A deterioração dos preços da carne suína exportada à China e a disparada dos custos com grãos derrubaram o resultado da BRF no terceiro trimestre, período no qual a dona da Sadia também foi afetada pela valorização da opção de venda que os sócios na turca Banvit possuem contra a empresa brasileira.
Nesse contexto, a BRF reportou nesta quarta-feira um prejuízo líquido de R$ 277 milhões. No mesmo trimestre do ano passado, a dona da Sadia havia lucrado em torno de R$ 220 milhões.
O vice-presidente de finanças e de relações com investidores da BRF, Carlos Moura disse que a empresa vem atuando com “previsibilidade, agilidade e austeridade” diante da conjuntura desafiadora.
Em meio aos efeitos adversos da valorização do dólar sobre os níveis de endividamento, a BRF sinaliza que vai pisar no freio em investimentos — ao menos no curto prazo. “Estamos reorganizando as prioridades de capital para poder manter alavancagem sobre controle”, afirmou Moura.
A meta da BRF é manter o índice de alavancagem (relação entre dívida líquida e Ebitda ajustado) abaixo de 3 vezes. Em setembro, o indicador rompeu a barreira, saindo de 2,73 vezes para 3,06 vezes — o que também reflete o aporte de R$ 1,3 bilhão feito para adquirir a Hercosul e Mogiana, uma ofensiva que deu à companhia cerca de 10% de participação em ração para pet.
De acordo com Moura, a desvalorização do dólar desde o fim de setembro (quando a empresa marca as dívidas do balanço trimestral) já faria com que a alavancagem estivesse 0,2 vez inferior. Além disso, a inclusão pro-forma do Ebitda em doze meses das duas companhias recém-adquiridas faria o indicador atingir 3,01 vezes. No balanço, a BRF só incorporou os resultados de setembro de Hercosul e Mogiana, frisou.
Apesar do ambiente adverso, a BRF conseguiu segurar a margem bruta em níveis acima da concorrência. No terceiro trimestre, a companhia registrou uma margem bruta de 21,2%, queda de 2,4 pontos na comparação anual. A Seara, que também divulgou os resultados hoje à noite, viu a margem encolher 4,4 pontos, a 20,3%.
Como um todo, a BRF fez uma forte recomposição de preços — ainda insuficiente para compensar a queda de custos —, o que junto com o dólar valorizado ajudou a impulsionar a receita líquida. Entre julho e setembro, as vendas da companhia somaram R$ 12,4 bilhões, incremento 24,6% na comparação anual. Nesse intervalo, o preço médio dos produtos comercializados pela BRF cresceu 18,6%.
No Brasil, o preço médio subiu 20,7%, o que contribuiu para que a receita líquida aumentasse mesmo com uma queda de 0,6% no volume vendido no país. Ao todo, a receita líquida da BRF no Brasil chegou a R$ 6,4 bilhões, aumento de 20%.
No trimestre, a companhia teve um forte crescimento do volume de vendas de in natura no mercado local. Em aves, o aumento foi de 7% e, em suínos, de 4,2%. Em contrapartida, as vendas de alimentos processados, que em geral entregam margens melhores, recuaram 2,9%. Para Moura, a queda é “pontual”, explicada por um efeito de fim de trimestre, quando os varejistas ficaram mais cautelosos com o cenário brasileiro.
Para o analista de um grande banco, essa queda pode ser explicada pelo reajuste de preços feito pela BRF nas marcas Sadia e Perdigão — a concorrência não acompanha na mesma velocidade, o que pode trazer perda de participação de mercado — e também por um efeito de comparação com o resultado forte do terceiro trimestre, quando o auxílio emergencial puxou os volume.
No exterior, a BRF vem acompanhando a situação chinesa de forma detalhada, mas sem fazer movimentos “bruscos”. Segundo Moura, ainda não há consenso entre analistas se a queda dos preços da carne suína no país asiático é reflexo da recomposição do rebanho pós-peste suína africana ou se é uma estratégia de liquidação de matrizes de baixa aptidão. Nesta hipótese, a demanda do país seguirá sustentada.