Redação AI (17/04/06)- A gripe aviária está se espalhando por um dos lugares mais populosos do mundo e, longe de ser controlada, parece quase certo que continuará sendo uma ameaça para as aves de criação do sul da Ásia, dizem autoridades.
Surpreendentemente, não se tem registro de nenhum caso de contaminação de seres humanos pela doença no sul da Ásia, onde centenas de milhões de habitantes da zona rural moram com seus animais de criação.
Mas os temores relacionados com o vírus H5N1, da gripe aviária, fizeram diminuir a demanda por carne e ovos de galinha, arruinando o ganha-pão de incontáveis trabalhadores do setor na Índia, avaliado em 7,8 bilhões de dólares, e até mesmo levando nove agricultores indianos ao suicídio, disse um grupo da área.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) e algumas autoridades indianas dizem que, depois de o vírus instalar-se em qualquer país — desenvolvido ou não –, é quase impossível erradicá-lo.
“Alguma doença que chegou à Índia nos últimos 50 anos foi embora?”, perguntou H.K. Pradhan, chefe do único laboratório indiano para doenças em animais que realiza testes sobre a gripe aviária.
Pior ainda é a falta de laboratórios, de veterinários treinados e de dados sobre a doença.
Autoridades admitem enfrentar uma batalha muito difícil contra o vírus da gripe aviária, que, segundo especialistas, pode sofrer mutações tais a fim de adquirir a capacidade de passar de uma pessoa a outra facilmente e detonar uma pandemia.
Na região onde o acesso ao atendimento médico é pouco ou nenhum, essa versão mutante do H5N1 poderia espalhar-se rapidamente entre os seres humanos, deixando inúmeras pessoas dependendo apenas de si mesmas.
Apesar de as autoridades estarem aparentemente cientes da ameaça, a reação de muitas pessoas é lenta e varia do pânico a um sentimento de resignação.
Na região com mais de 1,3 bilhão de habitantes, a gripe aviária é apenas uma das muitas ameaças enfrentadas por essa população, que se depara com a pobreza, os perigos de outras doenças, a violência de grupos armados e os desastres naturais.
“Espero que a gripe aviária não se transforme em uma parte de nossas vidas”, disse Faiz Qureshi, um jovem proprietário de restaurante de Nova Délhi.
“Há acidentes de carro todos os dias nas ruas, mas as pessoas não param de dirigir, param?”, perguntou, olhando para seu estabelecimento, especializado em pratos com galinha e carne de carneiro, quase vazio.
No Paquistão, um pequeno número de pessoas, em sua maioria nas cidades, parou de comer galinhas, mas a maioria parece indiferente à doença e a venda do produto continua quase inalterada.
“Não estou convencido de que a gripe aviária esteja no Paquistão. Isso tem mais a ver com os meios de comunicação”, afirmou Shahina Munawar, uma dona de casa de Karachi.
CUIDADO
A Índia, com 1,1 bilhão de habitantes, tenta conter seu quarto surto desde fevereiro e já sacrificou 500 mil aves e destruiu quase 2 milhões de ovos no oeste do país.
Mas a OMS diz que o prazo decorrido entre o registro da morte de aves, a confirmação da doença por laboratórios e a ação na área atingida era grande demais, de cerca de 15 dias.
“A distância entre o registro da morte de aves e o resultado dos exames de sangue atrasa a ação imediata nas áreas atingidas, e a gripe aviária consegue assim espalhar-se para outros pontos”, disse à Reuters Subhash Salunki, autoridade da OMS para o sul da Ásia.
Grande parte do setor avícola da região é informal. No Afeganistão, anos de guerra e insurgência, um terreno acidentado e uma infra-estrutura em frangalhos vêm dificultando os esforços para conter a gripe aviária.
“A doença continua ativa e está matando galinhas. Estamos adotando quarentenas”, disse Azizullah Osmani, uma autoridade do Ministério da Agricultura do país.
O Afeganistão confirmou a presença do H5N1 em uma terceira Província e suspeita que o vírus possa estar em mais outras duas, disse uma autoridade da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO), na quinta-feira.
No vizinho Paquistão, autoridades dizem que o H5N1 foi encontrado em dois bandos de aves e que não ressurgiu mais depois do sacrifício de 23 mil animais.
“A situação, aparentemente, está sob controle. Mas não temos segurança em muitos aspectos e não podemos ter certeza absoluta de que controlamos esse problema”, disse Muhammad Afzal, autoridade da área de criação de animais.
“Não dispomos de equipamentos e pessoal treinado para verificar essas propriedades rurais. Então, a suspeita é de que a doença possa estar escondida ali, em algum desses locais.”
Bangladesh e Sri Lanka tiveram sorte apesar de sua proximidade da Índia, mas os dois recebem aves migratórias e são destino de aves contrabandeadas a partir de países contaminados.
Com a volta das aves migratórias para a Ásia Central, o Sri Lanka deve ter algum descanso por alguns meses. Mas o contrabando continua a ser algo preocupante.
Há muita preocupação também com Mianmar. Autoridades da ONU dizem que o regime militar fechado do país enfrentou mais de cem surtos da doença em aves e que até agora vem cooperando com as equipes da ONU.