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Crédito Rural

Caixa quer avançar na área de crédito rural

Ao longo deste ano, desembolsos já deverão crescer para R$ 35 bilhões

Caixa quer avançar na área de crédito rural

No último fim de semana, o presidente da Caixa, Pedro Guimarães, participou de uma colheita de abacaxi, visitou fazendas e esteve numa comunidade quilombola no Tocantins. As imagens, estrategicamente publicadas nas redes sociais do executivo, sinalizam a ambição de transformar um banco sem nenhuma tradição no agronegócio no segundo maior do mercado.

A Caixa encerrou o ano passado com R$ 18 bilhões em crédito agrícola, e a meta é chegar a pelo menos R$ 35 bilhões no fim de 2022. Nesse ritmo, o banco pode ultrapassar o Bradesco, vice-líder do setor, com uma carteira de quase R$ 30 bilhões no fim de setembro. “Saímos do oitavo lugar para o terceiro [no segmento]”, afirma Guimarães.

Para isso, há duas estratégias principais. Uma delas, mais imediata, é que o banco começará a direcionar um volume maior de depósitos à vista para o agro. Como tem cerca de R$ 50 bilhões em depósitos à vista, mas praticamente não fazia operações de crédito rural, a Caixa costumava transferir esse funding para cooperativas e outras instituições financeiras mediante remuneração. Agora, o banco deixará de fazer a cessão e passará a alavancar ele próprio esses recursos.

Banco planeja elevar de R$ 7,5 bilhões para R$ 20 bilhões sua participação no próximo Plano Safra

São cerca de R$ 6 bilhões em depósitos repassados por meio de contratos que começaram a vencer nesta semana e se estenderão até o meio do ano. Segundo Guimarães, a Caixa não vai renovar essas operações e destinará esse volume para o crédito.

Os bancos são obrigados a direcionar 25% dos depósitos à vista para o crédito rural. Os que não chegam a esse patamar, como era o caso da instituição, precisam ceder os recursos a terceiros para não serem multados. O Valor apurou que Sicredi, Sicoob e Bradesco eram os principais usuários do funding ocioso da Caixa.

A outra estratégia é convencer o Ministério da Agricultura a atribuir à Caixa uma fatia maior do Plano Safra. No ano passado, quando participou pela primeira vez da modalidade, a instituição ficou com R$ 7,5 bilhões dessas operações, e Guimarães almeja R$ 20 bilhões para 2022/23.

O foco da Caixa no agro são pequenos e médios produtores, utilizando programas como Pronaf (agricultura familiar) e Pronamp (custeio e investimentos). Financiamentos de silos, correção de solo, irrigação e aquicultura são áreas que estão no radar do banco – que dessa forma espera encontrar uma brecha em áreas nas quais a presença dos concorrentes não é tão forte. “Não existe [a possibilidade de] fazer crédito agrícola sem fazer para os mais carentes”, diz o executivo. “Tem fazendeiro com cinco vacas e aquicultor com dois tambores”.

Em busca desse público, a Caixa abriu cem lojas voltadas ao agronegócio e começa a se embrenhar nas feiras do setor. Ao mesmo tempo, Guimarães tem rodado o interior do país para visitar potenciais clientes.

Futuro com grandes produtores

Ainda que não seja um objetivo de curto prazo, o executivo não esconde a intenção de chegar também aos grandes produtores, especialmente os do Centro-Oeste. Para isso, pretende disputar um pedaço do Fundo Constitucional de Financiamento do Centro Oeste (FCO), que oferece recursos baratos e de longo prazo para pessoas físicas e jurídicas. O fundo, com R$ 80 bilhões, é administrado pelo Banco do Brasil (BB).

Se bem-sucedido, o crescimento da Caixa no agro pode borrar as linhas historicamente definidas segundo as quais ela era o banco do crédito imobiliário e o BB, do rural. Segundo Guimarães, a investida faz sentido porque os pequenos produtores muitas vezes têm correlação com os programas sociais geridos pela Caixa e também porque se trata de um bom negócio: o agro tem alto potencial de gerar “cross-selling”, ou seja, a venda de mais produtos para um mesmo cliente.

“Há muitas vezes duas safras por ano. O produtor precisa de um cartão, de seguro”, afirma Guimarães, acrescentando que a Caixa Seguridade planeja lançar produtos voltados ao setor.

Ao mesmo tempo, a aproximação da Caixa com o agronegócio não deixa de ser também um aceno a um público importante para o bolsonarismo. O presidente Jair Bolsonaro, de quem Guimarães é próximo, tem forte apoio em alguns grupos de produtores rurais. Muitos deles elogiam os planos do banco estatal de avançar nesse mercado.