Redação AI (06/04/06)- O Plano Nacional de Controle e Prevenção da Gripe Aviária, que será anunciado pelo governo na próxima sexta-feira, encontrará o setor de aves já preparado, com regras próprias, para enfrentar a possível chegada da doença ao País. Hoje, já vigora um acordo informal que proíbe o trânsito de aves vivas entre os três estados da Região Sul, que foi acertado entre grandes empresas que operam na região, como a Sadia, Perdigão, Avipal e Doux Frangosul, que também são as principais produtoras e exportadoras de frango do País. “Logicamente, o pacto entre os grandes produtores não representa o fechamento das fronteiras, mas é mais uma segurança”, afirma o vice-presidente técnico-científico da União Brasileira de Avicultura (UBA), Ariel Mendes.
A iniciativa das empresas é reflexo de uma solicitação não atendida pelo plano do governo, que pedia a proibição do tráfego de animais vivos entre os estados. “O plano do governo não permitirá que os estados fechem as fronteiras para aves sem comprovar que sua condição sanitária é diferente dos demais”, diz Mendes.
A iniciativa governamental inclui também melhorias na estrutura de laboratórios do Ministério da Agricultura (Mapa) para controle e prevenção das doenças em aves e exige um controle maior do trânsito de animais vivos e material genético. As aves que forem levadas do local de nascimento para outros estados deverão ter a granja certificada e o abatedouro de destino definido antes da viagem.
Segundo o presidente da Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frango (Abef), Ricardo Gonçalves, impedimentos técnicos e legais não permitiram que o o plano saísse da forma como o setor privado gostaria. “Esperávamos medidas mais duras. Mas do ponto de vista legal, não é possível fechar as fronteiras dos estados se não houver diferença entre os controles sanitários adotados”, explica Gonçalves.
Barreiras
Santa Catarina será o primeiro estado a se adequar às exigências do plano. “O estado já contratou veterinários e comprou veículos e computadores para implantar um rígido controle da gripe aviária e doença de Newcastle”, diz Ariel Mendes, da UBA. Santa Catarina é o maior exportador de aves do País.
A iniciativa de sair na frente no controle da entrada de aves no estado, checando se a granja de origem é certificada como livre de doenças, pode permitir que Santa Catarina seja o primeiro estado a exigir restrições de trânsito de frangos e pintinhos em seu território. “Isso só deve ocorrer dentro de três a quatro meses, quando a legislação estadual já estiver regulamentada com o novo plano e os controles no estado já garantirem uma condição de controle sanitário diferenciado”, prevê Mendes.
Estatísticas divulgadas pela Associação Brasileira dos Exportadores de Frango (Abef) mostram que em fevereiro as vendas externas somaram 198.887 toneladas do produto, o que representa uma queda de 8% na comparação com fevereiro de 2005 e de 7% em relação a janeiro último. Em Santa Catarina, responsável por 29% das vendas internacionais de frango, o volume exportado em fevereiro caiu 9,6%.
No segmento avícola do Rio Grande do Sul, o clima é de otimismo, embora um pouco mais moderado. “Estamos trabalhando com a perspectiva de retomada de mercado no segundo semestre do ano”, destaca Aristides Vogt, presidente da Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav). Em janeiro, as exportações de aves caíram 9%, em fevereiro o recuo ficou em torno de 12% e para março também é esperada uma redução, em torno de 10% sobre março de 2005.
Na avaliação de Vogt, que também é diretor de relações institucionais da Doux Frangosul, a restrição de importação de diversos países, principalmente da Europa, deve ser reduzida nos próximos meses, quando o medo da gripe aviária for dissipado.
“Todas as empresas brasileiras estão buscando novos mercados para compensar a redução nas exportações, com certeza este trabalho deve trazer resultados no segundo semestre”, relata Vogt. Na opinião dele, o momento é oportuno para os exportadores brasileiros ganharem mercado que tradicionalmente pertence aos exportadores asiáticos.
O faturamento do setor avícola gaúcho deve ter redução sobre 2005, quando atingiu R$ 4,5 bilhões, uma vez que o preço está muito baixo no mercado interno.