Boletim conjunto divulgado ontem pela Comissão Econômica para América Latina e o Caribe (Cepal), pela agência das Nações Unidas para agricultura e alimentação (FAO) e pelo Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA) critica as estratégias que, em geral, vêm sendo adotadas pelos governos latino-americanos e caribenhos para tentar combater a ainda forte volatilidade dos preços dos alimentos.
“As respostas dos países da região à volatilidade de preços agrícolas apresentam alguns traços em comum: os governos tendem a intervir em maior medida quando os preços sobem do que quando baixam; quer dizer, tem sido dada relativamente mais importância à inflação e ao consumidor do que ao produtor e à estrutura produtiva agrícola. Também as medidas de política, em termos gerais, estão sendo centradas principalmente no curto prazo e em menor medida na atenção a problemas estruturais, sendo que a busca de soluções para esses problemas poderia reduzir significativamente a vulnerabilidade dos países à volatilidade preços”, afirma o boletim.
Cepal, FAO e IICA ressalvam que não existem “receitas universais” para amenizar a volatilidade, mas sugerem mais equilíbrio entre medidas emergenciais e ações estruturais capazes de promover o incremento da produção de alimentos. Nessa frente, recomendam ênfase no apoio a pequenos agricultores, de forma a melhorar a segurança alimentar em âmbito local e nacional.
Apesar do viés latino-americano do boletim conjunto, seus autores deixam claro que a preocupação em torno das fortes oscilações dos preços – cujas resultantes até agora têm sido para cima – é global e voltou a ganhar força no início do segundo semestre de 2010, quando problemas climáticos começaram a prejudicar as safras de cereais e grãos de diversos países do Hemisfério Norte, sobretudo a Rússia. A espiral ascendente ganhou força desde então – com o empurrão de grandes fundos de investimentos globais – e o indicador de preços de alimentos da FAO bateu sucessivos recordes. A última máxima histórica foi em janeiro (ver gráfico). O levantamento de fevereiro passado ainda não foi divulgado.
Apesar de elevadas no mercado internacional, as cotações de commodities como soja, milho e trigo, além do algodão, poderão perder sustentação a partir do início dos plantios no Hemisfério Norte, em abril. A expectativa é que os agricultores aproveitem os bons preços para plantar mais. Resta saber se o clima vai colaborar e se o aumento atenderá à crescente demanda global, puxada pelos emergentes.
Independentemente disso, pondera o economista Fabio Silveira, da brasileira RC Consultores, uma nova fase de nervosismo teve início nos mercados com a crise no Oriente Médio e no norte da África, que até agora acelerou a valorização do petróleo e tirou parte do suporte agrícola, por opção dos investidores. Em artigo, Silveira admite que a forte volatilidade poderá perdurar por meses. Resta saber se a resultante será para baixo ou para cima.
Ipsis Litteris
“A grande flutuação de preços chegou para ficar, por isso a região deve se preparar. O trabalho que apresentamos hoje [ontem] pode ajudar os países a implementar e combinar os melhores instrumentos de política levando-se em conta as realidades nacionais”, afirma Alicia Bárcena, secretária-executiva da Cepal, em comunicado conjunto divulgado ontem por Cepal, FAO e IICA no contexto da divulgação do boletim “Volatilidade de preços nos mercados agrícolas (2000-2010): implicações para a América Latina e opções de políticas” (ver matéria ao lado). Para Alan Bojanic, responsável pela representação regional da FAO para América Latina e Caribe, “é necessário criar ferramentas que possam regular [a volatilidade] e assim fomentar o desenvolvimento agrícola da região”. E, conforme o diretor-geral do IICA, Víctor Vilalobos, é preciso gerar informação para que as decisões tomadas sejam apropriadas. Segundo ele, “ante a situação atual é crucial inovar e investir mais em agricultura”.
Mais em www.rlc.fao.org