Redação (12/02/07) – A seleção genética de poedeiras para alta taxa de produção de ovos e baixo peso corporal estão entre as principais causas da manifestação da osteoporose nas modernas linhagens de aves de postura comercial.
O confinamento em gaiolas, que levou à redução na atividade física das aves, acarretou em maior perda da massa óssea e têm contribuido na incidência da osteoporose em aves comerciais. A alta prevalência de fraturas detectadas em lotes de poedeiras comerciais ao final de sua vida produtiva mostram que a osteoporose se constitui num problema econômico e de bem-estar bastante sério. Técnicas invasivas e não-invasivas para se acessar a integridade óssea auxiliam na identificação de possíveis estratégias para se reduzir a incidência da osteoporose em aves comerciais. A tecnologia da densitometria, que mensura a mineralização óssea em diferentes estágios da vida produtiva de poedeiras, é uma das mais recentes tecnologias validadas para se monitorar a integridade e susceptibilidade à fraturas em aves comerciais.
A integridade óssea de poedeiras comerciais durante o segundo ciclo de produção foi objeto de investigação da pesquisadora da Embrapa Suínos e Aves Helenice Mazzuco, PhD, na Universidade de Purdue, em West Lafayette, Indiana, Estados Unidos.
No estudo, foram utilizados métodos não-invasivos (densitometria óssea), sendo as aves monitoradas seqüencialmente, gerando-se informações sobre a integridade óssea durante todo o segundo-ciclo de produção. O uso da densitometria, possibilitou constatar que a perda da massa óssea tem grande contribuição ao problema da fragilidade dos ossos e está associada ao período em que as aves permanecem em postura, quando há grande demanda de cálcio (Ca) dos ossos para deposição nas cascas dos ovos. O desenvolvimento desse trabalho mostrou que decréscimos na densidade mineral óssea podem ser associados à maior incidência de fraturas em carcaças de poedeiras processadas ao final do segundo ciclo de postura. A pesquisa contribuiu para melhor entendimento da fisiologia do esqueleto em poedeiras e forneceu subsídios para melhoria da condição óssea das aves.
Causas da osteoporose em poedeiras comerciais
Mecanismos fisiológicos na homeostase do Ca controlam a manutenção da integridade do esqueleto em resposta às diferentes necessidades nas diversas fases da vida produtiva de uma poedeira. A importância relativa do intestino e ossos como fontes de Ca dependem da concentração do Ca da dieta; se a concentração de Ca na dieta for acima de 3.6%, a maior parte do Ca depositado na casca é derivado diretamente do mineral absorvido no intestino; todavia, se a concentração for menor que 2%, o Ca presente nos ossos irá suprir 30 – 40% do Ca presente na casca e; em dietas completamente deficientes em Ca, a fonte exclusiva desse mineral será o esqueleto. A reabsorção óssea ocorre muito mais rapidamente quando o Ca da dieta não estiver disponível no trato digestivo.
A osteoporose é definida como o decréscimo na quantidade de osso estrutural mineralizado, fragilidade óssea e susceptibilidade à fratura. Assim como em seres humanos, a etiologia da osteoporose em poedeiras é multifatorial, com elementos de origem nutricional, ambiental (manejo e instalações) e genéticos. A interdependência das distintas etiologias necessita ser conhecida de modo a se compreender a condição da perda óssea característica na osteoporose objetivando reduzir o problema. Entre os fatores envolvidos na manifestação da osteoporose, destacam-se:
a) Envelhecimento
A condição da fragilidade óssea típica em poedeiras comerciais no final do primeiro período de produção podem levar à alta incidência de fraturas durante a apanha e transporte até o abatedouro e pode ter sérias implicações com o bem-estar das aves. A redução na mineralização concomitante ao aumento na reabsorção óssea são os primeiros sinais do imbalanço fisiológico que leva à lenta perda de osso estrutural.
Baixos valores de massa óssea e aumento no risco a fraturas são característicos em ossos de poedeiras velhas (em final do período de postura) e são consequências de mudanças na estrutura do colágeno ósseo e redução na mineralização. A perda na integridade óssea associada à idade ocorre em parte devido à redução na produção de osteoblastos, as células responsáveis pela deposição da matriz óssea. E em parte, devido à perda na capacidade de absorção da Vitamina D pelos intestinos e ossos. O declínio observado com o avanço da idade no nível de estrógeno circulante também contribue com a menor mineralização do esqueleto devido à maior reabsorção óssea e como consequência, decréscimos no segmento estrutural dos ossos são observados.
Um fenômeno interessante ocorre em poedeiras devido à condição particular da presença do osso medular: qualquer perda na densidade mineral dos ossos com a idade pode ser mascarada pelo aumento no componente medular devido ao seu uso reduzido na calcificação da casca dos ovos em função do decréscimo na taxa de postura que ocorre com a idade.
