Redação (12/11/2008)- Nada é tão assustador para os detentores de linhagens de corte que o aparecimento da “refugagem” em pintos de corte nos primeiros dias de vida, sem explicações plausíveis, ou seja, sem um diagnostico especifico. Pois, é isto que vem acometendo lotes de pintos de corte nos últimos meses em várias partes do Brasil.
Por não estarem associados a um agente, ou a um diagnóstico específico, os quadros são comumente referidos como “síndrome”. Vários nomes já foram dados, como: síndrome de má absorção, síndrome do pinto refugo, síndrome do pinto helicóptero, refugo fisiológico, e, em inglês, stunting syndrome, pale bird syndrome. O que se sabe é que fator, ou fatores, interferem com o consumo, digestão e absorção de alimentos nos primeiros dias de vida de uma percentagem de pintos do lote, e há, aparentemente, predisposição genética.
Estas síndromes são conhecidas de longa data. Muito debatidas no início das décadas de 80 e 90, mas, sem consenso entre os patologistas sobre sua etiologia. Teve-se, inicialmente, uma forte crença de que um sorotipo específico de Reovírus, chamado de 1733 (Shane, 2007), com transmissão transovariana, era o desencadeador do processo. Entretanto, este mesmo autor chama a atenção para inúmeros outros fatores predisponentes, como: pintos oriundos de ovos produzidos por matrizes jovens, falhas no sistema de aquecimento inicial, deficiências na nutrição inicial, determinados programas de vacinação, imunossupressão, etc. Contudo, há uma concordância de que há uma forte correlação no aparecimento da síndrome com pintos oriundos de matrizes jovens, em determinadas linhagens de frangos de corte.
Fatores ligados à reprodutora, à alimentação, à incubação, ao manejo inicial e fatores infecciosos foram debatidos, pelos autores, Bittar, I; Butolo, E; Murarolli, A;Guilherme,A.; Roucco.T; num painel realizado pela Facta 2001, porém, sem a identificação de um agente primário.
Os quadros da síndrome de má absorção vêm sendo relatados em várias partes do Brasil, mais intensamente, nos últimos oito meses, e, aparentemente, relacionados a uma linhagem de matrizes de elevada produção de ovos. Os geneticistas descrevem que há uma correlação negativa entre características produtivas (ganho de peso, conversão alimentar em frangos), e as reprodutivas, mas, sem se referirem ao mau desenvolvimento inicial do pinto.
Casos
Passamos a descrever a ocorrência recente da síndrome de má absorção em granjas no Estado de São Paulo. Pintos de três granjas distintas, com 17 dias de idade, apresentavam elevado índice de refugos (7,8%, 9,5%, e 7,7%, respectivamente). O aspecto clínico – segundo os tratadores – era de pintos bonitos, viscosos com pesos iniciais médios de 36,5g, 38,5g, e 42,5g. Aos sete dias os pesos médios eram de 149g, 159,7g, e 173,9g, respectivamente, portanto normais, quando começaram a apresentar desigualdade no desenvolvimento, com maior movimentação no galpão, ciscando e ingerindo cama anormalmente. Aos 17 dias de vida, os pintos dos lotes que mostravam baixo desenvolvimento corporal apresentavam, caracteristicamente, penas eriçadas, algumas se assemelhando às pás dos helicópteros (1,5% do total de refugos, e menos 0,2% do lote), como mostra a foto. Os quadros clínicos lembravam, muito, os encontrados e descritos em pintos no início das décadas de 80 e 90, oriundos de matrizes de elevada produtividade. Nos casos presente, os pintos são oriundos de um mesmo incubatório, mesma linhagem com mesmo programa alimentar, e alojados nas mesmas condições ambientais.
Nenhuma lesão característica das enfermidades mais conhecidas que acometem pintos era observada nas necropsias. Alguns poucos pintos apresentavam lesões sugestivas de pericardite (1 em 32 dos necropsiados), e nada digno de nota era observado nos órgãos, que apresentavam-se diminuídos de volume, mas, mantendo-se proporcionais ao desenvolvimento corporal dos pintos.
por Inaldo Sales Patrício – CRMV/SP1455 – e Dr. Edir Nepomuceno da Silva