O movimento que o Brasil prepara, para colocar na agenda da Organização Mundial do Comércio (OMC) o tema de manipulação cambial como subsídio ilegal à exportação, deverá ser recebido com ceticismo por certos parceiros que, justamente, têm forçado a baixa de suas moedas.
O Brasil não vai abrir contencioso contra nenhum país e menos ainda contra a China e os Estados Unidos, que vêm sendo acusados de manipular suas moedas de maneiras diferentes. O que o país buscará é dar mais visibilidade política ao tema nos diversos órgãos da OMC, sensibilizar mais países, e sobretudo não limitar as discussões no G-20 ou Fundo Monetário Internacional (FMI) a cada seis meses.
Os Estados Unidos não têm, porém, a mesma ideia, segundo diferentes fontes. A questão cambial tem sido um tema altamente sensível politicamente em Washington, com parlamentares querendo sempre sobretaxar a China. Mas o governo nunca recorreu à OMC por reconhecer a dificuldade de avançar o tema no organismo.
A China, que com sua moeda desvalorizada subsidia as exportações, não quer nem ouvir falar dessa discussão. Nem na OMC, nem no G-20 e menos ainda no FMI. Alguns negociadores dizem com ironia que só na próxima dinastia é que o país vai flexibilizar a sua posição.
A Suíça, país que está sofrendo com a valorização de sua moeda em relação ao euro, já tendo perdido US$ 21 bilhões nessa luta, também mostra ceticismo. Seu embaixador na OMC, Lucius Washesha, aponta a experiência mal sucedida da França em 1986, quando o país tentou colocar a questão cambial na Rodada Uruguai.
O fato é que o Brasil tem todo direito de agir, ainda mais que o real é a moeda que mais se valorizou no G-20, o grupo que reúne as maiores economias do mundo, conforme o Banco Internacional de Compensaçoes (BIS), afetando competitividade das exportações.
Para o embaixador do Brasil na OMC, Roberto Azevedo, discutir o tema no Conselho Geral, comitês ou em seminários na OMC, é importante. “Como esse fenômeno tem vertente comercial óbvia, a OMC é um foro adequado para começar a discutir seriamente sobre ele.”
A OMC não pode fazer nada, se não for acionada através de disputa. E se contencioso houver, um dia, terá de consultar o FMI, que é quem dirá se uma moeda é manipulada.