Na Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da USP, uma pesquisa constatou que o uso de probióticos na ração de leitões pode ser uma boa alternativa ao uso de antibióticos (medicamentos adicionados na alimentação de animais como um promotor de crescimento, visando o combate a infecções).
“Há uma discussão em torno do uso de antibióticos na alimentação de animais, tanto que em alguns países eles já foram banidos. Na União Européia, eles estão proibidos desde 2006”, explica a médica veterinária Larissa José Parazzi, autora de um estudo sobre o tema. Segundo ela, apesar de deixar resíduos na carne suína, o uso de antibióticos é necessário porque durante o desmame — que ocorre entre o 21º e o 28º dia de vida — os leitões sofrem muito, fazendo com que a imunidade deles caia, deixando-os sujeitos a infecções. “No Brasil, alguns antibióticos já foram proibidos, mas ainda há outros que continuam em uso. Por isso, diversas pesquisas têm sido feitas buscando alternativas para os produtores”, completa.
Os dados estão descritos na dissertação de mestrado Efeito da combinação de probióticos na dieta de leitões desafiados com Salmonella Typhimurium, apresentada por Larissa no último dia 30 de junho, no Departamento de Nutrição e Produção Animal (VNP) do campus de Pirassununga da FMVZ. A pesquisa teve orientação do professor Aníbal de Santana Moretti.
Os probióticos agem colonizando o trato gastrointestinal mantendo a flora e evitando distúrbios gastrointestinais. A veterinária testou dois probióticos disponíveis no mercado para adição na ração de suínos: o tipo A (contendo seis bactérias) e o tipo B (contendo duas bactérias). “Do ponto de vista técnico e econômico, quando comparado ao antibiótico, o probiótico A se mostrou mais vantajoso para ser usado a partir do 23º até o 44º ou 65º dia de vida dos animais”, revela a pesquisadora.
Os testes foram realizados com 160 leitões híbridos, a partir dos 23 aos 138 dias de idade, do Laboratório de Pesquisa em Suínos. Eles foram distribuídos em 40 baias, sendo 4 animais em cada. A pesquisadora usou 8 tipos de tratamentos, sendo um com ração basal, outro com a ração contendo antibióticos e seis tratamentos usando os probióticos A e B, a partir do 23º até o 44º, 65º e 138º dia de vida dos animais. O probiótico, em forma de pó, foi adicionado à ração dos leitões.
Desafios e diarreias
Inicialmente, a ideia era expor os animais à Salmonella no 35º dia de vida. Porém, os leitões tiveram uma diarreia provocada pela bactéria Lawsonia intracellularis — não prevista no experimento — e que os deixou um pouco debilitados. Por conta disso, Larissa optou por desafiá-los apenas no 51º, após tratá-los com soro caseiro. “Como eles haviam apresentado a diarreia por Lawsonia, optamos por diminuir um pouco a dose de Salmonella”, conta. A bactéria foi administrada por via oral.
No 106º dia de vida, os animais tiveram novo episódio de diarreia por Lawsonia, mas a pesquisadora optou por tratar com soro caseiro apenas os animais que ficaram muito debilitados. Larissa ressalta que esses dois episódios de diarréia por Lawsonia não interferiram nos resultados finais. “Numa granja comercial, os animais são constantemente desafiados com vários agentes patogênicos”, comenta.
A pesquisadora realizou análise de desempenho dos animais (peso médio, ganho de peso, consumo de ração, conversão alimentar), além de análises clínicas (fezes, hemograma, temperatura retal), sanitária (para avaliar a presença de Salmonella nas fezes), e econômicas (qual opção seria mais viável economicamente para o produtor e por quanto tempo). Após o período de análise dos animais (138º dia), eles foram enviados para o abate.
Resultados
De acordo com a veterinária, no período inicial, do 23º ao 65º dias de vida, o antibiótico se mostrou mais eficaz em relação aos outros tratamentos. Entretanto, com o passar do tempo, os tratamentos se igualaram. “Entendemos que isso ocorreu pois as bactérias presentes nos probióticos demoraram um tempo maior até se estabelecerem no trato gastrointestinal dos animais. Mas quando isso aconteceu, o equilíbrio se manteve até o final. Já o antibiótico tem ação direta”, aponta.
Larissa destaca que a literatura científica registra uma série de pesquisas envolvendo o uso de probióticos na alimentação de suínos, mas ainda é necessário realizar outras pesquisas para entender a ação deles no organismo. “Nosso estudo sugere que os probióticos podem ser usados a partir do 23º dia até o 44º ou 65º dias de vida dos leitões em substituição ao antibiótico, tanto do ponto de vista técnico como econômico”, finaliza.