Redação (25/10/06) – O projeto que pretende estabelecer um “Sistema de Detecção Extra-continental da Influenza Aviária”, ou seja, o estudo de rotas migratórias de aves brasileiras, com o intuito de monitorar a entrada do vírus H5N1, causador da gripe aviária no país, teve início em setembro de 2006 e, é uma parceria do Grupo de Influenza Aviária da UNICAMP do Laboratório de Ornitologia e Animais Marinhos (Unisinos) e da Embrapa Meio Ambiente (Jaguariúna, SP), unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
Segundo o gestor do Grupo de Influenza Aviária, Joel Meyer da Unicamp, o objetivo central do projeto é monitorar as aves migratórias que entram no Brasil pela rota sul enquanto ainda estão na Antártica, para realizar uma detecção prévia à entrada do vírus no país. “Com as informações de eventuais espécies infectadas, e conhecendo os locais e datas em que chegam ao Brasil é possível fornecer dados que otimizem o trabalho das equipes de prevenção e combate à doença”, explica.
O projeto prevê também o desenvolvimento de um modelo matemático para servir de ferramenta suplementar, tanto na construção de cenários de dispersão, que ajudarão a modelar os esforços de contenção, como na prevenção do alastramento após a ocorrência de um possível surto real. Além desses procedimentos técnicos, o plano ainda visa prevenir o Brasil e outros países da região do CONE-SUL da contaminação pelo vírus da influenza aviária, através de um sistema intercontinental de alerta, tranqüilizando a população e auxiliando os processos de boas práticas agrícolas atrelados à confiabilidade da cadeia de produção avícola.
O projeto também visa estabelecer a base para a consolidação de um Programa Permanente de Monitoramento preventivo de Vírus Avícolas nas Rotas Migratórias Sul, incluindo a criação e a consolidação de uma estrutura pública multidisciplinar capaz de apoiar os governos da região no planejamento do combate a essas ameaças. De acordo com Meyer, no momento, a principal dificuldade enfrentada pelo grupo tem sido sensibilizar setores do governo quanto ao real risco apresentado pela rota sul.
“Apesar de mais de 60 aves fazerem migrações transantártidas, essa rota não aparece nos mapas da FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação) e não é considerada importante pelo governo brasileiro. É necessário alertar a sociedade para este risco”, diz. Parceria com a Embrapa A Doutora em Engenharia Elétrica (Engenharia de Sistemas) e Bacharel em Matemática Aplicada, Maria Conceição Peres Young Pessoa participou do fórum realizado na Unicamp em 16 de outubro passado como integrante do Grupo de Modelagem Matemática do Projeto Influenza Aviária, coordenado pelo Prof. Dr. João Frederico Costa Azevedo Meyer, do Instituto de Matemática, Estatística e Computação Científica da UNICAMP. Segundo ela, a parceria da Unicamp com a Embrapa visa enfatizar a possibilidade de combinação de especialidades.
“De um lado há a experiência do IMECC (Instituto de Matemática, Estatística e Computação Científica – Unicamp), com professores especialistas em métodos de modelagem matemática e numéricos na obtenção de algoritmos viáveis para simulações, e de outro há a Embrapa Meio Ambiente, com experiência em traduzir para a linguagem matemática, dados e informações de situações agropecuárias, de desafios ambientais, e da combinação de ambos, como ocorre no caso do projeto Influenza Aviária; ou seja, tornar os modelos matemáticos menos acadêmicos e mais pertinentes às necessidades práticas do objeto alvo de sua proposição”, explica ela.
Segundo Maria Conceição, a Unicamp, por ser acadêmica, está sempre mais próxima do que é inédito em termos de métodos, além de ter a disponibilidade de incorporar ao projeto alunos de iniciação científica de áreas multidisciplinares, que serão os profissionais do futuro. A proximidade da Embrapa com programas de boas práticas agrícolas e de certificação de qualidade de produtos e de protocolos que conduzam a sustentabilidade ambiental dos processos agropecuários, ajudam a agilizar, após a conclusão das atividades do Projeto, a sua inserção nesses programas.
“Em conjunto com a Universidade, a Embrapa Meio Ambiente pretende contribuir com a tomada de decisão voltada à proposição de políticas públicas para o setor”, diz a doutora. Além disso, de acordo com Maria Conceição, por ser uma Unidade da Embrapa que é vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), pode auxiliar na sensibilização da importância de realização de pesquisas e de monitoramento de aves migratórias, com potencial de serem portadoras do vírus H5N1, passíveis de atingir o país pela rota Sul-Norte, bem como oferecer mais rapidamente ao Mapa os resultados advindos da implementação do projeto.
Fórum O grupo de Influenza Aviária promoveu no dia 16 de outubro o fórum “Monitoramento da rota sul: apoio técnico e científico na prevenção e no combate à influenza aviária”, no auditório da biblioteca central da universidade, com o objetivo de apresentar o projeto para a população e para a mídia, além de expor o “Plano Emergencial de Ação: Sistema de Detecção Extra-continental da Influenza Aviária”. Segundo o gestor do grupo, o evento contou com 12 palestras proferidas por profissionais das instituições que formam a parceria do projeto.
O fórum recebeu ainda aproximadamente 140 pessoas, 8 jornais impressos, 3 emissoras de TV, 2 de rádio e 4 veículos eletrônicos. Gripe Aviária no Brasil O Brasil, maior exportador mundial de frango, tem uma cadeia produtiva avícola que responde por 1,5% do PIB e emprega diretamente cerca de 800 mil trabalhadores. Essa condição, associada às limitações sanitárias, o coloca entre os países que sofreriam os maiores impactos sócio-econômicos com a ocorrência da Influ1enza Aviária.
Ainda não há incidência de surtos do vírus em alto patogenicidade no continente americano, entretanto organizações internacionais como Organização Mundial da Saúde, Organização Mundial para Saúde Animal e Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação acreditam que o monitoramento dessas aves seja a principal medida dos planos nacionais de combate ao vírus. As informações são da Embrapa Meio Ambiente.