Redação AI 11/08/2003 – A vacina foi aplicada pela primeira vez em 1796 pelo médico inglês Edward Jenner, mas coube a Louis Pasteur, na metade do século passado, instituir as bases metodológicas da fabricação e aplicação de vacinas. Em torno de 1840, o Barão de Barbacena trouxe ao Brasil as primeiras amostras da vacina inativada contra a varíola, para aplicação em algumas famílias nobres.
A partir desta época, a vacinação difundiu-se não só na espécie humana, passando a ser utilizada também em animais. No Brasil, o registro número 001 de produtos de uso veterinário do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA) data de 13 de setembro de 1938, referente à única vacina contra o Carbúnculo Sintomático, até hoje em uso no País, com estabilidade à temperatura ambiente, desenvolvida a partir de cepas nacionais de Clostridium chauvoei em laboratórios do Rio de Janeiro.
Até o final do século 19, todos os imunógenos produzidos eram vacinas inativadas, contendo o agente etiológico sem condições de replicação.
Depois, foram desenvolvidas as primeiras vacinas modificadas vivas, ou vacinas atenuadas. As suas principais vantagens sobre as anteriores são à possibilidade de replicação do agente atenuado no hospedeiro e a capacidade de estimular as duas formas de imunidade, humoral e celular, reduzindo o número de re-aplicações e resultando numa proteção sólida e duradoura.
Subunidades
Somente na década de 80 do século passado surgiram as primeiras vacinas de subunidades, que contêm apenas a porção (subunidade antigênica) do agente infeccioso responsável por estimular a resposta imune nos animais. A principal vantagem destas vacinas é a redução de componentes inflamatórios, imunosupressores ou causadores de reações adversas, uma vez que somente a subunidade do agente causador da enfermidade é utilizada.
Data de 1995 o registro no Brasil de uma vacina de subunidade contra o carrapato dos bovinos procedente do Centro de Ingeniería Genética e Biotecnología, localizado em Havana-Cuba. A vacina contém uma proteína antigênica originária da membrana das células epiteliais do intestino dos carrapatos.
Tais vacinas agem através da ativação do sistema imunológico dos bovinos para a formação de anticorpos específicos contra a subunidade protéica antigênica. Os anticorpos específicos contra este antígeno e outros componentes do plasma dos animais vacinados são ingeridos pelos carrapatos junto com o sangue. Os anticorpos ingeridos se unem à proteína antigênica presente naturalmente no intestino dos carrapatos, provocando dano intestinal. Isso reduz o número de carrapatos que completa o ciclo, resultando no controle progressivo em gerações sucessivas e reduzindo a quantidade de banhos com carrapaticidas.
Recentemente foi registrada para fabricação no Brasil uma vacina de subunidade contra Leishmaniose Visceral dos Cães, desenvolvida em universidades do Rio de Janeiro. O imunógeno contém como subunidade uma fração glicoprotéica purificada de um extrato inativado de promastigotas de Leishmania donovani.
Estão registradas no MAPA também vacinas de subunidades contra a enterite causada pela bactéria Escherichia coli e vacinas contra Leptospirose Canina.
Vacinas modificadas geneticamente
No início da década de 90 foram registradas as primeiras vacinas modificadas geneticamente. Estas vacinas são registradas no MAPA, mas condicionadas ao parecer favorável da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio). Entre as vacinas registradas, estão as com deleção genética e com vetores vivos.
As vacinas com deleção genética são compostas por microorganismos em que foram eliminados ou inativados um ou mais genes específicos, geralmente responsáveis pela virulência do agente. Assim como as vacinas vivas modificadas, as deletadas geneticamente podem ser capazes de se replicar no hospedeiro, estimulando os dois tipos de resposta imune. Porém, são potencialmente mais seguras uma vez que o agente perdeu o gene responsável pela virulência. Mas certamente a maior vantagem destas vacinas está na possibilidade de servirem como marcadoras em programas de controle e erradicação de enfermidades. Isto deve ao fato da eliminação de um gene responsável por uma proteína específica que induza a resposta por anticorpos possibilitar o uso de testes diagnósticos em animais para diferenciar os vacinados (animais sem os anticorpos específicos para a proteína eliminada) dos animais infectados (com anticorpos para a proteína específica, adquiridos a partir da infecção do animal com o agente virulento de campo).
Nas vacinas com vetores vivos os genes para antígenos protetores são identificados no organismo infeccioso e inoculados em outros microorganismos, chamados de vetores de expressão. A vacina contendo o vetor de expressão com o gene que codifica para o antígeno protetor é inoculada no animal. O vetor passa então a produzir o antígeno, estimulando a resposta imune. Estas vacinas, assim como as vivas modificadas e as deletadas geneticamente, são capazes de replicar no hospedeiro, estimulando os dois tipos de resposta imune e também são potencialmente mais seguras, pois o agente perdeu o gene responsável pela virulência. Podem ser usadas como vacinas marcadoras e têm as vantagens adicionais de ultrapassarem o bloqueio de anticorpos maternos em animais jovens e a possibilidade em alguns casos da administração oral ou nasal.
Em 1998, foi registrada no Brasil uma vacina fabricada nos EUA contra a cinomose, hepatite, adenovírus tipo 2, parvovirose, parainfluenza, coronavirose e leptospirose dos cães cuja suspensão liofilizada contém os genes que expressam glicoproteínas antigênicas do vírus da cinomose inseridos em vetor da bouba do canário, que é um organismo não virulento para cães e inúmeras espécies animais. Estão registradas no MAPA outras vacinas com deleção genética, a exemplo das vacinas contra a Doença de Aujesky, fabricadas na Holanda e EUA.
Estão aportando no Brasil novas vacinas modificadas geneticamente, algumas em registro. Contra a Doença de Marek e Doença de Gumboro, a partir do vírus da Doença de Marek como vetor para genes de expressão de proteínas antigênicas da Doença de Gumboro. Outro produto é uma vacina para carrapatos associada a um antiparasitário. Neste caso, assim como as outras vacinas de subunidades, a fração vacinal é uma proteína purificada encontrada na membrana das células epiteliais do intestino dos carrapatos que tem a capacidade de gerar resposta imunológica em bovinos vacinados. A sua particularidade está no fato que gene que expressa a proteína foi inserido em um baculovírus que infecta culturas de células de insetos. Essas células infectadas sintetizam a glicoproteína imunogênica que é então purificada para uso como vacina. Está em fase de registro no Brasil uma vacina contra a infecção causada por Actinobacillus pleuropneumoniae em suínos, preparada a partir de cultivos de Escherichia coli contendo genes correspondentes para proteínas antigênicas de Actinobacillus pleuropneumoniae. Alguns destes produtos estão planejados para serem produzidos no Brasil.
Antonio Araújo Andrade Júnior
Fiscal Federal Agropecuário
Chefe do Serviço de Fiscalização de Produtos Biológicos do MAPA
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