Redação (13/01/2009)- Senhor presidente Luiz Inácio Lula da Silva, solicitamos recentemente uma audiência para expor os problemas que o setor de suínos vem enfrentando, bem como apresentar propostas de ações específicas para minorá-los. Provavelmente, Vossa Excelência deve ter julgado sua disponibilidade incompatível com o peso do setor, diante da complexidade econômica do País. Contudo, para os nele envolvidos, os assuntos são altamente prioritários, e muitas das soluções para os entraves que vimos enfrentando dependem exclusivamente da ação do seu governo. Daí a opção por esta carta aberta.
Não se trata de reiterar pedidos de financiamento. Sentimo-nos contemplados com o atendimento aos reclamos de outras lideranças empresariais que já passaram por aí, ainda que os recursos financeiros continuem fluindo muito devagar no caminho até o caixa. As medidas até agora podem ter atendido ao setor financeiro, porém para quem produz ainda são insuficientes.
Precisamos de ajuda nos esforços para a abertura de novos mercados internacionais. A principal barreira para a carne suína é sanitária. Não conseguimos, ainda, convencer os importadores da excelente qualidade e sanidade do produto nacional. Derrubar barreira sanitária exige ação de governo. A negociação é sempre com a autoridade sanitária do país importador. As negociações dependem dos governos. Não há como exportar sem o governo equacionar antecipadamente as barreiras sanitárias.
No caso da suinocultura, as exportações despencaram em novembro e dezembro. Embora nosso grande mercado seja o interno, exportamos cerca de 20% do que produzimos e a perda de parte das exportações é muito prejudicial. As exportações do setor estavam muito concentradas na Rússia, país que nesta crise global está em pior situação do que o Brasil. Não bastassem os problemas que o consumidor russo enfrenta, para o pouco mercado que sobrou o governo da Rússia decidiu privilegiar nosso concorrente, a suinocultura dos Estados Unidos. Tiraram cotas do Brasil e as repassaram para os norte-americanos, justamente neste momento crítico.
Socorro, presidente! Não esperávamos por essa, sobretudo porque o presidente Medvedev nos visitou recentemente. E a tal aliança estratégica, Brics, etc.? Difícil entender o que pode ter acontecido. Sentimo-nos traídos. Impossível deixar passar em branco tal revertério. Precisamos reagir, presidente. Trata-se de um problema para seus ministros pensarem uma solução urgentíssima.
Há, também, outros mercados que podem ser agilizados, que precisam ser priorizados. A crise exige ainda mais rapidez e eficiência, incompatíveis com o ritmo com que as negociações vêm sendo tratadas. Precisamos de um serviço público forte, independente e competente.
Perdemos, com o foco de febre aftosa de 2005, as exportações para a África do Sul. Mais um equívoco, presidente: o boi tem a doença e o suíno paga o preço. O foco da febre aftosa em Eldorado (MS) retirou o Brasil das exportações e nunca mais conseguimos reconquistar as necessárias habilitações sanitárias. Não ter resolvido essa pendência três anos depois é inadmissível, pois é uma questão, apenas, de ação e trabalho. Senhor presidente, a quem devemos recorrer?
No caso do mercado das Filipinas, gastamos o ano de 2008 inteiro com idas e vindas de questionários sobre a sanidade da nossa carne. Precisamos que os veterinários daquele país venham logo e liberem as nossas exportações urgentemente. A vinda de uma missão veterinária em janeiro precisa ser confirmada.
Em relação ao mercado da China, após um longo período de divergências, finalmente temos um protocolo sanitário assinado. Uma missão veterinária chinesa visitou recentemente o Brasil. Estamos na dependência, agora, da fila de atendimento aos processos, que parece nunca andar. Se somos vítimas de uma imensa burocracia, imagine a da China, que é muito maior do que a nossa. O momento, mais do que nunca, exige atenção e prioridade.
Convencemos o Japão de que merecemos atenção. Enviaram extenso questionário como passo fundamental para possível abertura do maior mercado do mundo. O questionário está sendo trabalhado pelo Ministério da Agricultura e precisará ser enviado a Tóquio o mais rápido possível, com um especial pedido de atenção e recomendação para que sua análise seja acelerada.
O atraso nas negociações com a União Europeia, sobretudo devido à confusão com a carne bovina, pode ser facilmente revertido numa próxima missão veterinária. Uma palavra pode antecipar muito essa tão esperada visita. O mercado europeu, embora com acesso regulado por cotas, representa importante chancela de qualidade para a carne suína brasileira. A cota de 40 mil toneladas, embora pequena no longo prazo, representaria uma conquista em 2009.
Em relação aos Estados Unidos, a administração Bush enviou seus técnicos em junho, que deveriam ter concluído estudos, iniciando um longo processo de consulta pública em Washington. Acreditamos que a chegada à Casa Branca do presidente Obama e sua equipe não atrapalhe, mas marcar uma posição sempre é conveniente.
Há mercados menores, não quero aqui aborrecê-lo com detalhes, mas todos exigem, além de atenção e prioridade, disposição para resolvê-los. Há muito que se fazer. Trata-se, antes de tudo, de vontade política. Insistimos: a crise, que chegou forte e antes da hora, está a nos exigir muito mais trabalho e competência. Não é o momento de desperdiçar esforços, ao contrário, temos de somá-los. De nossa parte, temos tentado o possível e gostaríamos que nossas ações se pudessem agregar à iniciativa do governo. Colocamo-nos à disposição para o que for necessário ao bem comum.
Respeitosamente,
Pedro de Camargo Neto *
*Pedro de Camargo Neto, engenheiro de produção, é presidente da Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs)