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EXPECTATIVA

Suinocultura em 2024: desafios e oportunidades em meio a variações climáticas e competição global

Suinocultura em 2024: desafios e oportunidades em meio a variações climáticas e competição global

O setor de suínos no Brasil enfrenta um cenário desafiador e ao mesmo tempo promissor para o próximo ano, de acordo com análise do Rabobank. O movimento de descarte de matrizes, que foi uma estratégia para redução de custos, desacelerou em comparação ao ano anterior, contribuindo para a sustentação da oferta em 2023.

Para 2024, a expectativa é de uma nova safra recorde de grãos, o que manterá elevados os níveis de oferta no mercado doméstico. Isso, por sua vez, deverá sustentar as cotações da ração nos patamares observados no segundo semestre deste ano. Vale ressaltar que os preços da ração representam entre 70% e 80% dos custos de produção na suinocultura.

O Rabobank destaca a importância de atenção especial às questões climáticas relacionadas ao El Niño, especialmente na região Sul do Brasil, onde o excesso de precipitação tem impactado negativamente a janela de plantio da soja, um dos principais componentes da ração.

No que diz respeito às exportações, o setor suinícola brasileiro apresenta um ritmo forte de recuperação em comparação ao ano anterior. Até setembro, houve um aumento de 11% em volume e 17% em faturamento em comparação ao mesmo período do ano anterior. A China permanece como o principal destino, representando 35% do total embarcado, e o Brasil se consolidou como o maior exportador de carne suína para o mercado asiático, com uma participação de 26%.

Apesar do sucesso nas exportações, o mercado doméstico apresenta desafios. A demanda por carne suína tem registrado uma leve melhora no consumo ao longo deste ano, impulsionada pelo aumento na procura por produtos processados e embutidos, aliado aos menores preços na segunda metade do ano. Contudo, em 2024, a oferta ainda sustentada em níveis elevados de carne bovina pode representar um desafio para a competitividade da carne suína, não apenas devido à menor diferença de preços, mas também devido ao forte apelo cultural pela carne bovina em parte da população local.

O Rabobank projeta um incremento adicional na oferta de suínos de 3% a 4% em 2024, impulsionado pelo aumento no consumo per capita e pelas exportações, que devem recuperar de 3% a 5% o volume embarcado em comparação a 2023.

Os riscos sanitários globais, como a Peste Suína Africana (PSA) e a Síndrome Respiratória e Reprodutiva Suína (PRRS), continuam sendo pontos críticos de atenção para o setor, mas também oferecem oportunidades para as exportações brasileiras, dada a alta competitividade no mercado internacional. Além disso, os custos com alimentação, especialmente em relação aos riscos climáticos associados ao El Niño, permanecem como fatores essenciais a serem monitorados pela produção suinícola.

Perspectivas para a produção e exportação

O panorama global da produção de carne suína sinaliza um cenário de mudanças em 2024, com o Brasil se destacando como exceção. Enquanto os três maiores produtores – China, União Europeia (UE-27) e Estados Unidos – enfrentam expectativas de redução na oferta, o Brasil projeta um aumento de 3,5% na produção, consolidando-se como o quarto maior produtor mundial.

A persistência da Peste Suína Africana (PSA) mantém-se como um desafio global, apesar dos avanços na busca por uma vacina comercialmente eficaz. Na China, um mercado que experimentou uma expansão robusta da produção desde 2021, os preços do suíno vivo foram sustentados por liquidações frequentes de matrizes devido à PSA. No entanto, a demanda local, considerada fraca, resultou em um período prolongado de perdas de margens para os produtores.

Projetando um aumento nas importações chinesas entre 8% e 10% em 2024, espera-se uma recuperação do consumo interno e uma diminuição gradual dos estoques nacionais de carne suína. Na UE-27, a tendência de redução na produção desacelera, com uma queda projetada de 3% no próximo ano, influenciada pela melhora nas margens dos suinocultores.

O Reino Unido, impulsionado pela expectativa de melhorias nas margens de produção, prevê um aumento de 2% na oferta em comparação ao ano anterior. Nos Estados Unidos, no entanto, antecipa-se uma ligeira contração no rebanho de matrizes suínas devido às dificuldades enfrentadas ao longo deste ano, incluindo custos elevados e perda na capacidade de processamento em frigoríficos de menor escala.

Apesar da expectativa de redução nos preços da ração, os custos de produção devem permanecer elevados, mantendo as margens pressionadas até que a oferta alcance um equilíbrio mais estável em relação à demanda. No Brasil, a desvalorização nos custos de alimentação, o aumento nas exportações e a demanda doméstica sustentada contribuíram para melhorias nas margens de produção, especialmente a partir do segundo trimestre, beneficiando também os produtores independentes.