Já faz uma década que a Embrapa Suínos e Aves propôs a abertura de um debate sobre como os cereais de inverno poderiam ampliar a oferta de grãos utilizados na produção de rações para a suinocultura e a avicultura,especialmente no Sul do Brasil, região que concentra as duas atividades (Bertol et al., 2016, Suinocultura Industrial, edição 270; Santos Filho et al., 2016).
O que se iniciou como uma proposta de pesquisa logo viu mais atores se engajarem na discussão sobre o tema (associações, produtores, indústrias e órgãos públicos).
Também tomou parte na construção de políticas públicas (incentivos ao plantio de cereais de inverno), promoveu a definição de alvos de inovação (variedades de grãos voltadas às rações animais) e, no sentido mais amplo e recente, face aos desafios de substituição dos combustíveis fósseis, observou-se o surgimento de um novo e potencial mercado para os cereais de inverno (como as indústrias de produção de etanol no sul do Brasil).
Inequivocamente, o debate despertado na década passada ocorreu porque as análises e projeções na dinâmica da indústria da carne de aves e suínos indicavam para um crescente déficit de milho em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul. No âmbito interno da Embrapa Suínos e Aves, a partir de 2014, reuniões internas passaram a ser realizadas para a caracterização e dimensionamento do problema, com análises conjunturais de produção e consumo de milho, e de logística e elaboração de estratégias (Santos Filho et al., 2018).
As análises e projeções dos cenários resultaram em uma mobilização técnico-científica que foi externada reiteradas vezes em vários eventos direcionados à produção animal (Santos Filho et al., 2016). A partir de 2016 foram realizadas reuniões técnicas e workshops com representantes do setor produtivo e do setor público de SC e RS.
O maior alerta para a situação crítica na disponibilidade de milho veio com a seca em 2016 e também nos anos subsequentes, pois, na Região Sul, as safras de milho entre 2018 e 2022 nunca alcançaram a produção contabilizada em 2017.
Este artigo se propõe a refletir sobre consequências dessa mobilização ao discorrer sobre três pontos: 1) novas informações sobre o valor nutricional e variabilidades dos cereais de inverno; 2) comparações apuradas entre o milho e cereais de inverno na formulação de rações para suínos; e 3) análises sobre quais gargalos ainda limitam o uso dos cereais de inverno na suinocultura e na avicultura.
Leia o artigo completo na edição 312 da Suinocultura Industrial