Com o envelhecimento, os hormônios essenciais à reprodução como estrógeno e seus receptores declinam o que resulta na menor habilidade em absorver o Ca do trato gastrointestinal ou dos túbulos renais e, da transferência do Ca ao útero para a formação da casca. Decréscimos na espessura da casca também são observados, ao mesmo tempo em que ocorre um aumento na mineralização da tíbia, indicando desse modo, falhas nos mecanismos de mobilização do Ca de poedeiras em final de postura.
b) Fatores genéticos
Resultados de pesquisas recentes demonstram que a contínua seleção para características ósseas em poedeiras podem gerar linhagens distintas com relação às propriedade mecânicas dos ossos. Desse modo, há grande potencial para melhorar o bem-estar de poedeiras através da seleção de variáveis de integridade óssea. A integridade óssea em diferentes partes do esqueleto parecem indicar alta correlação, sugerindo que a seleção para melhor integridade de um osso em particular poderá melhorar a integridade do esqueleto como um todo. Além disso, esta correlação tem implicações importantes em termos de reduzir o número de mensurações exigidas para se categorizar a resistência do esqueleto.
c) Fatores nutricionais
Deficiências nutricionais de Ca, P ou Vitamina D estão associadas à osteomalacia, uma condição de perda da massa óssea que poderá em última instância, levar à maior severidade da osteoporose. Na osteomalacia, a proporção da matriz não suficientemente mineralizada é maior do que a proporção da matriz óssea mineralizada levando à subsequente deformidade óssea. Aves que manifestam a osteoporose exarcebada pela osteomalacia respondem à correção nutricional, quando se alteram os níveis dos nutrientes relacionados à mineralização do esqueleto. No entanto, aves que manifestam unicamente a osteoporose, não respondem à correção ou suplementação da dieta.
Imbalanços nutricionais indicam a importância da homeostase do Ca e que vem a afetar a resistência óssea e a mineralização. A baixa concentração de Ca no intestino estimula a secreção do paratormônio (PTH) e síntese de Vitamina D o que por sua vez ativam mecanismos que induzem à reabsorção óssea, liberando os minerais presentes nos ossos e conduzindo gradualmente ao comprometimento da integridade do esqueleto.
d) Fatores de manejo e instalações
O manejo de um lote tem grande influência na condição óssea das aves exemplificada pela manifestação da fadiga de gaiola, reconhecida como uma doença dos ossos que resulta em fraturas, manifestando-se com maior frequência quando as poedeiras passaram a ser alojadas em gaiolas. Confinando-se as aves em gaiolas, com limitada oportunidade de espaço, sem dúvida contribuiu no agravamento da fragilidade óssea. Esse tipo de osteoporose desenvolve-se devido a ausência da força muscular exercida sobre os ossos, levando à redução da formação e manutenção do osso e decréscimo da massa óssea. A perda da massa óssea devido à redução no estímulo que os músculos exercem sobre os ossos pode ser evitada alojando-se o lote de aves em sistemas de criação alternativos ao sistema de gaiolas ou naqueles que proporcionem maior oportunidade para o exercício físico.
Metodologias para se acessar a integridade óssea
Diferentes técnicas para se ter acesso à integridade óssea possuem vantagens e desvantagens inerentes a qualquer metodologia. Um método em particular não irá responder todas as questões envolvidas na patologia da osteoporose. As informações obtidas nas várias técnicas são complementares, propiciando um quadro mais completo para se compreender a manifestação dessa doença metabólica multifatorial. Entre as diferentes tecnologias não-invasivas destacam-se:
1) Densitometria
Mudanças na integridade óssea tem sido mensuradas utilizando-se técnicas invasivas como a resistência de quebra, cinzas ósseas, análise mineral das cinzas e histomorfometria. Tais técnicas são ditas invasivas pois necessitam que o animal seja sacrificado para se efetuar as mensurações em tecidos e ossos específicos retirados em diferentes períodos, exigindo assim, um maior número de animais para se obter uma amostragem significativa. Embora muitas descobertas fundamentais tenham sido feitas utilizando métodos invasivos, a disponibilidade de técnicas analíticas modernas e equipamentos tem estimulado o aumento no uso de tecnologias não-invasivas na experimentação científica para monitoramento da osteoporose em aves comerciais. Nesse sentido, a tecnologia da densitometria óssea, tem sido utilizada em pesquisas recentes para se obter informações sobre a mineralização óssea nos diferentes períodos da vida produtiva de aves comerciais.
Densidade mineral é a massa de material por volume de osso a qual incluí ambos componentes, orgânico e mineral. Devido ao fato da matriz inorgânica ser o principal componente extracelular do osso, a quantificação da densidade mineral reflete o status da mineralização óssea. Muitas das técnicas densitométricas são projecionais ou seja, fornecem uma imagem bi-dimensional do osso; portanto, índices de mineralização óssea derivados das leituras densitométricas são medidas aparentes da densidade mineral óssea definida pelo conteúdo mineral presente na área delimitada, usualmente expressa em g/cm2.
2) Tomografia quantitativa
A competência biomecânica ou resistência a fraturas dos ossos dependem não somente da quantidade de material mas também de sua distribuição espacial, estrutura e arquitetura. Para se determinar frações específicas dos ossos, a tomografia quantitativa vem colaborar na quantificação da distribuição mineral nos diversos segmentos dos ossos por exemplo, frações do osso cortical e trabecular (contendo o osso medular) podem ser quantificadas separadamente. Mensurações em três dimensões da massa óssea são obtidas na tomografia quantitativa e expressas como densidade volumétrica (em g/cm3).
Tânia Maria Giacomelli Scolari
Reg.Prof.No.4.957/MTB-RS