Redação SI (Edição 166/2003) – A indústria brasileira de produtos veterinários deverá apresentar resultados similares aos verificados em 2001. A acentuada variação cambial verificada ao longo do ano de 2002 e a conseqüente desvalorização do real mais uma vez foi o principal fator a comprometer o desenvolvimento do setor no ano passado. Trabalhando quase que em sua totalidade com insumos importados, a escalada da moeda americana trouxe severos reflexos para o setor que, com o aumento dos preços de seus produtos, viu o mercado se retrair. “A disparada do dólar foi terrível para o setor, que importa parcela importante de matérias-primas e até produtos acabados. Sem dizer que num ano difícil para nossos clientes, os produtores rurais, não foi possível repassar os aumentos de custos para os preços, com reflexos na rentabilidade”, afirma Emílio Carlos Salani, presidente do Conselho de Administração do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Saúde Animal (Sindan). Somente no período de janeiro a outubro, a desvalorização do real foi de 62%. Segundo Salani, nesse cenário as empresas do setor precisaram ser “mais agressivas comercialmente” para vender mais em reais. “Mas mesmo assim, o resultado em dólar ficou prejudicado”, diz.
Emílio Salani: “Alta do dólar e o fraco desempenho de alguns setores da pecuária nacional prejudicaram os resultados do setor” |
A forte crise pela qual atravessam setores importantes da pecuária nacional, como a avicultura e a suinocultura, também acabaram prejudicando o desempenho da indústria brasileira de produtos veterinários. “O segmento de produtos veterinários é considerado insumo. Isso significa que os avicultores, suinocultores e bovinocultores investem mais e melhor em saúde animal na medida em que a remuneração pelo frango, ovos, carne suína e carne bovina seja atrativa”, explica Salani. “Infelizmente, a avicultura e a suinocultura terminaram o ano de 2002 em uma situação não muito favorável. Essa realidade fez com que os produtores invistissem o essencial na prevenção de enfermidades e adiassem os investimentos que poderiam ser postergados. Trata-se de uma decisão econômica, até de sobrevivência mesmo”, completa. O Sindan estima uma retração de 10% das vendas nos segmentos, em virtude da redução dos gastos com medicamentos preventivos. Juntos, os segmentos avícola e suinícola respondem por cerca de 25% do faturamento total do setor.
Faturamento – Quinto maior mercado do mundo, a indústria veterinária brasileira tem seu faturamento estimado para o ano de 2002 em cerca de US$ 640 milhões. Praticamente o mesmo registrado em 2001, que foi de US$ 636,6 milhões. Portanto, longe de repetir o desempenho de anos anteriores quando o setor ultrapassou a marca dos US$ 850 milhões em faturamento. “Com esse resultado, o Brasil permanece entre os cinco maiores mercados de produtos para saúde animal no mundo, embora a expectativa deveria ser outra, já que o País detém o maior rebanho bovino do planeta, é o segundo maior produtor de frango e importante produtor de carne suína e de leite”, avalia.
A crise que castigou a suinocultura brasileira no ano passado trouxe reflexos na participação do setor na comercialização de produtos veterinários. Com seus produtores altamente descapitalizados o setor suinícola registrou queda em sua participação, passando dos 10%, verificados em 2001, para 9% no ano passado. O segmento de maior participação ainda é o da bovinocultura (corte e leite) com 56%. Assim como nos anos anteriores, a avicultura continua sendo o segundo maior cliente da indústria da saúde animal no Brasil. Embora conserve sua posição, o segmento avícola diminuiu sua participação nas vendas passando dos 19%, registrados em 2001, para 15% no ano passado. Mantendo os índices de crescimento de anos anteriores o segmento de pequenos animais (pet) assinalou em 2002 uma participação de 13%, conquistando a posição ocupada pela suinocultura. Os outros segmentos juntos somam os 7% restantes da comercialização das linhas de produtos veterinários no País.
No que se refere à classe de produtos, os antiparasitários, com uma participação de 42%, continuam a encabeçar a lista de produtos mais comercializados no mercado brasileiro. No segundo lugar do ranking estão os produtos biológicos (vacinas), que em 2002 registraram uma participação de 26%. Os antimicrobianos ocupam a terceira colocação, assinalando uma participação de 14%. A quarta posição é ocupada pelo produtos farmacêuticos com uma participação de 7%.
Uma das principais dificuldades enfrentadas pelo setor nos últimos anos, a lentidão no processo de registro e licenciamento de novos produtos junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), parece estar pelo menos parcialmente solucionada. Segundo o presidente do Sindan, a média mensal de liberação de produtos melhorou bastante durante o ano de 2002. Salani destaca a parceria entre a entidade e o Mapa no esforço para acelerar o processo de liberação dos novos medicamentos. “A equipe do Ministério responsável pela análise dos processos tem se empenhado muito para agilizar os registros”, afirma. “De nossa parte, estamos assessorando nossos associados, especialmente as pequenas e médias empresas, a elaborar da melhor maneira possível os processos. Com isso, os registros estão mais ágeis”, pondera. Embora ainda não tenha dados suficientes para precisar o números de processos de registros enviados ao Ministério no ano passado, Salani destaca que há atualmente registrado no Mapa mais de seis mil produtos para saúde animal, sendo que perto de quatro mil já são comercializados.
Projeções para 2003 – O Sindan aposta num cenário melhor para a indústria veterinária brasileira este ano. De acordo com Salani, o discurso do novo governo remete a uma melhor distribuição de renda, fato que, em sua opinião, significa melhores condições de compra para a população brasileira, principalmente de alimentos. “No início do Plano Real, a comercialização de produtos de origem animal, o frango especialmente, aumentou e com isso toda a cadeia da produção foi beneficiada. Nosso setor é parte da cadeia produtiva de alimentos e, portanto, seria beneficiado pelo aumento do consumo e, consequentemente da produção. Esperamos sinceramente que o governo Luís Inácio Lula da Silva caminhe nesse rumo”, comenta. A expectativa do setor, segundo Salani, é de que o novo governo faça as reformas necessárias e suficientes para ativar a economia gerando empregos e consequentemente alavancando o consumo de proteína animal.
“Acreditamos que o novo presidente e seu governo criem condições de distribuição de renda para as pessoas poderem se alimentar melhor e o consumo de proteínas animais aumentar”, afirma. “É o que esperamos. Com isso, o segmento de produtos para saúde animal deve ser beneficiado. Também contamos que o dólar permaneça estável para não exigir mais arrocho das empresas que importam matérias-primas”, conclui.
Vacinas contra Aftosa De acordo com o Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Saúde Animal (Sindan) não faltaram vacinas contra febre aftosa no País em 2002. A indústria e o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento estreitaram muito o relacionamento nos últimos anos, quando passamos a trabalhar, em conjunto, as estimativas de demanda por estado e os programas de produção, informa Emilio Carlos Salani, presidente do Conselho de Administração do Sindan. De acordo com ele, o Brasil fechou o ano com preços estáveis e a maior demanda de vacina da história, cerca de 340 milhões de doses. Além do volume, que é impressionante, destaca-se a qualidade da vacina, avalia. Não tenho dúvidas de que o nosso produto é o melhor do mundo. Prova disso é que a vacinação aumentou e não há ocorrência de casos nas regiões que participam da campanha oficial. |