Redação SI 26/10/2005 – As barreiras sanitárias implantadas nas fronteiras dos três Estados da região Sul para tentar conter o avanço da febre aftosa já comprometem o suprimento de matérias-primas para curtumes gaúchos. Paulo Griebeler, diretor-executivo da Associação das Indústrias de Curtume do Rio Grande do Sul (AICSul), diz que 85% do couro produzido no Estado vem de outras regiões, especialmente Centro-Oeste e Nordeste, e algumas podem paralisar a produção na próxima semana se o abastecimento não for restabelecido.
A situação se agrava com o desencontro de informações sobre a liberação do trânsito no Estado de produtos de origem animal de Santa Catarina. No dia 24, a Secretaria da Agricultura informou que seria permitida a entrada de itens como couros tratados, carne bovina desossada e maturada, carne suína e leite in natura – somente para industrialização – e suínos para reprodução e abate.
O governador gaúcho Germano Rigotto disse que a fronteira permanecerá fechada até que Santa Catarina abra um corredor sanitário. O governo catarinense decidiu ontem flexibilizar as barreiras sanitárias ao Norte do Estado, autorizando o trânsito de 18 produtos de origem animal, bloqueados desde o dia 18.
Enquanto as autoridades não se entendem, os curtumes gaúchos contabilizam de 400 mil a 500 mil couros parados nas fronteiras dos três Estados nas duas últimas semanas. Segundo Griebeler, o Rio Grande do Sul compra de outros Estados 12 milhões de unidades por ano para industrialização e produz internamente 2 milhões. A produção gera receita anual de US$ 1 bilhão, sendo 70% com exportações.
Griebeler diz que a AICSul enviou laudos técnicos às secretarias de Agricultura dos Estados do Sul informando que não é possível transmitir o vírus da aftosa no couro submetido a tratamentos preliminares, como os tipos “wet blue”, “wet white” ou “piquelado”. Em todo o Brasil os curtumes processam 42 milhões de couros por ano, empregam 38 mil pessoas e faturam US$ 3 bilhões.
Em Santa Catarina, produtores independentes de suínos reclamam da dificuldade de transportar suínos vivos entre os Estados do Sul e Sudeste. Desde domingo, alguns animais de Santa Catarina aguardam liberação liberação na fronteira do Paraná com São Paulo. Wolmir de Souza, presidente da Associação Catarinense dos Criadores de Suínos (ACCS), disse que o caminhão com os animais atravessou o Paraná e ficou “ilhado” porque o governo catarinense também não está permitido o trânsito de animais vindos de Estados ao norte de sua fronteira.
O dono dos suínos, Euclécio Pelizza, produtor de Xavantina (SC), diz que entende o lado bom das medidas sanitárias, mas defende a criação de um corredor sanitário para escoar sua produção. Segundo ele, em média sua propriedade carrega um caminhão a cada dois dias com 200 animais para entrega na região Sudeste. Desde sexta-feira, ele está tendo entregando os suínos no mercado estadual, sendo que os preços já despencaram. O quilo pago ao produtor independente, que na semana passada estava em R$ 2,20 saiu ontem em média a R$ 2,05.
Atualmente, os produtores independentes de suínos enviam cerca de oito mil animais por mês a outros Estados, segundo dados da ACCS. Parte desses animais terminam a engorda em outros Estados antes do abate. Outros são destinados aos frigoríficos. Em reunião realizada ontem com o governo, Souza defendeu também a criação de um corredor sanitário com os demais estados para que situações como essa não se repitam.
A Organização das Cooperativas do Estado de Santa Catarina (Ocesc), ontem representada pelo gerente Paulo Von Dokonal, informou que as cooperativas estão muito preocupadas com a falta de coerência na imposição das barreiras sanitárias nos Estados. Segundo ele, as cooperativas catarinenses estão conversando internamente para a criação de um corredor sanitário que sirva para o leite, cuja produção também não está sendo escoada.