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Fabiano Coser

Consumo interno vai definir patamar de preço do suíno vivo

Nos últimos anos muito se falou a respeito da importância do mercado interno e do consumo per capita de carne suína para sustentar o crescimento da suinocultura brasileira.

Consumo interno vai definir patamar de preço do suíno vivo

Nos últimos anos muito se falou a respeito da importância do mercado interno e do consumo per capita de carne suína para sustentar o crescimento da suinocultura brasileira. O assunto ganha força e destaque principalmente nos períodos de baixa do mercado do suíno vivo, mas será justamente no melhor momento da atividade que o mercado doméstico será desafiado. O volume exportado de carne suína em 2014 será o menor dos últimos 10 anos, e o horizonte de curto prazo aponta para manutenção da média decenal de 550 mil toneladas/ano. Neste cenário, todo estímulo à produção terá o consumidor brasileiro como destino.

A forte elevação no preço do suíno vivo no segundo semestre de 2014 tem gerado uma grande discussão a respeito dos motivos e também causado apreensão sobre as consequências, sobretudo pelo fato de na gôndola do supermercado já haver resistência dos consumidores em relação ao preço das carnes bovina e suína, que subiram muito acima da inflação. O preço do boi mais do que dobrou em oito anos, aumentando a distância em relação à cotação do suíno. Mas nos últimos dois anos a recuperação do preço do suíno diminuiu a diferença de preço entre as duas proteínas.

No gráfico abaixo podemos comparar as cotações da arroba do boi gordo e do suíno vivo, e também observar a relação entre os preços das duas proteínas. O período entre 2006 e 2007 marca o início da escalada de preços do boi gordo (em vermelho), com aumento também das cotações do suíno (em azul). Naquele momento a cotação do suíno vivo era em média 68% do valor da cotação do boi gordo, mas já a partir de 2008 esta equivalência (em branco) começou a perder força, levando a cotação do suíno para uma média de 54% do preço do boi no período 2011/2012, graças à crise da suinocultura e à manutenção do mercado do boi gordo.

Já entre 2013 e 2014, mesmo com aumento aumento das cotações do boi gordo, a forte recuperação dos preços do suíno vivo fizeram com que a diferença entre os dois mercados ficasse menor, com o suíno vivo valendo em média 63% do valor do boi gordo, interrompendo assim uma sequência de cinco anos, de 2007 a 2012, de queda na equivalência entre um mercado e outro. No entanto, vale ressaltar que a curva de tendência de longo prazo (amarelo) aponta para aumento da diferença entre as cotações do boi gordo e do suíno vivo, como de resto já acontece no mundo inteiro, tendo sido o Brasil sabidamente o último país do mundo a produzir carne de boi barata, o que já não acontece mais.

Todas as perspectivas indicam que o mercado do boi gordo vai continuar em alta, fazendo com que no crescimento total da produção mundial de carnes nos próximos 10 anos a carne bovina contribua com apenas 16%, contra 31% de participação da carne suína e 53% da carne de frango, de acordo com estudo da OCDE/FAO. A expectativa está em como o consumidor brasileiro vai reagir aos preços da carne suína, que mesmo estando em um patamar de equivalência com a carne de boi inferior ao de oito anos atrás, interrompeu um ciclo de queda que propiciou maior atração no momento da compra.

Logicamente tanto a carne de boi quanto a carne suína aumentaram a distância da carne de frango, que com preços mais atrativos teve desempenho surpreendente em termos de consumo não só no Brasil como no mundo inteiro. O consumo de frango vai continuar crescendo, a questão discutida aqui é se o consumidor ao deixar de comprar carne de boi vai comprar carne suína, ou melhor, qual seria a diferença de preço entre carne suína e carne de boi que faria o consumidor migrar de uma para outra.