Com ganhos de produtividade nas fazendas, a produção agrícola goiana enfrenta problemas da porteira para fora. De acordo com o consultor de mercado e palestrante do Fórum de Comercialização e Mercado Agrícola 2017, Ênio Fernandes, a alta carga tributária e a falta de estrutura para o escoamento da produção, com estradas ruins e portos obsoletos e caros, são os principais entraves para o agronegócio no país. A observação do consultor foi feita em Vicentinópolis, na última terça-feira (7), durante mais uma rodada do fórum, promovido pela Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg).
Segundo dados da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), os custos logísticos fora da propriedade equivalem, em média, a quatro vezes os custos argentinos e norte-americanos, por causa da falta de infraestrutura. “Somos o país que mais tem crescido na produção de alimentos. À medida que as fronteiras agrícolas se interiorizam e se distanciam dos portos do Sul e do Sudeste, os custos de logística para escoamento da produção aumentam”, destacou o consultor.
Ênio explica que a falta de infraestrutura impede que a produção escoe por rotas mais racionais. Em vez de serem exportada pelos portos do Norte e Nordeste, a produção viaja mais de dois mil quilômetros para os portos de Santos (SP) e de Paranaguá (PR), com custos crescentes. “O Governo Federal tem feito alguns investimentos em portos, mas ainda teremos problemas no escoamento da safra. É muita produção no mercado em curto tempo. Então, o preço do frete sobe e depois cai”, disse.
Malha viária
De acordo com avaliação feita pela Faeg, entre os entraves que encarecem os custos de exportação destaca-se o transporte para os portos. A malha rodoviária ainda é insuficiente e não comporta todo volume de movimentações de carga. Para o presidente da Federação, José Mário Schreiner, o problema da logística começa dentro da propriedade rural, na falta de armazéns. Em Goiás, a capacidade armazenadora nas propriedades rurais equivale a apenas 7% da produção do Estado.
O ideal, segundo Schreiner, seria o armazenamento de 30% da produção na propriedade. “Isso resulta no transporte, em 30 dias, de seis milhões de toneladas de grãos, o que ocasiona um fluxo intenso de caminhões. A baixa qualidade das rodovias é o principal fator que eleva o custo da logística”, aponta.
Joaquim Pádua produz soja e milho nas cidades de Vicentinópolis e Joviânia, e afirma que tem sentido os impactos com o custo de produção, que fica até quatro vezes mais caro, devido à precariedade da logística. “As estradas não têm acostamento e oferecem grandes riscos de acidentes. Além disso, na safra, há um fluxo grande de caminhões, que acabam quebrando e jogando a produção fora. As rodovias não estão preparadas para receber a safra. Enquanto não houver melhorias em infraestrutura e investimentos para o setor, continuaremos a perder em competitividade”, relata.