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Economia

Problema está em 2012

O problema de 2011 não é o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) e da inflação no ano em si, mas a sinalização do que ocorrerá em 2012.

O problema de 2011 não é o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) e da inflação no ano em si, mas a sinalização do que ocorrerá em 2012. Essa é a avaliação de Vladimir Caramaschi, economista-chefe do banco Credit Agricole, para quem o ano “era de arrumação depois dos excessos iniciados na segunda metade de 2009”. Para o economista, o governo “cumpriu em parte” essa missão – reduziu os gastos públicos e suavizou o ritmo da atividade, mas a inflação aumentou.

Segundo Caramaschi, a política fiscal expansionista realizada entre 2009 e 2010, como combate à crise, deveria ser revertida em 2011 pelo governo Dilma Rousseff de forma a abrir espaço para eventuais expansões de gastos ao longo de sua gestão. “Isso estava colocado”, diz Caramaschi, “mas o governo fez apenas uma parte da missão”. De acordo com o economista, o governo não aproveitou a desaceleração da economia para reduzir o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).

“Acho que o próprio Banco Central está, de certa maneira, contribuindo para a rigidez da inflação, que continuou elevada ao longo de um ano em que a taxa de crescimento da economia caiu de 7,5% para 3%”, afirma Caramaschi, em referência aos resultados do PIB de 2010 (7,5%) e o que o mercado estima para este ano (3,16%), de acordo com a última previsão coletada pelo Banco Central junto ao mercado. Boa parte da resiliência da inflação, segundo o economista-chefe do Credit Agricole, decorre do mercado de trabalho ainda muito aquecido, uma vez que o incremento da renda interna chancela o aumento de preços, ou o repasse da inflação oriunda do exterior.

Segundo Caramaschi, a mudança na política monetária a partir de 31 de agosto, quando o Banco Central não só parou de elevar os juros, como fazia entre janeiro e julho, como passou a cortar a taxa básica de juros, a Selic, é “até defensável”, mas “é preciso compreender que há benefícios e custos”. Para ele, o benefício mais evidente é o de “permitir” um crescimento do PIB em 2012 um pouco mais elevado, mas o custo é “manter a inflação pressionada, acima da meta, por mais um ano”.

O cenário trabalhado por Caramaschi no Credit Agricole leva em conta um Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 5,5% em 2012, e, devido à política monetária expansionista, ainda uma taxa superior ao centro da meta de 4,5% definida pelo governo para 2013.

“A economia não desacelerou tanto assim em 2011”, avalia Alexandre Schwartsman, ex-diretor do Banco Central e sócio-diretor da Schwartsman & Associados, que vê no forte consumo das famílias, impulsionado pela criação de vagas formais (quase 2,1 milhões, entre janeiro e setembro) e pela alta da massa salarial decorrente dos ganhos nas negociações entre empresas e sindicatos, a mola propulsora do crescimento dos últimos anos. “O consumo doméstico é crescentemente absorvido pela importação, uma vez que a taxa de produção industrial passa por um avanço ridículo”, diz o economista.

Para Schwarstman, a inércia inflacionária brasileira, que explica por que o IPCA permanece pressionado mesmo com a derrubada do crescimento verificada entre 2010 e 2011, não se trata de “um fenômeno intrínseco, mas sim induzido pelo Banco Central”.

Para o economista, o BC abriu mão do controle das expectativas do mercado para a inflação deste ano ainda em agosto de 2010. “Quando o BC resolveu interromper o ciclo de elevação da Selic ele sinalizou ao mercado que o IPCA ficaria acima da meta de 4,5% em 2011”, afirma Schwarstman. “Por isso a estimativa mais otimista do Boletim Focus, ao longo de todo o ano, foi de 5,5%, um ponto percentual acima da meta, o que diz muito sobre o trabalho do BC”.

Para Márcio Holland, secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, não há dúvida de que no ano que vem a inflação deve recuar para patamares próximos a meta definida pelo governo e perseguida pelo BC, de 4,5%, enquanto o PIB deve acelerar, atingindo avanço de 5%. Segundo Holland, o início do processo de recuo da inflação, em outubro, “deixa claro o arsenal de instrumentos que o governo tem a disposição”.

O secretário avalia que o Brasil deve crescer 5% em 2012 porque é um dos “pouquíssimos países com espaço para trabalhar nos campos monetário, fiscal e cambial”. Em outubro, a inflação medida pelo IPCA ficou em 0,43%, abaixo do índice de 0,53 % registrado em setembro

Um graduado economista do mercado, com antiga passagem pelo governo na bagagem, entende que não há “trade off” entre o crescimento econômico e a elevação da inflação. Segundo ele, nem a desaceleração econômica não foi tão radical, uma vez que a base de 2010 era muito elevada, nem a inflação beliscando o teto da meta do BC (que vai de 2,5% a 6,5%) é algo tão dramático. “Enquanto no ano passado havia um otimismo internacional quanto à recuperação, neste ano o cenário externo foi péssimo, o que impulsionou a aplicação de recursos em ativos com tendência de alta, como as commodities, no primeiro semestre, o que elevou a inflação no Brasil”, afirma o economista.

Segundo ele, o ano de 2011 foi “absolutamente atípico”. “Uma parte relevante do mundo, a União Europeia, praticamente derreteu, levando consigo uma série de ativos, deixando poucos, como as commodities, em evidência. Isso tem impacto inflacionário, é inevitável”, raciocina.