riscos, jamais ELIMINÁ-LOS.

Seria muito prático se contássemos com um “indicador” de eficiência ou sucesso de nossos programas de biossegurança. Tomemos como exemplo as granjas de reprodutores em nosso país. Todos os que militam na avicultura brasileira conhecem os rígidos controles realizados nas empresas visando garantir a sanidade dos planteis. Em grande parte esses procedimentos e programas têm atingido seus objetivos. Haja visto o sucesso de eliminação do MG, MS e Pulorose e Tifo Aviário de nossos planteis. Além disto a exportação de nossos produtos vivos (reprodutores) ou abatidos, para todo o mundo, atesta esta qualidade.

Entretanto, para algumas enfermidades, todo este procedimento não é suficiente para impedir a contaminação dos lotes. Como explicar surtos de Doença Infecciosa da Bolsa ou desafios de Bronquite Infecciosa em granjas de reprodutoras e de avós? Como entram os vírus nas granjas com tantas barreiras sanitárias e imunização? Poderiam estes ser os indicadores do grau de eficiência da biossegurança?

Medidas de biossegurança:

a) Intenso programa de vigilância sanitária e diagnóstico integrados a nível regional, estadual e nacional.

b) Medidas máximas de biossegurança em todos os níveis da cadeia produtiva incluindo as plantas de processamento, funcionários de toda a cadeia, de todos os níveis, pessoal envolvido na coleta de material, diagnóstico, funcionários do governo ou qualquer indivíduo que tenha contato com este segmento.

c) Movimento restrito e até quarentena de aves infectadas ou potencialmente infectadas.

d) Programa de sacrifício e eliminação dos lotes infectados ou potencialmente infectados por VIAAP ou nas infecções por vírus não altamente patogênicos mas pertencentes aos subtipos H5 e H7.

e) Informação e treinamento dos funcionários e proprietários de granja sobre a enfermidade.

f) A vacinação pode ser uma ferramenta utilizada no programa de controle ou erradicação da enfermidade mas, necessariamente, ele deverá ser acompanhada do conjunto de todas as outras medidas mencionadas anteriormente.

Vacinação

Em alguns países, as vacinas desenvolvidas para conter ou prevenir a IAAP são proibidas ou sua utilização desencorajada pelas agências governamentais pois elas podem interferir nos programas de controle através de monitoração sorológica.

A existência de um grande número de subtipos e o conhecimento da grande capacidade de mutação do vírus, constitui um sério problema para o desenvolvimento de uma vacina eficiente na imunização dos planteis de uma região.

As vacinas a ser utilizadas deveriam ser ou autógenas ou ter sido preparadas com amostras de mesmo subtipo hemaglutinante.

Vacinas inativadas: preparadas com líquido alantóide de ovos embrionados inoculados com amostras de VIA selecionados, inativado com betapropilactona ou formalina e emulsionadas com óleo mineral, foram utilizadas nos EUA e Itália no controle da IA de baixa patogenicidade. O mesmo tipo de vacina foi utilizado nos surtos de IA de alta patogenicidade no México e Paquistão. Por ser produzida com vírus inativado, esta vacina estimula a produção de anticorpos mas não a resposta imune mediada por células, que também contribui para a construção da imunidade. As vacinas inativadas emulsionadas também podem ser elaboradas utilizando-se como antígeno apenas as hemaglutininas H5 e H7 expressadas por baculovírus.

Vacina viva recombinante: desenvolvida por engenharia genética, utiliza um vírus de bouba aviária como vetor o qual expressa a hemaglutinina H5 ou H7. Deve ser inoculada no primeiro dia junto com a vacina contra a Doença de Marek. As aves vacinadas não se tornam positivas na prova de imunodifusão utilizadas para detectar antígenos contra as nucleoproteínas ou proteínas da matriz viral.

Influenza nos humanos

O vírus da Influenza nos humanos pode causar gripes comuns, com leve sintomatologia respiratória, ou epidemias com elevada mortalidade. O surto de Gripe Espanhola ocorrido na primeira metade do século XX foi o responsável pela morte de mais de 20 milhões de pessoas em todo o mundo. Na atualidade os grupos de maior risco são os idosos, grupos que apresentam algum tipo de imunodeficiência e pacientes portadores de doenças crônicas como diabetes, insuficiência cardíaca e com problemas pulmonares, entre eles asma e bronquite. A vacinação contra a gripe (influenza) em humanos pode prevenir muitos problemas e é largamente empregada em alguns países inclusive no Brasil.

As vacinas humanas contém um “pool” dos subtipos virais mais comuns recolhidos de todas as partes do mundo. Constantemente organismos de saúde internacionais reavaliam os subtipos mais prevalentes, substituindo alguns ou incluindo novos subtipos nas vacinas. Portanto as vacinas não são capazes de proteger contra todos os subtipos. Este é o ponto crucial da enfermidade e sua prevenção: nós não sabemos com certeza como a vacina irá agir frente a um novo desafio. Entretanto sua eficácia, dependendo da faixa etária, pode chegar a 80% (Irony, O. Isto É, São Paulo,13.05.1998)

Um outro fator de risco consiste nos animais susceptíveis. Humanos podem infectar os suínos. Os suínos também podem infectar os humanos. As aves podem infectar os suínos e vice-versa. Até a surto de influenza em Hong Kong (1997) o modelo de transmissão aves infectando humanos não era conhecido. Este foi o primeiro caso onde se suspeitou que as aves poderiam ter contaminado os humanos. Em 19 de maio de 1997, um vírus de influenza H5N1 foi isolado do aspirado traqueal de um menino de 3 anos internado num hospital de Hong Kong com sintomas respiratórios. Mais 18 casos em humanos ocorreram com mortalidade de 6 das pessoas infectadas.