Redação AI (17/05/06)- Casos concentrados de contaminação entre seres humanos são preocupantes pois indicam que o H5N1, responsável pela morte de 115 pessoas em todo o mundo desde o final de 2003, pode estar, por meio de mutações, adquirindo a capacidade de passar facilmente de uma pessoa para outra.
Dotado dessa capacidade, o vírus poderia provocar uma pandemia mundial, fazendo milhões de vítimas fatais.
Amostras recolhidas de seis membros de uma família foram enviadas para um laboratório de Hong Kong ligado à Organização Mundial da Saúde (OMS) e cinco delas apresentaram o H5N1. O resultado da sexta amostra ainda não está disponível.
Segundo a OMS e especialistas familiarizados com o caso, a família — que criava um pequeno número de porcos e galinhas, patos e gansos — realizou um churrasco no dia 29 de abril, quando comeu carne de porco e de galinha.
A primeira pessoa a ficar doente foi uma mulher de 37 anos de idade. Mais tarde, também apresentaram sintomas da gripe dois de seus filhos, o irmão dela, uma irmã, uma sobrinha e um sobrinho. Com exceção do irmão da mulher, todos os outros já morreram.
Ao contrário do que diziam as informações divulgadas inicialmente pelo governo indonésio, de que oito membros da família haviam contraído o vírus, a OMS diz que a oitava mulher apresentou febre por apenas um dia e que já passa bem. Exames realizados pela Indonésia não encontraram sinais do H5N1 nessa mulher.
Amostras retiradas dos 11 porcos, quatro gansos, quatro patos e um número não especificado de galinhas no vilarejo de Kubu Simbelang, em Karo, onde a família vivia, tampouco apresentaram o H5N1. Mas os especialistas não descartam nenhuma hipótese.
“A possibilidade de que todos tenham sido contaminados pela mesma fonte ainda se apresenta”, disse Sari Setiogi, porta-voz da OMS na Indonésia. Mais amostras dos animais serão recolhidas para serem examinadas.
PADRÕES SUSPEITOS
“Sempre que encontramos casos concentrados, há a suspeita de transmissão de pessoa a pessoa. Não descartamos nenhuma das hipóteses. É cedo demais para tirar qualquer conclusão porque as investigações ainda estão em andamento”, afirmou Setiogi.
Mais de 15 pessoas compareceram ao churrasco, mas não há sinais de que o vírus tenha contaminado outras pessoas que as sete identificadas até agora, disse a porta-voz.
Até hoje houve poucos casos suspeitos de contaminação pessoa a pessoa do vírus, e esses casos decorreram possivelmente de um contato muito prolongado e muito próximo entre os doentes. Mas a gripe nunca conseguiu ultrapassar a barreira dos casos iniciais.
O Ministério da Saúde da Indonésia, no entanto, afirmou que os casos encontrados em Sumatra não envolviam a transmissão do vírus de uma pessoa para outra.
“A disseminação deu-se por meio de fatores de risco, por meio das galinhas ou de outros animais. Não há provas de transmissão pessoa-pessoa”, afirmou à Reuters Nyoman Kandun, diretor-geral do centro de controle de doenças do país.
Mas uma autoridade indonésia da área de agricultura disse que os exames com as amostras dos animais não haviam conseguido explicar o caso.
“Há um grande ponto de interrogação aqui. Os exames com as amostras de sangue de todos os tipos de animais — galinhas, patos, gansos, porcos, gatos e cães — foram negativos até agora. Também avaliamos o esterco. O resultado foi negativo”, disse a autoridade, que não quis ter sua identidade revelada.
Em Hong Kong, microbiologistas encarregados de decodificar a sequência genética dos vírus encontrados nas seis pessoas avisaram sobre o perigo de tirar conclusões apressadas.
Guan Yi, que chefia o laboratório encarregado de decodificar as amostras do vírus, afirmou ser incomum o padrão de aparecimento dos sintomas da doença — entre o surgimento dos sintomas na primeira vítima e na última vítima transcorreram nove dias.
A mulher de 37 anos ficou doente no dia 27 de abril. Um de seus filhos e sua irmã — os últimos a ficarem doentes — sentiram os primeiros sintomas no dia 5 de maio. A OMS sugere um período de incubação de sete dias para as investigações de campo.
“Se todos foram contaminados pela mesma fonte, o período de manifestação (da gripe) teria sido menor. Mas não foi isso que aconteceu. Os últimos casos podem ter envolvido a transmissão de pessoa a pessoa”, disse Guan à Reuters.
“Eles podem ter contaminado uns aos outros. Mas não temos provas disso. Isso precisa ser investigado pelos indonésios”.