O Brasil tem ajustado sua legislação sobre doação de alimentos, o papel dos bancos de alimentos e realizado ações de comunicação para mudança comportamental dos cidadãos em relação ao consumo consciente. Foram esses os pontos principais levados por representantes oficiais do país ao workshop dos países do G-20, realizado no último dia 8.
Teresa Barroso, representante do Ministério da Cidadania, informou que no início desse mês o Governo Federal restituiu a Câmara Interministerial de Segurança Alimentar e Nutricional (CAISAN), por meio do Decreto 10713/2021.
Já o analista Gustavo Porpino, que participou do evento on-line pela Embrapa Alimentos e Territórios, considera que, para o G-20, a redução das perdas e do desperdício de alimentos é entendida como um meio para ampliar a oferta de alimentos e ajudar no enfrentamento da insegurança alimentar, um crescente problema global.
“Consideramos a redução do desperdício a ação mais relevante para contribuir com a neutralidade de carbono. É também uma oportunidade de envolver consumidores, compartilhar boas práticas e fomentar cooperações entre os países do G20”, avalia a pesquisadora Laura Rossi, representante da presidência do G-20.
Os encontros dos países em 2021 (https://www.g20.org/rome-summit.html), liderados pelo governo italiano, têm focado no uso eficiente de recursos naturais para diversos setores da economia. “Até o encontro dos líderes do G-20, programado para ocorrer em Roma nos dias 30 e 31 de outubro, diversos diálogos virtuais têm sido organizados para debater temas estratégicos”, informa Porpino.
No último dia 8, o seminário virtual “G-20 Resources Efficiency Dialogue: Consumer food waste” reuniu representantes dos governos membros do Grupo. Foram apresentadas iniciativas pelo Brasil, Arábia Saudita, Austrália, China, Indonésia, Itália, Reino Unido e Turquia sobre estratégias para reduzir o desperdício na etapa de consumo.
Para Marina Otto, coordenadora da ONU Meio Ambiente, os dados sobre desperdício mundial de alimentos, recentemente apresentados no Índice Global de Desperdício de Alimentos (https://www.embrapa.br/busca-de-noticias/-/noticia/59945046/indice-global-do-desperdicio-de-alimentos-da-onu-estima-em-121-quilos-o-desperdicio-de-comida-per-capita-anual), indicam que a problemática é global e não apenas uma prioridade a ser enfrentada pelos países desenvolvidos. “As ações devem ser globais, daí nossa intenção de ter grupos de trabalho regionais focados na implementação de soluções levando em conta os contextos locais”, ressalta Otto.
Pandemia e comportamento do consumidor
Pesquisas recentes da WRAP (Reino Unido) apontam que os consumidores estão mais atentos aos hábitos de consumo de alimentos e há uma tendência de redução do desperdício nas famílias, quando comparado aos níveis anteriores à pandemia. O desafio é saber se pós-pandemia a queda no desperdício percebida irá se sustentar.
“Em abril, os níveis de desperdício eram substancialmente inferiores ao período antes da pandemia, em junho percebemos um retorno dos comportamentos anteriores, mas ainda com níveis de desperdício 25% inferiores ao período pré-pandemia. O papel das campanhas para mudança comportamental positiva é decisivo para seguirmos reduzindo o desperdício”, comenta Claire Kneller, pesquisadora do WRAP.
Segundo Claire, nos últimos cinco anos, o Reino Unido reduziu o desperdício de alimentos entre consumidores em 31%, o que representa US$ 6 bilhões economizados em alimentos por ano. “O interessante é que campanhas educativas e de comunicação, como a Love Food Hate Waste, do Reino Unido, podem ter resultados similares globalmente, por que parte dos comportamentos dos consumidores são similares ao redor do mundo e estratégias podem levar em conta as peculiaridades de cada país”, destaca.
Setor produtivo e governança
Para David Pearson, líder do Fight Food Waste Cooperative Research Center (Austrália), a redução do desperdício de alimentos demanda integração dos diferentes níveis de governo e participação da indústria, inclusive como fonte de recursos para ações de PD&I. A coalizão contra o desperdício, organizada pelo governo australiano, envolve 50 indústrias e 10 instituições de pesquisa. “Captamos 77 milhões de Euros para investir em ações de pesquisa, desenvolvimento e inovação no horizonte 2018 a 2028, e os estados estão engajados em implementar seus planos de gestão de resíduos e combate ao desperdício”, comenta David.