A União Europeia (UE) espera, com a nova presidente no Brasil, continuidade tranquila de uma relação bilateral que “ganhou impulso em ritmo muito rápido” com o estabelecimento da parceria estratégica em 2007. A UE é o maior investidor estrangeiro no Brasil e o maior parceiro comercial do país, mas sua importância relativa vem diminuindo com o forte crescimento dos negócios entre o Brasil e a China.
O presidente da Comissão Europeia, José Durão Barroso, mostrou-se “admirado” com “o caminho notável do Brasil”, ao receber em junho a então candidata do PT, Dilma Roussef, em Bruxelas. “A União Europeia faz grande aposta no Brasil não só como País do futuro, mas do presente e estamos desenvolvimento uma relação estratégica muito importante”, afirmou.
O tema mais candente na agenda bilateral no próximo ano é a negociação UE-Mercosul. Negociadores trabalham com a hipótese de concluir até meados de 2011 o maior acordo de livre comércio do mundo, com 700 milhões de consumidores. Mas agora é esperar o que o novo presidente vai querer.
Em todo caso, o primeiro conflito que o Brasil poderá abrir na Organização Mundial do Comércio (OMC), no novo governo, poderá alvejar justamente barreiras da UE na entrada de carne de frango. A Câmara de Comércio Exterior (Camex) aprovou levar a queixa a OMC, e os produtores aguardam até o começo de 2011 para ter uma ideia mais concreta do impacto sobre seus negócios, provocada pela barreira europeia.
Do ponto de vista europeu não havia grandes diferenças entre Dilma Roussef e José Serra na macroeconomia. Os dois se comprometeram a manter uma política ortodoxa e previsível.
A única verdadeira curiosidade dos europeus é qual será o rumo da política externa brasileira, admitem fontes em Bruxelas. Os europeus em geral aplaudem o novo protagonismo global do Brasil. Consideram que é sempre bom ter um novo parceiro democrático e economicamente pujante na cena internacional para poder compartilhar a gestão do sistema internacional e do multilateralismo.
A questão, como nota o professor Alfredo Valladão, do Instituto de Estudos Políticos de Paris e presidente do conselho da Associação UE-Brasil, é saber se a política externa brasileira vai evoluir para uma maior tomada de responsabilidade ou se vai, ao contrário, adotar atitudes como as da China que só defende o multilateralismo quando convém diretamente aos seus interesses – o famoso “multilateralismo lucrativo”.
Depois da iniciativa turco-brasileira com o Irã, os europeus estão curiosos em saber de que lado vai cair o Brasil: para o lado das alianças com governos autoritários que procuram uma confrontação com o mundo ocidental ou para o lado da defesa de um sistema internacional que promove a democracia, os direitos humanos e as liberdades individuais. “Ficar em cima do muro para tentar só ser um mediador neutro é um luxo que um país com o peso político e econômico do Brasil não poderá mais se permitir”, diz ele.
Para o Brasil, o debate sobre não proliferação tem que andar de mãos dadas com desarmamento, um tema que o opõe aos europeus, que têm na França e Reino Unido arsenais nucleares.
Por outro lado, os europeus são bem menos diretos dos que os EUA nas pressões para o Brasil agir na situação interna na Venezuela, Bolívia ou mesmo Cuba, usando seu peso como líder regional.