Redação AI (23/08/06)- Os aviários estão vazios, e os produtores, sem serviço no noroeste do Rio Grande do Sul. Avicultores que criavam exclusivamente para um frigorífico catarinense sentem de perto o drama do registro de um foco da doença de newcastle em julho, em Vale Real, a cerca de 400 quilômetros de distância deles.
Com as restrições impostas pelo Estado vizinho à entrada de aves vivas gaúchas e a proibição do ingresso do frango para abate, o frigorífico da Cargill, em Itapiranga (SC), não pode levar para as suas instalações os animais criados pelos gaúchos. Na sexta-feira a Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina baixou instrução de serviço concedendo exceções ao ingresso e trânsito pelo Estado de produtos gaúchos. Mas o embargo continua para o abate de frango criado no Rio Grande do Sul. Foram liberados ovos, carnes de aves e de pintos de um dia.
Sessenta aviários nas microrregiões Celeiro e Zona da Produção integravam um sistema de parceria com a empresa. Eles recebiam pintos da indústria, ganhavam ração, medicamentos e criavam os animais por até cerca de 45 dias, quando os frangos eram repassados ao abatedouro. Os avicultores eram remunerados pelos serviços, descontando as despesas da empresa.
Com o embargo do governo catarinense, o frigorífico não repôs os pintos, pois não poderá carregá-los para o abate.
“Muitos produtores fizeram investimentos altos na atividade. Existe uma indefinição grande”, diz o chefe do escritório da Emater de Vista Gaúcha, Valdir Sangaletti.
A criação de frango de corte representa a segunda maior economia para o município em retorno do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços. Um levantamento feito pela Associação dos Municípios da Região Celeiro apontou que o embargo causou um prejuízo de cerca de R$ 2,5 milhões a avicultores de Barra do Guarita, Coronel Bicaco, Miraguaí, Vista Gaúcha, Frederico Westphalen, Palmitinho, Pinheirinho do Vale e Vista Alegre.
O avicultor Angelo Galli, 52 anos, de Tenente Portela, teve seu último lote de 19 mil animais carregados em julho. Desde então, seu aviário está vazio.
“Há mais de 20 dias deveria ter pintos. Estava vivendo da avicultura. Há dois anos investi no aviário. Metade financiei”, conta o produtor, obrigado a vender terra para custear parte dos R$ 125 mil da estrutura.
Antes, Galli vivia da soja, milho, suínos e gado leiteiro. Agora, espera o desenrolar da crise para tomar decisões sobre o futuro.
“Não posso largar a avicultura para lidar com outra coisa de uma hora para outra”, diz o produtor.
As exportações gaúchas, que já tinham sido prejudicadas em razão da gripe aviária, também sofrem o impacto do foco de newcastle. No primeiro semestre, o Rio Grande do Sul exportou 322.800 mil toneladas de carne de frango. O volume é 14% inferior ao do mesmo período no ano passado, segundo informações do José Eduardo dos Santos secretário-executivo da Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav).