A atual turbulência nos mercados de renda variável de países emergentes deu início a uma série de obituários prevendo o fim dos índices milagrosos de crescimento econômico das últimas décadas. Confundir tremores de curto prazo com um declínio terminal, no entanto, é um erro crasso de interpretação do que vem ocorrendo. A onda de industrialização e urbanização que vem elevando a renda de milhões de pessoas nas economias emergentes ainda não acabou.
De fato, entre os que se mostram pessimistas quanto aos mercados emergentes, há os que deixam de levar em conta um importante novo motor de crescimento contínuo nesses países: suas empresas, cada vez mais fortes e dinâmicas. As economias emergentes de hoje são muito mais do que apenas um conjunto de novos mercados de consumo e mão de obra abundante (e cada vez mais capacitada). Também são lar de milhares de novas firmas, muitas das quais rapidamente se tornam grandes líderes internacionais em seus campos.
Há 20 anos, quem teria adivinhado que o Tata Group, de Mumbai, seria o maior empregador industrial do setor privado no Reino Unido; ou que as empresas mexicanas Cemex e Bimbo se tornariam líderes nos Estados Unidos, respectivamente, na produção de cimento e de pão; ou que a Lenovo, de Pequim, estaria cabeça a cabeça com a Hewlett-Packard como maior vendedora mundial de computadores pessoais? Além disso, a transformação do cenário empresarial mundial está apenas em seus primeiros estágios, com o que deverá impulsionar o crescimento nos mercados emergentes por vários anos.
A nova geração de multinacionais de países emergentes vem diversificando sua receita pelo mundo. Se o crescimento em seus mercados domésticos desacelerar-se, vão diversificá-la de forma ainda mais agressiva. A economia mundial agora é sua plataforma.
A MGI CompanyScope1, uma nova base de dados de todas as empresas com receitas superiores a US$ 1 bilhão, revela que há cerca de 8 mil dessas empresas em todo o mundo. As sedes de 75% dessas firmas por enquanto ainda estão localizadas em regiões desenvolvidas. Até 2025, contudo, o número deverá aumentar em 7 mil, com cerca de 70% com sede em regiões de mercados emergentes. A participação na receita consolidada mundial gerada por esses gigantes de países emergentes deverá crescer dos atuais 24% para 46% em 2025.
A composição da lista Fortune Global 5002 é um bom exemplo. Entre 1980 e 2000, a participação de empresas com sede no mundo emergente nessa lista permaneceu relativamente estagnada, em 5%. Em 2013, essa porcentagem havia aumentado para 26%. Com base nas suposições mais pessimistas de crescimento dos mercados emergentes, prevemos que aumentaria para 39% em 2025. Nas suposições mais otimistas, chegaria a 50%.
Na verdade, a mudança no cenário empresarial até agora ficou para trás em relação à mudança de peso no Produto Interno Bruto (PIB) mundial em favor dos mercados emergentes. Entre agora e 2025, o PIB dos mercados emergentes poderia aumentar em 2,5 vezes – mas o número de grandes firmas com sede nessas regiões poderia mais do que triplicar. Em 2025, alguns dos principais nomes internacionais em muitos setores poderiam ser de empresas das quais nunca ouvimos falar – e alguns provavelmente terão sede em cidades que, hoje, poucos seriam capazes de apontar no mapa.
Isso, no entanto, também vem mudando rapidamente. O número de grandes empresas com sede em São Paulo, por exemplo, deverá mais do que triplicar até 2025, enquanto Pequim e Istambul terão 2,5 vezes mais sedes do que hoje. Estimamos que cerca de 280 cidades – entre as quais poderiam estar Campinas (Brasil), Daqing (China) e Izmir (Turquia) – são candidatas a abrigar sedes de grandes empresas pela primeira vez.
Mais de 150 dessas cidades promissoras para empresas deverão estar na China. Se observarmos as empresas de telecomunicações, por exemplo, Bandung (Indonésia) e Hanói (Vietnã) já têm sedes de grandes firmas – apesar do fato de seus PIBs serem relativamente pequenos, de US$ 6 bilhões e US$ 12 bilhões, respectivamente.
Mercados domésticos de alto crescimento serviram de base de lançamento para empresas de países emergentes competitivas no exterior, em parte, porque essas firmas aprenderam a ser competitivas dentro de um cenário com níveis de renda muito diferenciados. Além disso, sabem como trabalhar com infraestrutura inadequada. A pesquisa da McKinsey indica que essas firmas crescem mais que o dobro do que as homólogas em economias desenvolvidas.
A crescente influência internacional das grandes empresas de países emergentes é refletida nos fluxos de investimentos externos diretos (IEDs). Até não muito tempo atrás, em 2001, apenas 5% dos IEDs tinham como origem países de fora da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE); em 2011, a parcela havia aumentado para 21%. Os IEDs da China em outros países subiram quase 50% por ano entre 2004 e 2010; Brasil, Cingapura e Hong Kong são grandes investidores na Europa.
Aqueles que vêm escrevendo obituários prevendo o fim da onda de ascensão dos mercados emergentes deveriam considerar seriamente as tendências acima. A nova geração de multinacionais de países emergentes vem diversificando sua receita pelo mundo. Se o crescimento em seus mercados domésticos desacelerar-se, vão diversificá-la de forma ainda mais agressiva. A economia mundial agora é sua plataforma. (Tradução de Sabino Ahumada)
Richard Cooper é professor de economia internacional na Harvard University.
Jaana Remes é sócia do McKinsey Global Institute, em San Francisco. Copyright: Project Syndicate, 2013.