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Botulismo em aves

Saiba mais sobre esta doença, de acordo com o Manual de Doenças de Aves de Alberto Back.

Botulismo

Definição: Botulismo é uma doença de natureza tóxica, decorrente da ingestão de toxina botulínica que acomete as aves de qualquer espécie, caracterizada por prostação, paralisia e morte.

Etiologia: O agente causador do botulismo é o Clostridium botulinum. Os clostrídios são bastonetes grandes, gram positivos, móveis, anaeróbios estritos ou não, formadores de esporos, fermentadores e negativos para a catalase. O microorganismo cresce melhor sob condições anaeróbicas e temperatura entre 30C, embora algumas cepas possam crescer a temperaturas tão baixas quanto 6 C. O pH levemente alcalino estimula o crescimento de alguns tipos, mas o pH de 5,7 é ótimos para cepas do tipo C. Os clostridios são comumente encontrados no solo, na forma de esporos, com distribuição mundial.
O botulismo é causado pela intoxicação do animal por neurotoxinas produzidas pelo C.botulinum ( A, B, C1, C2, D, E, F, G ), baseados em suas neurotoxinas distintas antigenicamente.
Todas as toxinas são aproximadamente do mesmo tamanho e tem o mesmo efeito neurotóxico, exceto a C2, que não é considerada neurotoxina pois só altera a permeabilidade vascular e causa diarréia em caso de botulismo em aves. Os tipos A,B e F estão associados principalmente com doenças em humanos. A maioria dos casos de botulismo em animais são causados pelo tipos C e D.
A toxina botulínica é uma proteína liberada principalmente pelas células vegetativas após a lise das mesmas, ou pela difusão da parede celular. A quantidade da toxina dentro dos esporos é de apenas 1% daquela encontrada nas células vegetativas, mas tal toxina é resistente a desnaturação pelo calor. A toxina botulinica é destruída pelo calor a 80 C por 30 minutos ou a 100 C por 10 minutos.

Ocorrência: O botulismo pode acontecer em qualquer parte do mundo. Existem evidências que esta doença já ocorreu em mais de 100 espécies de aves pertencentes a 22 famílias. Aves aquáticas, principalmente patos, é a espécie mais acometida. Galinhas, perus e faisões também podem se intoxicar com a toxina do tipo C. Corvos, urubus e similares são naturalmente resistente a toxina botulínica.

Patogênese e epidemiologia: A doença pode atingir os animais de duas maneiras:

-Surgimento de casos isolados ou pequenos surtos geralmente decorrentes da ingestão de alimento contaminado e ocorrência de surtos epizoóticos.

Quando a ave morre, o C. Botulinum presente no intestino pode multiplicar-se e sintetizar toxinas botulínicas. Por esta razão, as carcaças de aves mortas não recolhidas podem estimular o canibalismo, resultando num surto de botulismo nas criações comerciais. Larvas de mosca e cascudinhos, que se alimentam de carcaças, também podem conter a toxina.

Dentre os fatores ecológicos anormais que influenciam o aparecimento da doença, pode-se destacar a estiagem prolongada em regiões alagadas: a cadeia epizoótica tem início com a multiplicação do C. Botulinum no fundo de coleções de água estagnada, local rico em matéria orgânica em decomposição. À medida que o tempo passa o calor diminui o volume e a movimentação das águas que aliado ao consumo do oxigênio restante pela fauna e flora aquática estabelece um ambiente de anaerobiose adequado à multiplicação bacteriana e conseqüente produção de toxina. Quando os animais ingerem a água há também ingestão de grande quantidade de toxina e bactérias.

Existem descrições de uma condição chamada botulismo tóxico infeccioso, no qual suspeita-se de que o próprio C.botulinum presente no intestino das aves clinicamente normais, produza a toxina do tipo C. Não se sabe qual é o mecanismo do processo, mas observou-se correlação com uso de dietas ricas em proteínas.

Sinais Clínicos: O sinal clínico mais comum e evidente é a paralisia das pernas, asas, pálpebras e pescoço. As aves podem apresentar ainda, sinais de fraqueza, incoordenação motora, penas eriçadas e diarréia com eliminação de uratos nas fezes. Dependendo da dose, estes sinais podem manifestar-se poucas horas após a  ingestão da toxina. As penas, principalmente do pescoço, podem se desprender facilmente, mas isso não tem sido observado em perus. O período de incubação médio é de 1 a 2 dias. A morbidade, mortalidade e taxa de recuperação variam conforme a dose da toxina.

Lesões: Raramente observa-se leões macro e microscopias no caso de botulismo. A presença de larvas ou ingesta putrefata no papo, proventrículo ou moela pode ser indício de ocorrência de ingestão da toxina. Aves que sobreviveram por algum tempo, podem apresentar uma enterite discreta com aumento de uratos nas fezes e esplenomegalia.

Dignóstico: O diagnóstico baseia-se nos sinais clínicos e na detecção da toxina botulínica, verificando sempre o histórico e o quadro clínico apresentado pelos animais. Sua comprovação requer o auxílio de testes laboratoriais em amostras coletadas de animais suspeitos (soro sangüíneo, extrato hepático e conteúdo intestinal), sendo que o soro é o material de eleição. A toxina se encontra em elevada concentração no sangue das aves, sendo possível usar o soro destes animais para determinar especificamente qual a toxina envolvida por meio da técnica de soroneutralização em camundongo.

Deve fazer o diagnóstico diferencial de cólera aviária e intoxicação por chumbo, principalmente em aves aquáticas. Em galinhas e perus, deve-se diferenciar de intoxicações por ionóforos e da doença de Marek.

Controle:
Não existe tratamento prático e economicamente viável contra o botulismo. Recomenda-se dar um destino adequado às aves mortas que podem ser fonts de toxinas ou de crescimento de C. Botulinum. A prevenção é baseada fundamentalmente no controle no acesso da ave a fontes de toxinas. A imunização com vacinas preparadas com toxóides tem sido efetida para previnir botulismo em faisões. Em condições experimentais, também é efetiva para galinhas, porém, não tem aplicação prática em criações comerciais.