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Sanidade avícola em tempos de crise

Em entrevista à Avicultura Industrial, o médico veterinário Alberto Back fala sobre o atual status sanitário da avicultura brasileira, avalia o sistema oficial de defesa sanitária e opina sobre o contingenciamento de parte do orçamento do Ministério da Agricultura.

Redação (19/02/2009)- Em tempos de crise mundial o aspecto sanitário adota contornos ainda mais importantes para a avicultura brasileira. Num cenário de incertezas, marcado pela desaceleração da economia global e aumento do protecionismo, uma eventual ocorrência sanitária poderia trazer consequências desastrosas para o setor avícola nacional.

 

Num momento como este, afirma o médico veterinário Alberto Back, é imperioso redobrar a atenção com a sanidade do plantel avícola brasileiro. “A manutenção dos status sanitário da avicultura brasileira é fundamental para que continuemos avançando”, diz.    

 

Em entrevista à Avicultura Industrial, Alberto Back fala sobre o atual status sanitário da avicultura brasileira, avalia o sistema oficial de defesa sanitária, opina sobre o contingenciamento de parte do orçamento do Ministério da Agricultura e sobre a implementação do Plano de Regionalização da Avicultura Brasileira.

 

A íntegra da entrevista você confere a seguir.

 

Avicultura Industrial – O senhor acredita que nesse período de turbulência econômica o aspecto sanitário aumenta de importância para o desempenho da avicultura brasileira?

 

Alberto Back – O aspecto sanitário é sempre muito importante. O que normalmente se observa em tempos de crise é que, às vezes, a sanidade é colocada um pouco de lado. Então os monitoramentos, as ações, os cuidados enfim, são um pouco negligenciados.

Estamos vivendo um período econômico turbulento, mas independente disso existem procedimentos essenciais na sanidade avícola que não podem ser desprezados ou minimizados. Pelo contrário, os cuidados têm que ser redobrados. Num período de crise como este uma ocorrência sanitária traria consequências desastrosas para o setor. E não podemos perder de vista que convivemos com inúmeras enfermidades que eventualmente podem aparecer no nosso plantel. Cuidados com a sanidade avícola sempre são importantes, independente do momento que vivemos.

 

AI – Que avaliação o senhor faz sobre o atual status sanitário da avicultura brasileira?

 

AB – De maneira geral estamos bem. O status sanitário da avicultura brasileira está muito bom se olharmos num contexto mundial. Existem enfermidades que preocupam o mundo, como a Newcastle e a Influenza Aviária. E em relação a essas doenças estamos muito bem. A Newcastle está sob controle e a Influenza Aviaria é uma doença exótica no Brasil. Então, de maneira geral, a sanidade avícola brasileira está equilibrada, está estável. Temos uma série de desafios de várias outras enfermidades, mas todas contornáveis. A avicultura brasileira hoje não enfrenta nenhum desafio, nenhum risco sanitário eminente ou coisa do gênero.  

 

AI – Em sua opinião quais são os principais desafios da avicultura brasileira no aspecto sanitário?

 

AB – Sob um prisma mais macro, acredito que a Influenza Aviária continua sendo motivo de grande precaução para a avicultura brasileira. Temos que ter máxima atenção com essa enfermidade. A doença de Newcastle é também uma enfermidade preocupante. Embora a tenhamos sob controle, no caso de surgimento de surtos as consequências são devastadoras. Eu diria que essas duas enfermidades são as que merecem atenção especial.

E no momento temos também as enfermidades de rotina que aparecem. Temos eventualmente surtos de Gumboro, de Bronquite – temos algumas Bronquites variantes que merecem um trabalho mais detalhado – temos alguns casos de Laringotraqueíte, situações de micoplasmoses que eventualmente aparecem, um caso ou outro de salmonela. Mas que fique claro, trata-se de uma série de desafios sanitários que estão dentro de parâmetros aceitáveis e possíveis de serem controlados.

 

AI – Em sua opinião o sistema de defesa sanitário oficial está à altura da importância da avicultura brasileira?

 

AB – Existem medidas, existem procedimentos, que precisam ser aprimorados considerando o tamanho e a qualidade da nossa avicultura. O sistema oficial de defesa sanitária é atuante, nos dá suporte, mas ainda falta muita coisa para atingir o nível de estabilidade, de equilíbrio e segurança que o setor avícola necessita.    

 

AI – Que medidas seriam essas?

 

AB – Acredito que agora está se criando uma nova alternativa… é importante dizer que a UBA [União Brasileira de Avicultura] está sendo mais interativa com o Ministério [da Agricultura] e acredito que muitas das dificuldades e dos pequenos problemas do passado podem ser resolvidos.

Agora, objetivamente, olhando a parte oficial, faltam colegas, faltam veterinários no campo para fazer o trabalho de vigilância que tem que ser feito. Existem melhorias que precisam ser feitas no sistema laboratorial. Os laboratórios oficiais ainda não estão fazendo as análises que precisam ser feitas. Recentemente, tivemos problemas de exportação por falta de reagentes. Isso é uma coisa que, pelo tamanho e importância de nossa avicultura, é inconcebível. O Plano Nacional de Sanidade Avícola está implementado em alguns Estados, mas não está homogeneamente implementado em todo o Brasil. Precisamos que isso aconteça. Para que o PNSA seja implementado de maneira adequada é preciso um esforço do governo, e claro, a parceria da indústria. Fora isso é preciso investir no treinamento de médicos veterinários. Temos que continuar com a vigilância para impedir a entrada da Influenza e o não reaparecimento da Newcastle.

