Os grandes fornecedores de carne suína do Brasil avançaram significativamente na substituição de celas de gestação individuais por baias coletivas, segundo a Alianima. A ONG de bem-estar animal consultou Alegra, Aurora, BRF, Frimesa, JBS (dona da Seara), Pamplona e Pif Paf, que juntas têm 60% do plantel nacional.
Na BRF, dona da marca Sadia, cujos integrados dominam o maior plantel do país, hoje quase 54% das porcas criadas pelos fornecedores dão à luz em instalações comunitárias – o que representa um aumento de 7,75 pontos percentuais ante um ano atrás.
O percentual de matrizes alojadas em baias coletivas cresceu 8 pontos percentuais entre os integrados da Pamplona, segundo a companhia, para 89% do total.
Alegra, Aurora e Seara reportaram aumentos de 3,5 pontos, 25 pontos e 9 pontos, para 41,5%, 85% e 70%, respectivamente.
A Frimesa registrou um recuo de 16 pontos, para 20% – mas a empresa não comentou o motivo da retração, verificada também em números absolutos. Já a Pif Paf não respondeu ao questionamento da Alianima.
“Vemos uma evolução no setor que vale ser reconhecida, e mais empresas estão aceitando participar do relatório. É um bom sinal, de que entendem a importância dessa transparência”, disse ao Valor a presidente da ONG, Patrycia Sato.
Além dos frigoríficos, o grupo consultou também 16 empresas que atuam no varejo, totalizando 23 participantes, contra 13 no ano passado. As celas individuais são apertadas e restringem a movimentação dos animais – o que, segundo a Alianima, traz problemas físicos e sofrimento.
Além de ficarem desconfortáveis, as fêmeas não conseguem interagir, explorar o ambiente ou construir o ninho para o parto, comportamentos naturais importantes. Também é considerado positivo o fato de que os grandes frigoríficos mantiveram suas metas individuais para substituição total das celas individuais – a despeito da instrução normativa 113 do Ministério da Agricultura, que estabelece janeiro de 2045 como prazo oficial.
A maioria das empresas quer concluir as mudanças até o fim desta década. Para 66,7% das empresas ouvidas pela Alianima, a maior dificuldade para avançar com as baias coletivas é a falta de recursos. Crises financeiras com intervalos pequenos desde 2009 atrapalham os investimentos, reconhece Patrycia. A Alianima também consultou as empresas sobre a continuidade de procedimentos cirúrgicos em leitões, como castração e corte de cauda sem uso de analgésicos e anestesia.
Apenas a Alegra não baniu a castração sem anestesia.
“Todas as granjas de terminação já adotaram a imunocastração. A dificuldade é a logística nas granjas de ciclo completo, mas temos a intenção de implantar também, em breve”, afirmou a companhia, em nota à ONG.
No caso do corte da cauda, Frimesa e Seara se comprometeram em parar com a prática. As demais alegaram falta de alternativas viáveis, de conhecimento, experiência prévia negativa ou tentativa mal sucedida e perdas produtivas. “Pedimos que esse processo seja feito com a devida anestesia”, afirma Patrycia.