O momento é bom para o produtor agrícola do Paraná, mas ao mesmo tempo desafiador. A parte positiva é que os preços dos grãos nunca estiveram tão altos. A negativa é provocada por uma crise hídrica inédita, que já dura dois anos. “Estou há 43 anos nessa área. Minha origem é na economia rural, sempre produzindo números. E posso dizer que nunca vivi uma crise igual a esta”, comenta o secretário da Agricultura e Abastecimento, Norberto Ortigara. “O efeito foi nefasto em 2021 para a soja, o milho e o feijão.”
A falta de chuvas provocou problemas em cadeia: atrasou o plantio da soja, diminuiu a produtividade e impediu o cultivo da segunda safra de milho, que é feito em regime de rodízio em boa parte das propriedades.
Além da seca, o Paraná tem enfrentado um problema sanitário novo com a disseminação do enfezamento, doença transmitida pela cigarrinha-do-milho que prejudica o fluxo da seiva e atrasa o crescimento dos milharais. Em algumas regiões, a combinação da praga com a seca levou a perdas de até 70% nessa cultura, que é a segunda maior do Paraná.
Pelo lado positivo, os dados do Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria da Agricultura mostram que o preço médio pago ao produtor de soja atingiu um pico histórico em maio: R$ 159,74 por saca de 60 quilos, 70% mais que no mesmo mês do ano passado e quase duas vezes e meia o valor pago em abril de 2019. O mesmo ocorre com o milho – R$ R$ 91,38 por saca, 43% mais que em dezembro de 2020 e 127% mais que em maio do ano passado.
A safra de grãos impulsiona os números gerais do Estado. Os produtos do campo respondem por 83% das exportações paranaenses. No ano passado, o PIB do setor agropecuário subiu 15,32%, o que serviu para amenizar as perdas registradas pela indústria (-3,14%) e pelos serviços (-3,49%), de acordo com o Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes).
O agronegócio em geral totaliza um terço do PIB local, incluindo aí não apenas a produção agropecuária, mas também a produção de insumos e bens de capital destinados aos produtores, bem como o processamento e distribuição dos produtos e seus derivados.
O Paraná é um mar de soja. “Temos 5,6 milhões de hectares plantados com soja”, conta Ortigara. “Equivale a 28% do nosso território”. Com os preços em alta, a tendência é que a economia do Estado se mantenha acima da média brasileira. O Valor Bruto da Produção de 2020 ainda não está fechado – os dados devem ser divulgados em julho -, mas deve superar pela primeira vez os R$ 100 bilhões. E Ortigara prevê que os números de 2021 deverão vir com aumento de 20%, totalizando algo próximo a R$ 120 bilhões.
Esse mar de soja está mais seco que de costume. Na safra 2019/2020, o dano causado pela seca não foi tão grande porque, embora poucas e irregulares, as chuvas coincidiram com momentos decisivos para a cultura de soja e para o milho de segunda safra, como a florada e a formação do grão. Com isso a safra de grãos atingiu 40,57 milhões de toneladas, a segunda maior da história (o recorde está com 2016/17, com 41,67 milhões de toneladas). A safra 2020/2021 está estimada em 38 milhões de toneladas. A redução ocorre apesar de um aumento de 3% na área cultivada.
De olho na integração entre a indústria e a lavoura, um grande número de investimentos está sendo gestado no Paraná. Boa parte vem de grandes empresas, como BRF e JBS, e das cooperativas agropecuárias. Mas um montante relevante vem dos próprios produtores, que aproveitam os momentos favoráveis para investir na propriedade. O produtor Carlos Luhm, de Guarapuava, na região Centro-Sul do Estado, planta anualmente de 350 a 400 hectares de soja, e reveza a cultura com milho de inverno e trigo. Ele celebra os bons preços, mas observa que a lucratividade da lavoura não foi alta, porque os custos de produção também subiram. “No ano passado, comprei adubo a R$ 1.800 a tonelada. Neste ano, o mesmo produto está custando R$ 4.200 a tonelada”, relata. Com previsões de mais alguns meses de clima desfavorável, Luhm acredita que a gestão dos custos fará a diferença entre o lucro e o prejuízo para o produtor paranaense. “Quem não antecipou compras pode ter muita dificuldade”, opina.
Salatiel Turra, chefe do Departamento de Economia Rural (Deral), confirma que a alta dos custos impede o agricultor de se capitalizar. Levantamento do Deral mostrou que o custo médio para produzir uma saca de soja foi de R$ 66,26 para a safra 2020/21, contra R$ 64,08 no período anterior.