Por outro lado é preciso dizer que temos avançado. Hoje temos vários mecanismos e estamos criando condições melhores para zelar pela sanidade de nosso plantel. 

 

AI – O Ministério da Agricultura está promovendo um bloqueio temporário de 62% em seu orçamento global para 2009. Que análise o senhor faz desse contingenciamento. Isso pode se refletir no sistema de defesa animal?

 

AB – Pode sim. A avicultura, sob o ponto de vista de defesa sanitária animal, já tem um orçamento apertado, pequeno. Já temos necessidades com o orçamento total, imagina com o bloqueio de parte desse dinheiro. É claro que o contingenciamento vai comprometer nosso sistema de defesa. É necessário que as autoridades oficiais e os órgãos organizados da avicultura não meçam esforços junto ao governo federal para evitar que isso aconteça. Vejo esse contingenciamento com grande preocupação.   

 

AI – Como anda a implementação do Plano de Regionalização da Avicultura Brasileira?

 

AB – Estamos avançando. Juntos, o governo e a indústria conseguiram tirar o Plano de Regionalização do papel. Estamos progredindo, mas ainda faltam etapas importantes a serem cumpridas. O Brasil como um todo não se engajou nesse plano, muitos Estados ainda não participam. Alguns Estados ainda não estão no padrão que deveriam estar. Portanto, há muito a ser feito. O Programa de Regionalização da Avicultura Brasileira está andando a passos lentos, mas estamos progredindo. Eu diria que a regionalização e a compartimentação progrediram. Avançamos, mas ainda faltam implementações, faltam avanços para chegarmos num estágio mais estável, mais seguro, mais desejável.      

 

AI – Em sua opinião qual sua importância e o que pode ser feito para agilizar sua implementação?

 

AB – Uma participação mais ativa por parte do governo poderia acelerar a implementação do programa. E também dos Estados e das entidades que representam a avicultura para fazer com que esse programa seja implantado. É necessário uma ação mais agressiva do governo, da indústria e das associações estaduais para que o Plano de Regionalização seja viabilizado em todas as áreas em que exista avicultura industrial no País.

O plano é muito importante. O Brasil é um país muito grande e na eventualidade de um surto, sem a regionalização, somos considerados uma unidade única. Isso comprometeria nossas exportações como um todo, independente da região ou Estado. Já com a existência de um Plano de Regionalização um eventual surto ficaria circunscrito a uma região.   

 

AI – Ao contrário de tempos atrás, hoje pouco se fala sobre a Influenza Aviária. Pode-se dizer que os países afetados já conseguiram controlar a enfermidade ou ainda ela é uma ameaça?

 

AB – A Influenza Aviaria ainda é uma ameaça. É certo que hoje o risco é um pouco menor quando comparado há três ou quatro anos atrás, quando houve a difusão da enfermidade em diferentes partes do mundo. Hoje a doença está controlada em vários continentes, como na América do Norte – como nos EUA e Canadá que, em princípio está tudo sob controle – a Europa também controlou, a África está começando a dar mostras de que a situação está melhorando, mas lá a avicultura industrial é muito pequena. Entretanto, a Influenza ainda está difundida na Ásia, com surtos na China e no Vietnã. Então a ameaça ainda existe e é real. Nada justifica nós diminuirmos nossa vigilância.  

 

AI – O projeto-piloto de compartimentação sanitária do sistema de produção avícola brasileiro encabeçado pelo Brasil, teve proposta aceita pela Organização Mundial do Comércio (OMC) e aprovada pela OIE, na 19ª Conferência da Comissão Regional da OIE para as Américas, em novembro de 2008, em Havana (Cuba).

O senhor poderia falar sobre esse projeto-piloto?

 

AB – Trata-se de um projeto bastante audacioso, inovador e muito oportuno, principalmente para nosso País. O Brasil mesmo dividido em regiões é muito grande. E essas regiões são muito grandes e muito diversas. Então a compartimentação vem atender uma necessidade da indústria, porque mesmo dentro de uma região existem várias indústrias, existe uma área geográfica bastante grande. Então o compartimento vem limitar as áreas e isso é extremamente importante para a avicultura brasileira. E o fato do Brasil encabeçar um projeto-piloto como esse só demonstra o arrojo da avicultura brasileira, a disposição do governo e da indústria brasileira em querer avançar no controle sanitário e querer ser um modelo para o mundo.

 

AI – O senhor acredita que o trabalho de estruturação de um modelo de compartimentação sanitária, para adesão dos países importadores e organismos internacionais, fortalecerá o comércio avícola? De que forma?

 

AB – Acredito que sim. Creio que o projeto é importante, está sendo monitorado pela OIE, e vai ser bem-visto, bem aceito. Precisamos, no entanto, implementá-lo de maneira adequada, fazer as correções que forem necessárias. Mas tenho absoluta certeza de que o mundo vai ver com bons olhos essa iniciativa do Brasil. E esse projeto vai servir para nos solidificar como exportadores e produtores de carne de aves de alta qualidade.