A dificuldade adicional que Santa Catarina tem para suplantar a falta de milho na alimentação do plantel de suínos e aves é o déficit local na produção. Historicamente o cereal já chega mais caro ao estado. Vem de longe.
Neste ano, o cenário piorou. Os compradores locais competem com o resto do Brasil e com importadores, sem disponibilidade nesta entressafra e com a safra de inverno com promessa de ser menor.
Já não nem mais uma questão de relação de troca, que passou do limite, mas de oferta suficiente para atender as necessidades de “curtíssimo prazo das granjas”, diz José Antônio Ribas Jr, presidente do Sindicarne SC.
A ameaça mais direta é a retirada de alojamento de aves em pouco tempo. Para Ribas, que também preside Acav (produtos de aves), o pinto que vai virar frango vai precisar de milho que não tem.
O estado produz 2,2 milhões de toneladas e consome 7,5 milhões/t, ou seja, o milho local participa com 1/3. E o milho do Mato Grosso é o que vem dominando a alimentação de suínos e aves. E com as cotações de Chicago explodindo, os produtores locais, os maiores do Brasil, estão se comprometeram com exportações.
“O milho do Paraná já vem em menor quantidade, porque aumentou muito o consumo interno, e o do Paraguai, importado, com o dólar está chegando igual ao do Mato Grosso”, afirma Edson Wigger, proprietário do Frigorífico Notable, se carne de porco.
Se historicamente o grão representava em média 70% do custo com alimentação dos bichos – e participa com 80% da dieta dos mesmos -, hoje está acima de 85%.
Saca a R$ 108, em média, como estava sendo oferecida nesta quarta (29), não é coberta pelo R$ 8 do kg do suíno. E o farelo de soja também vinha de alta, amenizada nos últimos dias.
Mas nada disso é muita novidade para Santa Catarina, maior plantel de porco e segundo de frango, mas o principal exportador dos dois. O presidente do Sindicarne SC e da Acav dá um desconto ao mercado para a surpresa desta safra 20/21, que extrapolou qualquer expectativa mais negativa, mas relaciona dois pontos que poderiam ter atenuado a situação.
Um deles é do próprio setor, que demorou em travar compras, fazendo contratos futuros. Ficaram presos no curto prazo.
O outro é a costumeira projeção, sob incentivos estaduais, para aumento da produção de milho. E agora se fala em um novo capítulo, no aumento de 600 mil hectares com cereais de inverno, mas cujo impacto é para 2022 em diante. Se vingar.
É a tal da substituição alimentar, tirando um pouco de milho para entrar com trigo e triticale. “Mas tem que ser grão bom”, acrescenta José Ribas. Trigo quebrado, para baixa panificação, por exemplo, não tem o mesmo valor energético que o milho.
Hoje, no entanto, é impensável. Edson Wigger, do Notable, nem vê essa possibilidade. O Brasil não cobre nem a necessidade de consumo humano. Portanto, importar para dar de comer aos animais é fora de questão, da mesma forma que a importação de milho não funciona para os pequenos produtores.